As frases machistas, repetidas tantas vezes durante a infância, podem parecer inofensivas. Mas todo o sexismo e machismo envolvidos na criação dos meninos, além da imposição e repressão de sentimentos, contribuem para a formação de adultos inseguros e que podem até mesmo ter comportamentos violentos, influenciados pela masculinidade tóxica, que é um conjunto de mitos sociais, que envolvem comportamentos e atitudes, para ser considerado um “homem de verdade”.
Mais do que nunca, mães e pais precisam refletir sobre a criação dos filhos. Afinal, como criar meninos melhores para o mundo? Como educar os garotos para que entendam que homens também expressam o que sentem e que não precisam usar da violência para resolver os conflitos?
De acordo com a pediatra Jéssica Nicole, a masculinidade tóxica deve ser sempre discutida, pois prejudica toda a sociedade, incluindo homens e mulheres. “De um lado há o menino, que não tem direito de expor seus sentimentos e ‘implode’, gerando distúrbios psicológicos que podem culminar com o suicídio, ou ele ‘explode’ de maneira violenta, geralmente com a parte que lhe foi ensinada como frágil: a mulher. Assim, posteriormente, aumenta a violência doméstica. É algo cultural que podemos prevenir já na primeira educação e, lógico, com o exemplo”, pontua.
Jéssica ainda ressalta que é necessário pensar em uma criação mais livre e igualitária na questão dos gêneros. “Meninos e meninas têm liberdade de escolha e todas as oportunidades devem ser demonstradas para que brinquem com o que mais se identifiquem. As duas partes podem ser da realeza ou da ciência. E podem ser de ambos, se quiserem!”, exemplifica.
Incentive a participação nas tarefas domésticas
Para a pediatra Jéssica Nicole, a divisão das tarefas domésticas deve ser incentivada desde cedo, inclusive para todas as pessoas que vivem na casa. “Isso inclui mãe, pai, meninas e meninos. Incentive a arrumar a própria cama, os brinquedos, o quarto. Começamos pelo simples e vamos introduzindo aos poucos na limpeza, na arrumação de toda a casa”, afirma.
Quando criança, o dentista *Thales de Melo, de 32 anos, adorava ajudar a mãe e a avó na cozinha. Porém, a atividade era proibida por seu pai, que dizia que cozinhar não era tarefa de menino. “Eu e meu irmão também não podíamos chorar, porque ele dizia que meninos não choram. Cresci sem ganhar abraço ou colo do meu pai”, conta. Infelizmente, Melo é apenas mais um homem, entre tantos, que foi criado nos moldes da masculinidade tóxica, tão disseminada na sociedade.
Atualmente, ele é pai de dois meninos, que tem 6 anos e 9 anos. Além de buscar criar os filhos longe da masculinidade tóxica, Melo ressalta que ainda tenta aprender a lidar melhor com seus próprios sentimentos. “Hoje eu tenho minha companheira, que me ensina muito sobre como podemos criar nossos filhos de maneira mais respeitosa. Mas eu ainda batalho muito para conseguir expressar tudo o que sinto. E sei que meu pai tem grande influência nisso”, desabafa.
*A pedido da fonte, sua identidade foi preservada
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