Semana passada aconteceu algo que eu queria abrir para uma conversa de coração aberto, aqui. Eu estava, para variar um pouco, fazendo uma série de coisas ao mesmo tempo: trabalhando, fazendo comida, cuidando da Lulu e da Gigi (minhas filhas gêmeas de 5 anos), e tentando não deixar nenhum dos meus pratinhos cair. E, eu havia dito que nenhuma das duas poderia ver um determinado canal da internet, pois ambas estão viciadas, e não querem nem mesmo descer para o parque quando estão vendo o danado do canal.

Eis que chego de surpresa na sala e estão as duas vendo o que? Adivinhem: o tal Canal! 

Claro que fiquei bem chateada com as duas. Briguei, coloquei de castigo, e todas aquelas coisas. Mas o fato é que, elas estão TÃO acostumadas com o sim, que quando chega uma negativa, seja ela qual for, a frustração delas é enorme! 

E eu não vejo isso só nas minhas filhas. Eu vejo também nos amigos delas, e em outras crianças maiores e menores. Quando estamos passeando, em alguma viagem em grupo, em algum aniversário, o “não” é algo muito frustrante para essas crianças. Tudo é muito rápido. Muito imediato. E nem sempre estas crianças conseguem entender o “não”.  

Agora vou ser a velha, e vou começar a frase com “Na minha época….”, mas é verdade isso. Na minha época, tínhamos muito menos opções de brincadeiras. Usar a imaginação e brincar em grupo ou com o brinquedo do amigo, trazia por si só muito mais maleabilidade. Hoje, eu vejo que, se o amigo não aceita brincar do que quer que seja, basta pegar o tablet ou o celular, e escolher algo individual, e pronto! Não existe mais aquela necessidade de se adequar ao mundo. 

Consigo ver um pouco de traços desta questão quando trabalho com pessoas muito mais novas do que eu, na casa dos 19, 20 anos. No geral são pessoas que não medem muito os riscos das ações tomadas. E, muitas vezes, sentem uma grande frustração por precisar esperar um tempo para colher o resultado do trabalho. São pessoas que nem sempre entendem o motivo de precisar esperar tanto para alcançar uma promoção, ou um aumento de salário. E preferem mudar de empresa do que trabalhar e aguardar o resultado na empresa atual. E feedbacks negativos tendem a ser muito doloridos, pois para estes profissionais, grande parte da responsabilidade pelo próprio crescimento tende a estar no outro e não em si mesmo.  

Se estas pessoas que nem tiveram tanto contato com a tecnologia já são assim, eu imagino como serão nossos filhos, que nasceram online. Obvio que o mercado até lá terá outra configuração. Porém eu entendo que a boa e velha relação entre pessoas sempre irá existir. E, saber se comunicar bem, sem entender que a sua necessidade é a única que importa é muito importante. Tanto para construir relações dentro do mercado de trabalho, quando fora também, seja com amigos, relações amorosas, entre outras. 

Então, gostaria muito de abrir aqui uma pequena discussão sobre qual é o limite bom, saudável, aceitável de se educar um filho de forma carinhosa e afetuosa, e a hora certa de se dizer não. Quando é que nós, enquanto pais, mães e cuidadores, deixamos de ser aquela figura que cuida e protege, e passamos a ter um papel de mimar nossos filhos, a ponto de não prepará-los para esse vidão tão difícil e cheio de complexidades. 

É claro que aqui, não temos certo e errado. Vamos ter sempre pontos de vista diferentes, histórias diferentes, arranjos familiares diferentes e opiniões diferentes. Mas eu entendo que vale muito a reflexão.  Por nós, e por eles. Pois, o nosso “não” de hoje, vai prepará-los para todos as negativas que a vida vai trazer. E, meus queridos, a vida não é mole, não. E bota “não” nisso! 

Um abraço apertado, que logo será presencial, afinal: a vacina chegou! 

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