Andar de bicicleta, de patinete, correr nos parques, pendurar nos brinquedos, saltar e subir nas árvores. Todas essas situações são muito divertidas para as crianças e, principalmente, são fundamentais para o pleno desenvolvimento infantil. Mas você é do time que só de pensar no filho e/ou filha nessas brincadeiras já fica temerosa (o)? Ou, vai ainda além, e impede a ação da criança por medo que ela se machuque? Certamente, você já sabe que joelhos ralados, roxos pelo corpo e arranhões fazem parte da infância. Porém, mais do que isso, é preciso deixar os pequenos e as pequenas correrem riscos durante as brincadeiras. É assim que eles aprendem sobre seus próprios limites, possibilidades e responsabilidade.
“O desenvolvimento infantil é marcado por vivências adquiridas no seu cotidiano ao longo do seu crescimento. Uma criança que pouco interage e explora situações adversas no ambiente em que vive, pode ter sua evolução física, intelectual, social e emocional comprometida”, ressalta a psicopedagoga Dayana S. Triaca.
De acordo com a profissional, brincar é a forma como os baixinhos se expressam e conhecem o mundo. Por isso, quando o brincar é restrito, controlado e empobrecido de possibilidades, a criança tem sua expressão limitada, interferindo na sua criatividade e autonomia. “É preciso deixar explorar o ambiente, pensar e agir nele por tentativas de acertos e erros para que identifique seus limites e potencialidades”, explica.
Ao tentar proteger as crianças dos riscos que existem durante a diversão, os adultos acabam comprometendo a evolução dos filhos e filhas. “Cair, alguns arranhões, roxos pelo corpo e ter contato com microrganismos, pode acontecer durante as brincadeiras e serve para ensinar os pequenos a encarar as adversidades, lidar com frustrações, crescerem mais resilientes e com o sistema imunológico fortalecido”, pontua.
Sendo assim, Dayana é enfática ao afirmar que brincar é um “risco” benéfico, que proporciona bem estar, desenvolve o autocontrole, promove socialização, segurança, determinação e estimula a criatividade. “São inúmeros os benefícios que o brincar livre proporciona ao desenvolvimento. Melhora o sono, previne a ansiedade, desenvolvem a atenção e a concentração, ameniza os sintomas de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, do estresse e evita a obesidade infantil”, exemplifica. Além disso, essas ações vivenciadas na infância refletirão na vida adulta, facilitando o poder de tomada de decisões e resoluções de conflitos.
Foto: arquivo pessoal.
Já parou para pensar que brincadeira é coisa séria?
Para a psicopedagoga Dayana S. Triaca, atualmente existe uma tendência de pais e mães que desejam criar filhos e filhas intelectuais, mas corporalmente passivas. “Esse comportamento dos pais tem limitado a expressão corporal das crianças que passam horas do dia envolvidas com os estudos e com pouco tempo livre para brincar”, afirma.
A profissional lembra que no passado, quando não existiam tantos recursos tecnológicos, as crianças passavam a maior parte do tempo brincando no quintal, explorando a natureza, tinha contato com barro, subiam em árvores e andavam de bicicleta. “O limite era a própria criança que determinava, pois sabia avaliar o que poderia machucar de verdade através de suas investidas anteriores. Muitas habilidades foram desenvolvidas e muitas lições aprendidas”, ressalta.
Entretanto, atualmente muitos adultos, que foram crianças exploradoras, colocam limites rígidos quando os próprios filhos estão brincando ao ar livre. “Muitos enxergam esse brincar demasiadamente perigoso e, sem perceberem, impedem que a criança tenha liberdade para criar hipóteses e verificar na prática suas deduções ao explorar o mundo a sua volta. É preciso avaliar o que realmente põe a criança em risco. Reconhecer que arriscar é diferente de perigo, que pode causar ferimentos graves e até a morte”, orienta.
Sendo assim, para segurança dos pequenos, Dayana afirma que as brincadeiras precisam ser acompanhadas pelos responsáveis. Porém, é preciso ter cautela para que essa supervisão não impeça a criança de vivenciar, construir, perceber e avaliar o que pode experimentar. “Oferecer uma liberdade assistida e não controlada. Quando o adulto diz a criança o que pode ou não fazer deixa de oportunizar a ela a descoberta. É bem melhor descobrir por si só que por alguém lhe ensinando como fazer”, explica.
Foto: arquivo pessoal.
Designer fala sobre autonomia como processo importante de aprendizagem
Pai de três filhos, Jack Rocha, de 43 anos, é proprietário da Paradome Geodésicas, uma fábrica de Domos Geodésicos, cuja missão é encantar, divertir e desenvolver crianças. Os brinquedos produzidos por Jack são feitos para escalar, pendurar e tudo aquilo que a criatividade dos pequenos e pequenas permitir.
Rocha acredita que a autonomia das crianças é de grande importância no processo de aprendizado. Sendo assim, ele também ressalta a necessidade de permitir que os baixinhos brinquem livremente, inclusive com a possibilidade de correr riscos durante a exploração. “Acredito que o poder da atividade de escalada pode ser usado no desenvolvimento integral das crianças, pois promove crianças mais confiantes, corajosas e ativas”, exemplifica.
Ele acredita que subir, saltar, escalar e pendurar são movimentos intrínsecos do instinto infantil. Por isso, Rocha ressalta que basta os adultos permitirem o desenvolvimento e as descobertas das crianças. “O domo, por exemplo, é uma diversão segura, mas desafiadora o suficiente para levar as crianças à sua própria superação”, pontua.
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