A partir dos 2 anos, é comum as crianças começarem a imitar as falas, gestos e comportamentos das pessoas com quem convivem. Porém, entre 3 e 4 anos, a imitação torna-se ainda mais marcante. E, muitas vezes, os baixinhos e baixinhas acampam reproduzindo em casa, a partir da lembrança , aquilo que experimentaram na escola ou viveram com os primos na casa da avó, por exemplo. Algumas imitações são engraçadas e arrancam gargalhadas dos pais. Porém, muitas vezes, a família pode não concordar com o comportamento ou com a fala reproduzidas pela criança.
Mas, afinal, por que as crianças imitam o comportamento de outras pessoas? De acordo com a psicóloga clínica infanto-juvenil Gabriela Pires, nessa faixa etária as crianças estão começando a entender que os indivíduos são diferentes e começam a construir sua própria personalidade. “O imitar permite que elas reconheçam suas dificuldades e limites. Dessa maneira, elas vão aprendendo a como solucionar seus problemas, como agir diante de diversas situações, por isso, quanto maiores, menos evidente são esses comportamentos de imitação, pois cada um vai constituindo sua personalidade, maneira de ser e ver o mundo”, explica.
A profissional ainda afirma que a imitação faz parte do desenvolvimento infantil e tem grande importância neste processo. “A imitação tem grande impacto nos diversos âmbitos da aprendizagem da criança: na fala, no agir, no pensar, nos cheiros, paladar, olfato, imaginação e audição. É no imitar que a criança se desenvolve, vai descobrindo o mundo. Por exemplo, a criança vê o colega jogando uma bola para cima e vai fazer igual. Ela está aprendendo a pensar sobre tempo, velocidade, força e espaço”, exemplifica.
Segundo Gabriela, a criança experimenta tudo pela primeira vez e o imitar permite que ela conheça novas emoções, sentimentos, limites e, também, sobre o certo e o errado. “Tudo que ela vê, sente, experimenta, entra em contato, ela busca dar um sentido, um significado. Dessa forma, é importante que ela tenha bons exemplos a serem seguidos, já que a imitação acontece constantemente na vida dos pequenos”, recomenda.
Saiba o que fazer quando seu filho entrar nessa fase
Seja a fala ou o comportamento, *Yasmin, de 3 anos, quase todos os dias imita alguma criança ao chegar da escola. E essa reprodução é algo que desagrada a mãe da pequena, a educadora física *Isabela Souza, de 35 anos. “Eu perco a paciência, porque ela volta muitas vezes falando errado, como bebezinho. E muda até o choro”, desabafa.
Isabela conta que, na maioria das vezes, sente-se incomodada por ver a filha com comportamentos que ela reconhece em outros amigos e amigas que convivem com Yasmin. “Eu fico nervosa, não gosto que ela fique imitando, porque a sensação é que regrediu o comportamento. Fica mais difícil lidar no dia a dia”, explica.
Nessas situações, a recomendação da psicóloga Gabriela Pires é para os pais agirem com naturalidade e acolher as necessidades dos filhos.
“É pela imitação que eles aprendem sobre o mundo, começam a criar sua identidade, a entender seus sentimentos em relação às coisas novas, seus limites. Por isso acolha, ajude-o a compreender o mundo, reconhecer suas emoções e como lidar com elas da melhor maneira”, orienta.
De acordo com a profissional, a família também deve agir de forma firme e gentil quando entendem a imitação como algo desrespeitoso. “Os pais são os maiores exemplos para seus filhos. Dessa forma, se eles chegam em casa da escola, por exemplo, demonstrando um comportamento ou falando sobre algo que aprenderam com os seus coleguinhas que não é legal, os pais devem intervir de forma acolhedora e sem julgamentos”, pondera.
Mesmo sendo difícil para algumas mães e pais manterem a calma e a paciência durante essa fase da imitação, Gabriela ressalta que a melhor conduta que os adultos devem ter é não brigar com a criança. “A criança aprende melhor quando se sente segura, dessa forma, não brigue, não julgue e fique atento às suas expressões corporais e faciais. Mostre de forma calma e firme para a criança o porquê aquele comportamento ou fala não é legal”, recomenda.
Outra dica da psicóloga é para os pais e mães oferecerem espaço de fala aos pequenos e, juntos, pensarem em outras formas de lidar com a imitação. “É importante que a criança participe ativamente do seu processo de aprendizagem”, enfatiza.
* A pedido da fonte, as identidades de mãe e filha foram preservadas.
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