Exploradoras, repletas de energia e sem consciência dos perigos, as crianças adoram correr pela casa, subir nos móveis e pular a todo instante. Um degrau pode ser um grande desafio para um baixinho que resolve encará-lo pulando com um pé só. Subir na prateleira para alcançar aquele objeto colorido também é fascinante. E apostar corrida pela sala com a irmã para ver quem chega mais rápido, garantia de gargalhadas.

Se você tem criança pequena em casa, certamente conseguiu visualizar uma dessas cenas. Ou todas.

Permitir o livre brincar e deixar as crianças usarem a imaginação é benéfico e necessário para uma infância saudável. Porém, como estão constantemente em processo de aprendizagem, os pequenos acabam se aventurando e se arriscando na hora da diversão. E, para desespero dos pais e cuidadores, quedas graves podem acontecer. Segundo o Ministério da Saúde, as quedas acidentais são a principal causa de internação de crianças e adolescentes de zero a 14 anos no Brasil. Dados oficiais do órgão apontam que cerca de 113 mil são hospitalizadas só na rede pública de saúde por esse motivo

“Os acidentes são uma causa importante de mortalidade na faixa etária pediátrica. A maioria acontece em ambiente doméstico e os pais ou cuidadores não percebem as situações de perigo existentes em casa”, ressalta a médica pediatra e neonatologista Sibila Aiache Pegoraro.

 

Como se prevenir

A boa notícia é que praticamente todos os acidentes são preveníveis. Para isso, a médica ressalta que é imprescindível que todos tenham em mente que as crianças não são miniaturas dos adultos.

A cabeça da criança é, proporcionalmente, mais pesada que a de um adulto. Assim, o centro de gravidade dela é mais alto – o que influencia diretamente no seu equilíbrio. Além disso, seus corpos são mais frágeis e com menor tolerância a lesões, pois a severidade de um machucado depende da capacidade de absorção de energia que um corpo tem – quanto menor o corpo, menor essa capacidade”, explica.

Outro agravante neste sentido é a pouca habilidade das crianças de reconhecer perigos. De acordo com a pediatra, até os cinco anos, as crianças ainda não compreendem as relações de causa e efeito, portanto podem se colocar em situações perigosas simplesmente por não compreenderem os riscos.

Por outro lado, os especialistas também reconhecem que cair faz parte do processo de desenvolvimento dos baixinhos.

E que a maioria dos tombos não passará um de ralado no joelho, um ‘galo’ na cabeça ou um corte superficial no pé.

Mas, apesar de serem comuns e até esperados é preciso estar atento! Afinal, cabe aos responsáveis pelas crianças tornarem a casa segura para que os acidentes domésticos sejam evitados ou não apresentem graves riscos à saúde dos pequenos.

 

Como deixar a casa segura para meus filhos?

Se você ficou assustada com o número de internações infantis devido às quedas acidentais, saiba que adotando algumas medidas de segurança já é suficiente para manter a cria em um ambiente protegido.

Não precisa proibir as crianças de brincarem pela casa. No máximo, você vai precisar restringir alguns acessos e passar a contar com itens de proteção.

“Evitar quedas significa deixar um ambiente seguro em casa, protegendo principalmente o acesso a locais potencialmente perigosos, de acordo com a faixa etária”, ressalta a pediatra e neonatologista Sibila Aiache Pegoraro.

Porém, também é válido lembrar que crianças precisam ter sempre a supervisão de um adulto. “Crianças, dentro de casa ou fora, merecem monitoramento contínuo de um adulto. Em um piscar de olhos um acidente pode ocorrer e, por isso, a proximidade física da criança e o contato visual contínuo podem diminuir as chances de acidente”, afirma o cirurgião de trauma e de urgências e emergências Bruno Pereira, que também é CEO do Grupo Surgical.


Veja o que fazer em casos de intoxicação infantil


1- Atenção aos sapatos

De acordo com o profissional, dentro das residências é recomendado que as crianças utilizem calçados adequados, que não escorreguem, ou andem descalças para ter mais aderência ao solo. “Usar apenas meias é um perigo maior”, diz Pereira.

CASE:  A educadora física infantil Daniela de Assis Gomes Firmino, de 35 anos, não imaginava que um chinelo de dedo poderia levar a fratura da perna de sua filha Ana Bella, de 3 anos e 5 meses. “Minha filha mais nova quebrou a perna, a tíbia e fíbula. Ela estava andando no quarto, estava de chinelinho, tropeçou e virou a perninha. Fui tentar ajudar a levantar e ela não conseguia colocar o pé no chão”, lembra.Daniela tentou acalmar a filha e percebeu que sempre que mexia a perninha, a pequena chorava. Então, ela levou Ana Bella em um pronto socorro e, por meio do raio-x, foi detectado a fratura. A criança foi imobilizada por 15 dias e se recuperou do trauma.Alguns meses depois, a pequena estava brincando no parque do condomínio onde a família mora e, ao descer de um brinquedo, ela caiu em cima do braço e fraturou o cotovelo. Então, foram mais 15 dias com o braço engessado até a calcificação do osso.

 

2- Evite móveis e objetos “soltos”

Tapetes soltos, assim como móveis, representam risco. “Atenção especial a cômodas e estantes soltas em que a criança, sem entender o perigo, sobe pelo móvel, que pode acabar caindo sobre ela, aumentando ainda mais a gravidade”, destaca Pereira.

 

4- Esteja atenta aos móveis próximos às janelas

A médica Sibila também lembra que é necessário ter cuidado com os móveis que podem ser escalados e fornecerem acesso às janelas. “Proteja quinas dos móveis,  trave as gavetas para impedir que a criança abra e escale ou tenha acesso a objetos potencialmente perigosos”, recomenda.

 

5- Proteja as escadas

Já as escadas devem possuir corrimão e estarem livres de tapetes ou passantes de tecido. “Para aqueles que residem em sobrados ou apartamentos é muito importante que as janelas e acesso às escadas tenham rede de segurança ou grades que protejam suas crianças de subir na janela e cair. Medidas preventivas de acesso a determinados locais da casa são também muito importantes. Bloquear acessos à varanda, cozinha, escadas e áreas de serviço com portões próprios para crianças são medidas importantíssimas, que certamente diminuem as chances de exposição ao risco”, recomenda Pereira.

 

Minha filha bateu a cabeça. Devo ir ao pronto socorro?  

Apesar de os pais ficarem sempre preocupados quando os filhos caem e batem a cabeça, nem sempre é motivo de desespero.

Antes de ficar aflita e sair correndo com a criança para um pronto socorro, pare e respire. “A primeira coisa mais importante para os pais notarem é qual foi a energia envolvida na queda. Foi uma queda no tapete de casa ou a criança estava em cima de uma árvore e caiu? Estes são mecanismos diferentes e, mesmo não sendo médicos, somos capazes de diferenciar a gravidade de energia envolvida entre um e outro exemplo. Casos em que a criança perde a consciência e desmaia, a atenção dos pais deve ser redobrada. Sonolência e vômitos após a queda mesmo, que sejam horas depois, representam também sinais de alerta. Os pais não devem se preocupar se criança está ‘normal’ como sempre foi. Se há dúvida dos pais, a melhor conduta é procurar ajuda médica especializada”, esclarece o médico Bruno Pereira.

Porém, o médico indica a ida imediata ao pronto socorro, caso a criança apresente os seguintes sintomas:

  • perda de consciência;
  • vômitos persistentes ou que reaparecem após várias horas;
  • uma pupila maior que a outra ou visão dupla;
  • dificuldade de movimentar braços ou pernas;
  • marcha incoordenada;
  • dor de cabeça progressivamente intensa, que não melhora com analgésicos habituais; dificuldade de articular palavras;
  • convulsões.

 

Gelo realmente ajuda nas pancadas?

Levante a mão quem nunca saiu correndo em direção ao freezer para pegar um cubo de gelo e colocar em cima da lesão de uma criança que acabou de se machucar? Mas será que realmente essa tática ajuda? Segundo o cirurgião de trauma e de urgências e emergências Bruno Pereira, para pancadas nas pernas e braços a medida ajuda bastante. Porém, o mesmo não é válido quando a batida for na barriga ou no peito, onde a gravidade do machucado pode ser maior.

“Gelo no local imediatamente após o trauma pode ajudar a reduzir a dor e o inchaço. Agora, não utilize medicação sem orientação médica e, em caso de dúvidas sobre a lesão, recomendamos auxílio médico”, enfatiza.

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