Presente em grande parte das vivências infantis, os amigos imaginários nada mais são do que uma manifestação do “faz de conta” das crianças. Trata-se de um processo comum durante a fase lúdica, onde os pequenos conversam e brincam com essas figuras invisíveis. Tão presente na rotina das crianças, muitas vezes elas até escolhem um lugar na mesa para esses “amigos” nas horas das refeições.

De acordo com psicóloga infantil e neuropsicóloga Larissa Vieira de Lima Gonçalves, não existe uma idade certa para o início e fim dessa fase. “Porém, através de estudos, pode-se perceber que a faixa etária mais comum do surgimento dos amigos imaginários acontece entre os 3 e 4 anos e costumam se despedir entre os 8 e 10 anos de idade. Ainda assim, vale ressaltar que os amigos imaginários podem durar dias, meses ou anos”, explica.

Larissa ainda ressalta que os amigos imaginários são seres criados pelas crianças, mas que não existem, são invisíveis. E não necessariamente são pessoas, podem ser animais, personagens e até objetos. “Muitas crianças criam a partir de um personagem que gostam muito ou de algum brinquedo. Mas é algo que pertence ao imaginário da criança, não precisando ter muita especificidade”, pontua.

E foi exatamente a partir de um personagem que Maria Clara, de 3 anos, criou seu amigo imaginário. A mãe da pequena, a administradora e estagiária de pedagogia Mariele Giubbina Mendes, 35 anos, conta que o E.T, do filme “O Extraterrestre”, é o amigo da filha.

“Um dia, quando estávamos nos preparando para dormir, eu coloquei em um canal da TV aberta e estava passando o filme do E.T. Eu achei que ela iria ficar com medo, porém ela interessou muito e só conseguiu dormir quando o filme terminou, mais de meia noite. A partir daí ela apaixonou pelo E.T”, lembra.

Depois de alguns dias, a família a notou conversando sozinha e perguntaram com que a menina falava. “Para nossa surpresa, ela disse que era o E.T. No caso “T”, como ela o chama. Ela descreve ele como se fosse igual do filme mesmo, fala que ele tem um pezão e acha que ele é de borracha. Ela acha ele uma graça”, acrescenta.

 Desde, então, Maria Clara conversa e brinca constantemente com o amigo. “Às vezes brigam também, ela chora que o ‘T’ está fazendo algo que ela não gosta, mas daqui a pouco já estão brincando novamente”, conta. E nessa nova dinâmica, Mariele afirma que a família lida da forma mais normal possível. “Inclusive, quando ela reclama dele, nós entramos na brincadeira e fingimos que estamos conversando com ele também”, ressalta.

Segundo a psicóloga infantil e neuropsicóloga Larissa, mães e pais devem respeitar o amigo imaginário e aceitar como um novo membro da família. “A família precisa respeitar que há esse amigo, evitando ‘pisar’ nele ou ‘sentar’ onde ele está. Não é necessário deixar de fazer o que era previsto por causa do amigo, mas sim tentar conviver com esse novo integrante por algum tempo”, orienta.

 

Mas você sabe porque algumas crianças criam essas figuras invisíveis?

Antes de tudo, é preciso compreender a fase de desenvolvimento em que a criança está passando. A psicóloga infantil e neuropsicóloga Larissa Vieira de Lima Gonçalves explica que até os 2 anos, os baixinhos ainda não conseguem compreender que existe algo que ela não esteja visualizando. “Nessa fase, o egocentrismo é muito forte. O pensamento é voltado só para ela e ainda não há a capacidade de representação. Então, para uma criança de até 2 anos, só é real aquilo que ela consegue perceber através dos sentidos”, exemplifica.

Somente após essa idade é que a criança começa a compreender que existem objetos, lugares e pessoas, mesmo que ela não esteja vendo. “A entrada ao campo do simbólico, como chamamos, se dá através da linguagem. Entre os 3 e 4 anos a criança já possui essa capacidade de representação mental, de visualizar algo mesmo que não esteja ao seu alcance”, afirma. 

É neste contexto que pode surgir o amigo imaginário. De acordo com a profissional, o amigo imaginário é criado para ser um companheiro nos momentos em que a criança está sozinha para brincar e fazer outras atividades. “Não são todas as crianças que possuem um amigo imaginário, algumas não se interessam mesmo ou não sentem essa necessidade e/ou vontade. Não há uma regra para a imaginação da criança, varia de uma para a outra”, ressalta.

Agora, para as crianças que criam esse faz de conta, geralmente não há nenhum prejuízo para o desenvolvimento infantil. “A maioria das crianças, ao criarem seu amigo imaginário, sabe que ele não é real mas, sim, inventado. Ele pode ser uma importante fonte de conforto emocional quando a criança passar por dificuldades, mudanças ou traumas. Ou, ainda, apenas uma companhia para as brincadeiras”, esclarece. 


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