Apesar de os estudos e especialistas afirmarem que as crianças são menos afetadas pela pandemia, contraindo e transmitindo menos a doença, o retorno das aulas presenciais ainda é motivo de angústia para a maioria das famílias. Afinal, todos sabem que as crianças pequenas têm pouca maturidade para manter os protocolos de saúde necessários para a preservação da saúde, como o correto uso da máscara facial e o distanciamento social. Na busca de alternativas mais seguras para enfrentar esse cenário desafiador, a natureza pode ser a resposta para o momento.
O programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, com apoio e parceria de outras instituições, lançou um documento com sugestões e referências para contribuir na construção de protocolos que propõe o aprendizado ao ar livre como um aliado no retorno das aulas presenciais. O documento está disponível aqui.
“Fizemos alguns estudos de países que estão usando essa aprendizagem ao ar livre como recurso para a reabertura das escolas, porque em um ambiente ao ar livre, o risco de transmissão do vírus é menor. A transmissão tem a ver com a distância da pessoa infectada, mas também tem relação com o tempo de exposição que a carga viral permanece em ambientes fechados”, explica Paula Mendonça, assessora pedagógica do programa Criança e Natureza.
De acordo com Paula, contar com a natureza na volta às aulas é uma medida sanitária, pois permanecer com as crianças nos ambientes escolares abertos diminui o risco de transmitir e contrair a doença. Além disso, a natureza proporciona um desenvolvimento integral das crianças, trazendo benefícios físicos, cognitivos, emocionais, sociais e culturais.
Segundo o Manual de Orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, intitulado de “Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes”, crianças privadas de conviver em espaços abertos e naturais, têm mais chances de apresentar problemas de saúde, como obesidade, sedentarismo e miopia, além de poder ter até mesmo prejuízos no desenvolvimento, como falta de equilíbrio, agilidade e habilidade física.
Especialistas ainda afirmam que o convívio com a natureza na infância auxilia no desenvolvimento neuropsicomotor, proporcionando bem-estar mental e, ainda, equilibra os níveis de vitamina D.
E, agora, em tempos de pandemia, a natureza reforça mais um ponto positivo para estar presente na vida dos pequenos: ela pode ser uma aliada mais segura no retorno das aulas presenciais.
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Por enquanto, o que se sabe é que ambientes fechados e aglomerados são potenciais transmissores da doença, e que as crianças pequenas têm menos chances de contrair e transmitir o vírus. “Crianças são pouco transmissoras da doença e adoecem pouco, principalmente crianças menores, as da educação infantil, que corresponde de zero a cinco anos. As crianças de 6 a 9 anos transmitem de forma intermediária e, as acima de 11 anos, já transmitem praticamente como adultos”, disse o pediatra Daniel Becker no webinar “A aprendizagem ao ar livre no planejamento da reabertura escolar”, promovido pelo programa Criança e Natureza, que está disponível nesse link.
Sendo assim, a assessora pedagógica Paula Mendonça afirma que os espaços abertos das instituições de ensino devem ser priorizados para as crianças menores, que têm maior necessidade de movimentação. “As crianças menores têm necessidade de correr e de se movimentar em espaços abertos. Já o ensino médio e fundamental 2 tem um pouco mais de controle do próprio corpo para seguir as medidas sanitárias, como o distanciamento físico entre uma pessoa e outra”, pontua.
Já as salas de aula, que costumam ser espaços mais fechados, podem ser reaproveitadas para dividir as turmas de outras séries. “Assim, aumentaria a capacidade de atendimento, priorizando os espaços abertos para as crianças pequenas e os espaços fechados para as crianças mais velhas, pois ao invés de uma turma usar uma sala, pode usar duas”, explica.
Os espaços abertos, por sua vez, podem se transformar em salas de aula temporária para as crianças do ensino infantil. “Com recursos simples, como prancheta e flipchart, é possível o estudo em áreas externas”, afirma. Assim, essas áreas acabam se tornando uma oportunidade para as crianças brincarem e aprenderem com a natureza. “Há diversas possibilidades que a natureza oferece de aprendizado. Como exemplo, para aprender sobre a fisiologia de uma árvore e sobre ecossistema, ao invés de aprender em um livro, a criança aprende do lado de fora”, exemplifica.
Outra possibilidade é realizar os trabalhos, que eram feitos em sala de aula, para serem executados ao ar livre, aproveitando os recursos que a natureza oferece. “A natureza, principalmente, para as crianças, amplia a possibilidade do brincar. Entendemos que os materiais não estruturados que a natureza oferece aguçam a imaginação e criatividade da criança. Como a natureza não é algo de formato pronto, como um carrinho, a criança pode criar o que pode ser aquele pedaço de madeira”, afirma.
Contudo, Paula também ressalta que, após mais de seis meses de quarentena, quando houver o retorno seguro das aulas, além de inserir a natureza como uma medida sanitária, o primordial é realizar um bom acolhimento, tanto das crianças quanto dos educadores e educadoras. “Muito se fala da parte pedagógica, de conseguir dar conta dos conteúdos perdidos, mas a gente entende que, no primeiro momento, é o acolhimento emocional é fundamental. Tem muita gente com medo, vindo de situações traumáticas, pois muita gente perdeu pessoas queridas. Isso também deveria ser priorizado”, finaliza.
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