Até pouco tempo atrás, era bastante comum os médicos receitarem vermífugos de tempos em tempos para as crianças, com o objetivo de mantê-las saudáveis e protegidas de parasitas. A prática foi tão difundida que até hoje há pediatras que ainda indicam anualmente remédios para vermes. Mas será que realmente a medicação ainda é necessária, mesmo sem fazer exames?

A pediatra Thyessa Neiva Martins explica que, até 2016, o Brasil era um país endêmico em relação a parasitose intestinal, por isso, era indicado uma intervenção comunitária. “Hoje, tanto a OMS (Organização Mundial de Saúde) quanto a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) orientam que, se o país apresenta alto risco de contaminação, deva ser medicado (sem exames) duas por ano; se apresenta risco moderado, uma vez ao ano (também sem necessidade de exames); e se for considerado baixo risco, deva-se realizar o rastreamento individual e tratamento também individual”, pontua. De acordo com Thyessa, desde 2016 o país está em vigilância, ou seja, os últimos estudos indicam baixo risco para contaminação.

Para a pediatra Ana Paula da Conceição Ferreira, que administra o perfil @dra.anapaulaped no instagram, a crença de que é importante ingerir vermífugos anualmente teve início décadas atrás. “Até os anos 1990, quando o saneamento básico de diversas cidades era precário e havia muito esgoto a céu aberto, usar vermífugos frequentemente era algo necessário e recomendado pelos médicos, pois muitas crianças e adultos estavam sob risco de contaminação. Devido a esse ‘hábito’ fez com que muitos adultos, até hoje, acreditem que é importante consumir o remédio periodicamente”, exemplifica.

Quais os sintomas de verminose infantil?

Segundo a pediatra Thyessa Neiva Martins, muitas vezes a parasitose é assintomática, sendo que os sintomas podem variar de acordo com o acometimento em cada criança. “Pode-se ter sintomas de pele, aquela famosa coceira no bumbum, sintomas gastrointestinais (flatos, dor abdominal, diarreia), sintomas respiratórios, perda de peso e anemia”, exemplifica.

A pediatra Ana Paula da Conceição Ferreira lembra que os parasitas estão diretamente relacionados às condições de higiene, saneamento básico, educação e tipo de moradia da população. “Os sinais e sintomas vão depender do tipo de ‘verme’ que está causando a doença. Os mais comuns que fazem suspeitar de parasitoses são: dores abdominais, diarreia, náuseas e/ou vômitos e excesso de produção de gases. Também podem causar anemia, coceira no ânus, diminuição do apetite e sangue nas fezes”, completa.

Tratamento deve ser após diagnóstico comprovado com exame

O diagnóstico deve ser realizado por meio do levantamento da suspeita clínica e confirmado com exame parasitológico de fezes. “O ideal é que seja realizado com o mínimo de três amostras. Se o exame vier positivo, deve-se tratar com a medicação de escolha de acordo com o que veio no exame e após o tratamento é importante a negativação do exame, também com o mínimo de três amostras”, orienta a pediatra Thyessa Neiva Martins.

Entretanto, a pediatra Ana Paula da Conceição Ferreira destaca que um exame de fezes negativo não necessariamente afasta a hipótese, sendo responsabilidade do médico investigar o caso, apontando a parasitose de maior suspeita e solicitar ao laboratório uma pesquisa dirigida do parasita. 

“A clínica sempre é mais importante. Por isso, um acompanhamento com pediatra de forma regular é importante. Qualquer sinal ou sintoma, procure seu pediatra, não tome medicamento por conta própria. Ao tomar o remédio sem ter, de fato, algo a ser combatido, a pessoa corre o risco de se expor sem necessidade aos efeitos colaterais da medicação. Além disso, a droga tem o poder de alterar a população de bactérias (microbiota) do organismo”, enfatiza a médica Ana Paula.

Ao tomar a medicação sem ter, realmente, algo a ser combatido, além de alterar as bactérias do organismo, a criança corre risco de sentir os efeitos colaterais, como tontura, desconforto gástrico, sonolência e enjoo. Sendo assim, remédios para verme devem ser ingeridos apenas com prescrição médica, após a detecção de sintomas e comprovação por meio de exames de fezes. 

4 hábitos que ajudam a evitar as parasitoses:

Confira as principais dicas da Sociedade Brasileira de Pediatria para evitar as parasitoses intestinais:

1- Lave as mãos antes das refeições e após usar o banheiro. Ensine as crianças a lavarem as frutas antes de comê-las, usar o banheiro como destino adequado das fezes, e andar calçada em locais arenosos que tenham acesso por animais;

2- Use apenas água filtrada ou fervida na higienização dos alimentos. Proteja os alimentos contra insetos e não ofereça às crianças alimentos crus, defumados ou mal cozidos;

3- Certifique-se que os animais domésticos estão vacinados e vermifugados, além de recolher as fezes dos animais, já que podem ser fontes de contaminação;

4- Invista em uma alimentação saudável e diversificada; mantenha as unhas das crianças curtas e limpas; e não compartilhe roupas íntimas.


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