Os casos de miopia em crianças quase triplicaram em 2020. Ao menos é o que mostra um estudo publicado na revista JAMA Ophthalmology, que analisou crianças de 6 a 13 anos. A hipótese estudada pelos pesquisadores é que a falta de atividades ao ar livre e o maior tempo exposto na frente das telas, por conta do ensino remoto, tenham influenciado esse aumento do número de crianças míopes.

De acordo com a oftalmologista especialista em oftalmopediatria e estrabismo adulto e infantil Alyne Gabrielly Borges Corrêa, vários estudos demonstram que, quanto mais tempo em frente às telas, maiores as chances de a criança desenvolver a miopia e de progressão mais rápida do seu grau. “O uso das telas está intimamente ligado a menos tempo ao ar livre e mais tempo em atividades para perto, dois fatores de risco para a miopia”, aponta a médica.

A oftalmopediatra explica que as prováveis razões subjacentes pelas quais o aumento do tempo gasto ao ar livre está ligado a uma menor incidência de miopia, incluem fatores como intensidades mais altas de luz e variações na composição cromática da luz. “Estudos em animais, incluindo primatas, demonstram que uma luz mais brilhante produz maior liberação de dopamina na retina, um neurotransmissor que é capaz de retardar o aumento do comprimento do olho (quanto maior o olho, maior é a miopia)”, exemplifica.

Em seu consultório, Alyne tem notado durante a pandemia um aumento significativo do número de crianças diagnosticadas com miopia. “Inclusive crianças que já faziam acompanhamento e que até então não tinham nenhum problema visual. Percebi também que houve um aumento da velocidade da progressão do grau da miopia naquelas que já tinham a patologia. A razão para isso é, como dito anteriormente, o aumento do número de horas de exposição às telas e o menor tempo de atividades ao ar livre”, ressalta.

Ainda segundo Alyne, sintomas como sensação de olho seco, ardência ocular e lacrimejamento também estão associados a longos períodos de exposição às telas, pois as crianças piscam bem menos que o normal durante essas atividades.

O oftalmologista e influencer digital Sérgio Shibukawa ressalta ainda que o excesso de telas pode provocar a miopia induzida. “A criança fica tão concentrada nas telas que o foco fica todo para perto o que acaba piorando a visão de longe. Devemos estar atentos a isso”, afirma. O médico ainda lembra que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda não recomenda o uso de telas para crianças de até 2 anos; orienta o uso diário de uma hora para crianças de 2 a 5 anos, e no máximo duas horas diárias para crianças de 6 a 10 anos.

Bons hábitos devem ser mantidos mesmo durante a pandemia

Para o desenvolvimento saudável das crianças, é importante manter bons hábitos mesmo durante a pandemia. A oftalmologista Alyne Gabrielly Borges Corrêa, que é especialista em oftalmopediatria, orienta que pais e mães estimulem as crianças a fazerem pausas frequentes durante as atividades escolares virtuais. 

“É recomendado que a cada 20 minutos de atividade para perto, se faça uma pausa de pelo menos 20 segundos olhando algum objeto distante (mínimo seis metros). É necessário limitar o tempo recreativo de tela, e substituí-lo por brincadeiras offline e atividades não digitais, como atividades familiares, arte, música, atividades físicas, brincadeiras com um animal de estimação”, orienta.

Aproveite para estimular seu filho e/ou filha nos cuidados com a casa, como arrumar o próprio quarto, ajudar na cozinha ou cuidar das plantas. “Deve-se encorajar pelo menos duas horas por dia ao ar livre, que podem ser divididas ao longo do dia. Os pais também podem definir limites de tempo para o uso de tela usando aplicativos nos dispositivos de seus filhos e orientá-los com relação ao uso consciente”, sugere.

Quais os principais sintomas de alteração na visão da criança?

De acordo com o oftalmologista e influencer digital Sérgio Shibukawa, cefaleia é uma das principais queixas quando a criança fica muito próxima da televisão ou quando a coloca o celular ou tablet muito próximo aos olhos. Esse é um dos sinais que exige atenção dos pais. “Eu recomendo que a criança vá ao oftalmologista antes de iniciar as atividades escolares”, sugere.

A oftalmologista Alyne Gabrielly Borges Corrêa ainda acrescenta que crianças com miopia se aproximam dos objetos para enxergar melhor, fecham um pouco os olhos para tentar ver melhor, podem apresentar lacrimejamento, costumam ter quedas frequentes e dificuldades no aprendizado. 

Ainda segundo Shibukawa, crianças com alteração na visão costumam reclamar de dor de cabeça, principalmente ao fim do dia. Quando isso ocorre, o ideal é marcar uma consulta com oftalmologista. A miopia é diagnosticada por meio da realização de um exame de refração. “A miopia é considerada hoje uma pandemia, segundo a Organização Mundial da Saúde, com 33% da população acometida. Em 2050, seremos metade da população”, pontua Shibukawa. Após o diagnóstico, a recomendação é fazer visitas periódicas anualmente ao oftalmologista. 


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