A hora é de ficar em casa. Mas isso não quer dizer pra deixar de ver a família e conversar com os amigos – pelo contrário: com um pouco de esforço e muita criatividade, podemos aprofundar relações, estreitar laços e manter nossa vida social ativa e feliz.

Nas últimas semanas, temos vivido uma realidade que tem testado – ao extremo –  nosso poder de adaptação e, muitas vezes, aumentado nosso medo e ansiedade. E isso pode ser ainda mais acentuado nas mentes das crianças: afinal, proteger-se de um vírus, invisível e alastrador não é fácil para ninguém, sobretudo para os pequenos. A ideia de uma doença solta pela cidade matando milhares de pessoas no mundo pode ser assustadora – então, é fundamental ajudarmos nossos filhos e alunos a lidarem com suas inseguranças e manterem a saúde mental.  

Um dos pontos principais – e mais desafiadores – dessa quarentena é estarmos fisicamente separados. A distância física é indispensável nesse momento e a recomendação de apenas sair de casa para o absolutamente essencial continua em vigência. Mas, cuidado! Apesar de longe, temos que encontrar meios de estarmos próximos, já que em todas as cultura raças, idades e gêneros, os seres humanos tem necessidade de contato social e conexão emocional com outras pessoas para ter uma vida saudável e feliz. Por isso, é vital mantermos os laços afetivos – nossos e de nossos filhos – com o mundo exterior e colocar empenho para manter as pessoas participando das nossas vidas. Por tudo isso, alguns especialistas tem preferido chamar essa atitude de distanciamento físico – e não social.

Para Patrícia Fraia, psicanalista e membro do Instituto Sedes Sapientiae e especialista em atendimento de crianças em jovens, “É fundamental que as crianças mantenham o círculo com os amigos, com os avós e a família nesse momento. Não sabemos quanto tempo vai durar essa quarentena, e sentimos falta um do outro.  A convivência é super importante e não é porque estamos fisicamente distante que temos que estar distante emocionalmente. A presença emocional e os corações unidos fazem bem.” 

O psicólogo e professor-assistente do Texas Tech University Joseph Currin concorda. E ressalta que muitas pessoas tem experimentado um sentimento de perda, por conta das experiências que eles estavam esperando e não aconteceram – festas, comemorações, viagens, encontros, cursos – além da falta dos amigos do trabalho e da escola. Por isso, é importante lembrar de tentarmos manter as relações fortes e sadias e não congelar seus contatos – apenas usar a criatividade para driblar a distância. “Estamos falando de distância física, não social”, reitera Currin. “Precisamos manter o contato social, as conexões emocionais.”

Outro ponto importante, segundo o psicólogo, é aceitar que o momento é difícil e está longe de ser algo próximo do normal. Saber disso e permitir-se ter dificuldade com a situação  enquanto você busca uma normalidade na sua vida é aceitável. “A expectativa é que a gente seja perfeito e tire isso de letra. Mas é permitido ficar irritado e frustrado. Fale disso com alguém, escute, troque ideias. Assim, todos nos sentimos acolhidos e compreendidos.” Currin afirma que é importante lembrar: mesmo fisicamente isolado, você não precisar estar sozinho. “Estamos todos vivendo isso juntos, mesmo que separados. Temos que estar um pelo outro, numa rede de apoio e suporte.”

Então, se ficar em casa é a única opção nesse momento – e salva vidas – aqui está o que pode ser feito para amenizar a saudade. 

 

Compromisso na agenda

Programe, na agenda do dia – assim como a hora de estudar, comer e tomar banho –   momentos de interações sociais, hora de conectar-se com amigos e família. Se está na agenda, é mais fácil de não esquecermos.

 

Bate-papo na tela

Joseph Currin recomenda termos o maior número de contatos virtuais face a face possível. Ver pessoas – mesmo que pelas telas – é essencial para passarmos por esses dias de quarentena. Use FaceTime, Skype, Microsoft Teams and Zoom. “Minha vizinha, avó de 4 netos, lê todo dia uma historinha na câmera para eles. Foi a forma que ela encontrou de se manter próxima deles e eles dela, apesar da distância física. Sei também que alguns jovens estão marcando happy hours virtuais. É válido – uma forma de estarem juntos, conversando, brincando, contando de suas vidas” afirma Patrícia Fraia. 

 

O velho e bom telefone

A internet caiu? Os avós não se dão bem com a câmera? Ligue ou encoraje seu filho a telefonar para a família que está longe ou perto, ou ainda mandar mensagens de texto para os amigos. Nada como uma longa conversa – teclada ou falada –  pelo telefone.

 

Brincadeira à distância

Para os menores, apenas ligar a câmera e brincar junto já vale. Para os maiores, jogar jogos de tabuleiro, fazer desafio de desenhos, forca, bingo, “Stop”, ou vídeo games juntos pode ser um momento gostoso de distração e reconexão com os amigos. 

Camila Lebski, mãe de Thomas, de 3 anos,  diz que incluiu na semana do pequeno momentos para ele brincar com o melhor amigo, que costumava ver sempre antes da quarentena. “Ligamos a câmera e eles se vêem, cada um brincando com suas coisas, como faziam antes. Eles amam! Tento manter a maior normalidade possível no meio dessa loucura toda.”

 

Cartas ou e-mails

Escrever para parentes e amigos pode estreitar laços e estimular a criança a colocar no papel o que está sentindo. 

 

Aulas extras – ao vivo 

As redes sociais foram inundadas por “Lives” –  interações ao vivo – para fazer aulas de artesanato, de dança, exercícios físicos, entrevistas, etc.  A administradora Debolina Majumdar tem recorrido a isso para entreter sua filha Rylee, de 9 anos. “Sinto que ela gosta da interação ao vivo mais que as aulas gravadas. Poder interagir faz diferença: ela não se sente tão só ou entediada.” 

 

Ver – de longe – as pessoas e a cidade

Dar uma caminhada ao final do dia, pra ver os vizinhos – de longe – e papear com a devida distância também pode ser uma alternativa. Se não, só uma volta de carro para ver as pessoas e a cidade já pode fazer bem.

 

Hora de festa!  

Por mais frustrante que possa parecer não ter festas de aniversário, casamentos, batizados ou qualquer outra celebração com quem você ama, valorize o que pode ser feito. Um bolo e parabéns virtual, com seus amigos na câmera pode ser bem mais gostoso do que o esperado. E certamente ficará para a memória!

 

Cheque seu círculo

Mais do que nunca, é hora de checarmos se os amigos e vizinho estão bem, oferecer ajuda a quem pode estar precisando. Muitas pessoas são mais introspectivas e, nesse momento, tem mais dificuldade para tomar iniciativa de ligar, procurar. Faça isso por ela.


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1 Comentário

  1. Muito importante este artigo . Embora alguns já estejam agindo desta maneira , outros estão muito isolados em seis “cantos”. Cabe aos mais desembaraçados , puxarem pelos encontros sociais . Da muito certo ! Vamos nos comprometer de fazer isto . Assim podemos diminuir sofrimento.de muitas pessoas .

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