Além da correria do dia a dia, o estresse do trabalho e a canseira com a demanda das crianças e com a casa, mães e pais ainda precisam administrar diariamente (ou quase) os comportamentos desafiadores dos filhos. Enquanto alguns pequenos resistem para entrar no banho, há aqueles que não querem sair. Outros baixinhos fazem caras nada agradáveis na hora da refeição e tem quem insista em não dormir, mesmo morrendo de sono.
É justamente neste cenário caótico, que falta paciência e tolerância para lidar com os filhos e/ou filhas. Nesses momentos, muitas vezes, levantamos o tom da voz para pedir a colaboração da criança, chamar atenção ou ordenar que ela pare de fazer algo específico. Depois, bate aquele arrependimento por berrar com o baixinho, não é mesmo? Mas, afinal, como deixar esse hábito e conseguir lidar com o comportamento desafiador da criança sem gritar?
Para a pedagoga e educadora parental em disciplina positiva Helen Karlen, o primeiro passo é entender o real motivo desses comportamentos, que muitas vezes, são próprios da fase do desenvolvimento da criança, que ainda não sabe lidar com os sentimentos.
“O segundo passo é acolher e validar o sentimento da criança, ter empatia e buscar entender o que está por trás desse comportamento. Isso é difícil, mas olhar as coisas pela perspectiva do pequeno pode te ajudar a ter mais empatia. Quando a criança se sente compreendida, se torna mais aberta para te ouvir”, pontua Helen.
De acordo com a pedagoga e educadora parental em disciplina positiva para a primeira infância Larisse Garcia de Barros, que administra o perfil (@sobreducarconsciente) no instagram, os comportamentos desafiadores das crianças são formas de comunicação. “Através desses comportamentos, as crianças nos dizem que estão frustradas, com sono, fome, cansadas, com raiva, e até mesmo que sentem falta de conexão com seus pais ou que sentem falta de tempo de qualidade”, explica.
Ainda segundo Larisse, esses comportamentos, além de esperados, são essenciais para o amadurecimento e desenvolvimento das crianças. Sendo assim, para lidar melhor nessas situações sem usar gritar com o filho, a Larisse sugere aos pais e mães respirarem para manter a calma e, então, conseguir se conectar.
“O que vai motivar seu filho a comportar-se bem é justamente essa conexão entre vocês. Depois, coloque-se no lugar daquela criança de forma empática para conseguir perceber o porquê daquele comportamento. Quanto mais tranquilos estivermos, mais tranquilidade passaremos às crianças. Se gritarmos, eles ficarão ainda mais agitados e o comportamento tende a piorar”, ressalta.
Não quero mais gritar com meu filho, mas não consigo parar. E agora?
O passo mais importante você já deu: que é reconhecer que grita com a criança e deseja parar. Agora, você precisa estudar, analisar e observar o que tem levado a gritar com seu filho (a).
“Sugiro uma autoanalise, uma busca por informações e estudar, porque estudamos para tantas coisas e esquecemos de estudar para criar seres humanos melhores para o futuro. Sim, é preciso estudar para educar. Procure pensar e analisar quais gatilhos vêm até você, para que o grito seja a válvula de escape”, sugere a pedagoga e educadora parental em disciplina positiva Helen Karlen.
A dica da profissional é refletir o motivo de você manifestar esse comportamento. Entre tanto possíveis motivos, Helen cita alguns que podem ser a causa: acúmulo de tarefas, dificuldade de relacionamento, dificuldade financeira, cansaço físico, cobrança externa, excesso de preocupação, falta de participação do parceiro (a), expectativa irreal da maturidade da criança, etc.
De acordo com a pedagoga e educadora parental em disciplina positiva Larisse Garcia de Barros, existe uma ferramenta na disciplina positiva chama de ‘pausa positiva’. E é exatamente isso o que ela orienta a fazer no momento de tensão com a criança: se retirar da cena para conseguir fazer a própria autorregulação.
“Você pode ir para a varanda, para o seu quarto, enfim, o lugar que você se sinta bem para conseguir regular suas emoções, controlar a raiva e assim manter a calma. Seja bem claro ao seu filho: diga que está com raiva e precisa se afastar um pouco para não gritar com ele. A pausa positiva é essencial para esses momentos em que queremos evitar o descontrole com as crianças”, afirma Larisse. Depois, quando estiver mais calma, a orientação é retornar e conversar com a criança sobre o ocorrido, de maneira franca.
Quais os prejuízos para uma criança que é educada à base de gritos?
Segundo a pedagoga e educadora parental em disciplina positiva Larisse Garcia de Barros, diversos estudos revelam que crianças tratadas com desrespeito, punições, gritos e castigos têm grandes danos em seu desenvolvimento cerebral. “Causa mudanças na personalidade dessa criança, no humor, elas passam a ter desestabilidade emocional e muita dificuldade em manter atenção em várias coisas, na escola, principalmente”, explica Larisse.
Para Larisse, a maioria dessas crianças pode desenvolver comportamentos agressivos e defensivos, levando isso até a vida adulta. “Adolescentes que tiveram uma infância em meio a gritos, em sua grande maioria, têm problemas comportamentais e sintomas depressivos tornam-se mais frequentes também”, ressalta.
Como conseguir a colaboração da criança quando ela só obedece com gritos?
Já parou para refletir se realmente você quer que seu filho e/ou filha seja obediente? Ou você prefere ensinar sua criança a cooperar, entender e respeitar? Para conseguir um comportamento respeitoso, os adultos precisam dar o exemplo.
“Abaixe-se na altura da criança e olhe nos olhos dela para se conectar com ela. Fale em tom de voz gentil e peça ‘por favor’ e ‘por gentileza’. Avise com antecedência que uma atividade vai terminar em breve e que a criança fará outra logo em seguida. Saiba ouvir e atender, quando possível, as necessidades do seu filho”, recomenda a pedagoga e educadora parental em disciplina positiva Helen Karlen.
A profissional acredita que mães e pais precisam praticar a escuta empática, além de adotar a educação respeitosa. “Quando ouvimos o outro estamos demonstrando confiança, carinho e respeito. Precisamos entender que para criarmos uma conexão é preciso que elas se sintam acolhidas e ouvidas. A partir do momento que estamos verdadeiramente conectados com a criança, fica muito mais fácil que elas nos escutem, confiem no que falamos e aceitem os combinados. Elas se sentem pertencentes e importantes”, orienta.
Manter a calma e falar com a criança em um tom de voz baixo, é a saída sugerida pela também pedagoga e educadora parental em disciplina positiva Larisse Garcia de Barros. “Assim, a criança tende a manter a calma e também a baixar o tom de sua voz. Pode não dar certo na primeira ou segunda vez, mas a prática disso que faz de fato a criança começar a aprender a controlar as emoções e a saber lidar com elas”, explica.
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