Um levantamento realizado pela agência de dados Fiquem Sabendo, especializada no acesso a informações públicas, revelou que o Brasil registrou a pior cobertura vacinal infantil em 25 anos. A pesquisa sistematizou estatísticas de nove vacinas, dentre as mais importantes para crianças de até dois anos, a partir de 1994.

Os dados mostram que a vacina contra a poliomielite, por exemplo, que ultrapassou 100% de cobertura entre 2000 e 2009, caiu para 75,97%, em 2020. O imunizante BCG, contra a tuberculose, atingiu apenas 73,8%, sendo que até 2015 já tinha alcançado 100% do público-alvo.

Especialistas afirmam que a pandemia contribuiu para a queda nos números de imunizações de crianças. Entretanto, o movimento antivacina e as informações falsas espalhadas na internet já estavam provocando uma baixa cobertura vacinal, antes mesmo da chegada do coronavírus.

Um exemplo disso é a volta do sarampo, que tinha sido erradicado no território nacional em 2016, mas em 2018 voltou a ter casos no país. Vale lembrar que se trata de uma vacina que está disponível gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde.)

Quais os riscos para uma criança que não é vacinada?

De acordo com a infectologista Mariana Tassara, que é mestre em medicina tropical e saúde pública, as crianças que não recebem as vacinas disponíveis no SUS estão susceptíveis à várias doenças, sendo que muitas podem se manifestar de forma grave e levar à morte. “A varicela, por exemplo, pode complicar e necessitar internação levando à óbito, assim como as meningites”, afirma.

Sem as imunizações, os pequenos também correm o risco de ter mais otites e pneumonias. Outro fator é que a baixa cobertura vacinal infantil contribui para o surgimento de surtos de doenças que já estavam erradicadas, como é o caso do sarampo.

“Com a queda da vacinação, a gente pode ter surtos em creches e escolas. Essa queda da vacinação infantil é um índice muito ruim e bem grave, que pode levar crianças a óbito. Mas é ruim também na questão da saúde pública, pois aumenta o número de internações de doenças totalmente preveníveis, que há muito tempo estão no programa de imunização”, destaca.

Baixa cobertura vacinal infantil afeta toda a sociedade

O aumento do número de crianças não vacinadas atinge também os adultos. A infectologista Mariana Tassara explica que adultos que tomaram a vacina contra o sarampo na infância, por exemplo, atualmente podem ter os anticorpos baixos para a doença, o que é algo bastante comum. Ao ter contato com uma criança contaminada, é possível também manifestar a doença.

“Podemos ter surtos de doenças virais nos adultos, como sarampo e caxumba. Os adultos podem pegar catapora da criança, que é a varicela, e no adulto é uma doença bem grave. Ou seja, a não vacinação infantil não acarreta só as doenças na criança. Afeta os adultos e expõem os idosos”, acrescenta.

A partir do desenvolvimento das vacinas contra o coronavírus, teve início uma ampla discussão sobre a segurança das vacinas, preocupação que era pouco debatida na sociedade antes da pandemia.

Segundo a infectologista Mariana Tassara, todo estudo de vacina passa por quatro fases. O processo inclui descobrir se o imunizante faz efeito, se é seguro e qual a eficácia. “Nenhuma vacina é liberada por um órgão público, em nenhum país do mundo, se não for segura. O principal pilar de uma vacina é a segurança”, pontua.

A médica ainda ressalta que as vacinas, assim como as medicações, podem ter efeitos colaterais, mas geralmente são leves na minoria da população. As reações das vacinas infantis costumam ser dor local e febre.

Há casos de crianças e adultos que não podem tomar vacinas, porém Mariana ressalta que são poucos os casos. “Algumas vacinas são cultivadas no ovo e se a pessoa tiver reação alérgica grave ao ovo não pode tomar. Crianças que fizeram reação anafilática a algum tipo de vacina é contraindicado a próxima dose”, explica. Crianças imunossuprimidas também não podem tomar vacina de vírus vivo, pois têm a imunidade mais baixa.

Fonte: Projeto Colabora 

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