Durante a quarentena, dentre as muitas preocupações dos pais, a paralisação das escolas é talvez uma das mais relevantes, principalmente quando os filhos estão em fase de alfabetização. Mas, muito embora essa preocupação seja legítima, eu gostaria de convidá-los a pensar que a alfabetização não começa na escola. Na verdade, ela tem início quando a criança ainda é um bebê. Afinal, desde que nascemos, vivemos em um mundo rodeado por palavras, sons e letras. E, é neste ambiente de convivência que temos espaço para o que chamamos de alfabetização informal (enquanto a formal é a alfabetização que ocorre na escola). As duas são complementares e muito importantes para o desenvolvimento da criança.
A alfabetização informal ocorre, por exemplo, quando os pais leem um livro para o filho ou cantam uma música. Tendo em vista que as nossas letras do alfabeto são símbolos que usamos para nos comunicar, ler e escrever nada mais quer dizer do que decodificar os grafemas( letras) e fonemas( sons) e colocá-los em uma ordem que forme uma palavra ou sentença.
Repare como o bebê demonstra curiosidade pelos sons quando ouve os pais falando e tenta repetir. Eles também adoram ouvir histórias e conseguem perceber os símbolos e os sons das letras. Por volta dos 3 anos uma criança, normalmente, já consegue inclusive reconhecer as letras do próprio nome e até algumas palavras.
Por isso, os pais podem ficar um pouco mais despreocupados, pois mesmo com as escolas fechadas, o processo de alfabetização continua todos os dias.
Aqui vão algumas dicas para que os pais estimulem a alfabetização informal em casa:
- Providencie papéis de diferentes texturas, giz de cera, canetas hidrográficas grossas e deixe à disposição do seu filho para que ele treine e tenha um espaço para praticar as suas hipóteses de escrita. Isso não quer dizer o seu filho vai começar a escrever letras para formar palavras que fazem sentido para ele. Essas são apenas as hipóteses de escrita. Não precisa ser o dia inteiro. Basta 30 a 50 minutos por dia.
- Uma maneira de facilitar a associação dessa escrita “hipotética”com a grafia correta da palavra é escrevendo corretamente a palavra perto da hipótese do seu filho. Não é necessário dizer que como ele fez está errado. Aceite as hipóteses e incentive a escrita.
- Quando for ler um livro para ele, lembre-se de sempre apontar para objetos . Faça a ligação entre som e figura.
- Quando for cozinhar com o seu filho, escreva a receita em um papel grande e, de preferência, com a figura do lado. Aponte para cada ingrediente e também para as quantidades.
- Cante com o seu filho músicas infantis que todos conhecemos e siga a letra apontando para as palavras.
- Faça a lista de compras de supermercado com o seu filho. Escreva com ele. Se ele quiser se arriscar a escrever uma palavra, deixe e incentive.
- Quando estiver no carro, ou a pé, aponte para letreiros ou sinais de trânsito e leia em voz alta.
- Quando o seu filho fizer um desenho, peça para que ele conte o que é ( ou o que está acontecendo) e nomeie escrevendo na frente dele cada objeto/pessoa ou ação.
- Incentive o seu filho a escrever um bilhete se estiver com saudades dos avós ou dos amigos de classe. Ele pode desenhar e ditar o que quer dizer. Deixe que ele se aventure a escrever uma ou outra palavra. Não se preocupe se não estiver correta.
- Faça jogos de memória, associando a palavra e o desenho da palavra.
- Rotule na sua casa alguns objetos de uso da criança como na gaveta de meias, camisetas, lápis, revistas, livros e escreva o nome do seu filho em alguns locais.
Lembre-se de garantir que a alfabetização ocorra dentro de um ambiente alfabetizador. E já que todos vivemos em um ambiente repleto de letras, sons e palavras desde que nascemos, use e abuse desse recurso para estar ao lado do seu filho neste momento tão especial.