A exaustão de acordar muitas vezes na madrugada para amamentar, os inúmeros despertares para verificar se o bebê está respirando ou simplesmente a vontade de estar sempre bem pertinho da cria são os principais motivos que levam muitas mães e pais a optarem por fazer a cama compartilhada, ainda nos primeiros meses de vida dos filhos e/ou filhas. O que realmente facilita muito o início da maternidade e da paternidade, começa a gerar dúvidas com o passar do tempo. Afinal, a criança vai crescendo e, além de já não ser mais tão confortável assim para os adultos, muitos pais ficam com receio de atrapalhar o desenvolvimento dos filhos.
A psicóloga perinatal e parental Priscila Brasco, que é mestra em psicologia e saúde, explica que os bebês realmente se sentem mais seguros ao perceber que os cuidadores estão dormindo por perto e que, conforme vão crescendo, a autonomia da criança se desenvolve naturalmente. “Se o apego for construído de maneira saudável a ponto de tornar-se seguro, a criança começará a dar sinais de que quer ficar no seu quarto e precisará de um mínimo de incentivo para que essa transição ocorra”, afirma.
De acordo com a profissional, não existe uma idade definida como a ideal para que este processo inicie, mas geralmente ocorre por volta dos 3 anos. E foi exatamente nessa idade que a filha da professora Monize Bezerra, de 33 anos, passou a dormir na própria cama. “A Milena dormia na nossa cama desde bebê. Tentamos algumas vezes incentivá-la a dormir no quarto dela, mas ela sempre acordava e ia para nossa cama. Quando fez 3 anos, ela disse que queria dormir no quarto dela. Foi assim, naturalmente”, conta. Monize ressalta que, às vezes, a menina acorda e chama pela mãe, mas depois volta a adormecer no próprio quarto.
A psicóloga Priscila esclarece que não é possível afirmar que dividir a cama com a criança traz benefícios ou prejuízos para o desenvolvimento infantil, uma vez que é uma escolha particular de cada família. “Não é possível generalizar, inserindo juízo de valor (como têm ou não têm benefícios), os filhos dormirem com os pais quando já não são mais bebês. Cada família é singular, por isso torna-se necessária uma avaliação individual, de cada caso, como forma de verificar os motivos pelos quais a criança ou os pais não estão conseguindo deixar de dormirem juntos”, pondera.
Ela ainda enfatiza que os possíveis prejuízos psicológicos apresentados por uma criança que dorme com os pais não podem ser atribuídos, exclusivamente, à cama compartilhada. “Uma família que sempre fez cama compartilhada e está passando por situação de separação conjugal aos 3 anos da criança. Esta é uma fase potencial para se fazer a transição para o quarto. Pode acontecer de o pai ter ido embora e a criança sentir falta do pai”, exemplifica. A profissional destaca que, nessa situação, o que causa prejuízo para o desenvolvimento emocional não é fato de compartilhar a cama, mas a separação do casal ou o abandono de um dos genitores.
“É importante que os adultos possam observar se seus conflitos internos não estão impedindo o processo de transição dos filhos para a própria cama. Este cuidado é essencial para que o desenvolvimento de autonomia da criança possa se dar de forma saudável, promovendo segurança que perdurará em vários âmbitos da vida dela”, recomenda.
Como fazer a transição para o quarto da criança de maneira tranquila?
A primeira dica da psicóloga perinatal e parental Priscila Brasco é para incentivar a criança a utilizar os espaços do quarto durante o dia. Permitir que a soneca e as brincadeiras aconteçam nesse ambiente, facilitará para que os pequenos criem um vínculo com o local, deixando de ser encarado como um lugar estranho.
“Criar rotina de sono, com a companhia de um adulto lendo histórias, fazendo cafuné ou outro ritual à escolha da família até a criança adormecer, também pode ajudar neste processo, sempre avisando a ela que estarão no quarto ao lado, disponíveis para qualquer coisa que ela precisar, caso acorde durante a noite”, orienta.
Ainda de acordo com a psicóloga, também podem auxiliar nesse processo a utilização de abajur ou luminária para minimizar a possibilidade de a criança sentir medo, assim como algum objeto que se proponha a representar os cuidadores, como bichinhos de pelúcia, naninhas ou qualquer objeto que a própria criança escolher. “Geralmente, essas condutas são suficientes para que o processo de transição da cama compartilhada para a cama individual aconteça de forma tranquila, caso não haja outros atravessamentos que impeçam este momento”, completa.
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