Inauguro meu primeiro texto neste espaço querido com uma pergunta para os pais e mães que nos acompanham: vocês também estão cansados e estressados? Sentem que essa quarentena virou “oitentena”?

Em condições normais, eu confesso que já estaria assim. Aliás, esse cansaço é o meu “novo normal” (usando a palavra da moda) pós maternidade. Nunca foi fácil equilibrar todas as necessidades das minhas filhas, gêmeas de 4 anos, com as demandas do trabalho, e todo o resto que nos cerca. Mas, desde que a pandemia começou, uma nova complexidade surgiu aqui em casa: a tênue linha que separa a vida pessoal e a profissional no modelo homeoffice.

Logo no início, achei que a quarentena serei uma “quinzena”. E, assim, preparei um espaço provisório, porém confortável para trabalhar, delimitando bem o que era vida pessoal e profissional. Tentei manter também horários fixos: vou entrar no horário que entraria e sair no horário que sairia, como se estivesse de fato indo para o escritório. Porém, queridos, falhei de um jeito que mal consigo por em palavras. 

Minhas manhãs eram interrompidas de 10 em 10 minutos por pedidos de “mamãe, quero achocolatado”, “faz um lanche com suco?”, “Quero fazer xixi agora”-  e inúmeros outros pedidos de atenção, seja provocando uma briga que exigiria minha intervenção, seja um pedido carinho para que eu lesse um livro para elas, naquele momento.  E assim, minhas reuniões, com alguma frequência, viraram aos poucos uma “live” de uma mãe solo com duas crianças pequenas.  Ora, uma live fofa, com elas querendo conhecer os amigos da mamãe, ora uma live caótica com direito a choros, gritos e muita confusão.

Desta forma, pouco a pouco, migrei a parte possível do meu trabalho para momentos em que elas não estavam presentes: ou seja, tarde da noite, tendendo às madrugadas, no auxílio salvador de um primo que está passando a quarentena em casa ou nos  dias de ficar com o papai. Mas nem sempre funciona, uma vez que elas, que estão tão acostumadas com a minha ausência durante o dia e que viveram “dias de glória”e de atenção no início desse período, clamam pela mamãe. E, assim, meus planos perfeitos foram desandando. 

Caso você me pergunte, então, qual é a solução, conselho, ou dica magnífica que eu tenho para dar de como resolver esse impasse, eu sinto muito te desapontar, mas a verdade é que, por aqui, ainda estamos desandados. Mas, tudo bem. De certa forma, todos estamos, não é mesmo?  Crianças, como elas, que antes tinham a rotina da escola, com todo um corpo docente e pedagógico presente e com atividades direcionadas, agora estão em casa convivendo com notícias que nem sempre conseguem compreender, com pais que, embora presentes, não estão disponíveis grande parte do dia e com a escola agora no formato on line que, frequentemente, precisa ser acompanhada por um adulto. Adulto este que, muito provavelmente, está com um olho no filho, e o outro no chefe. Aconteceu algo parecido por aí também? Com um colega de trabalho? Sua irmã? Vizinha? Pois é… essa é a realidade para muitas famílias e precisamos falar disso, sem romantizar esse momento! 

Se há algo que se possa fazer, indico, é ter empatia, diálogo e paciência. Converse com as pessoas a sua volta sobre a questão. Entenda seu colega de trabalho, que teve a reunião interrompida pelo choro do filho. Fale com o seu RH sobre possíveis medidas para trazer este assunto para dentro das corporações. E não esqueça de acolher você, e aceitar as limitações e a potência que é ter feito o melhor que poderia fazer naquele dia. E isso já o bastante. 

Acho que essa é a melhor forma de colaborar para um ambiente mais saudável no homeoffice “vida real”. Converse sobre isso na sua próxima ligação (antigo almoço) de família e seja um agente multiplicador. Deixo aqui meu sincero abraço (virtual) para você,  mãe e profissional,  e a certeza de que você não está sozinho nessa. Por aqui, seguimos na “oitentena” que, um dia, há de passar. Fiquem bem.

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