O afeto, o cuidado e atenção da mãe e do pai é fundamental para o desenvolvimento dos filhos (as). Quando toda essa proteção é oferecida e disponibilizada na ‘medida certa’, tem impacto positivo até mesmo na vida adulta dos pequenos, que podem se tornar pessoas seguras, independentes e com autoestima. E é aqui que é preciso ter cautela. Afinal, proteger os filhos é saudável, mas a superproteção não. Mas, então, como identificar quando os pais estão exagerando na dose de cuidado com as crianças?

Se você não deixa sua criança subir em um brinquedo por medo que ela se machuque; se você guarda as pecinhas de encaixar espalhadas pelo chão da casa, mesmo que ela saiba fazer isso sozinha; se você prepara um lanche já tarde da noite porque a cria não quis jantar… talvez você precise reavaliar suas atitudes, pois há chances, sim, de que você esteja excedendo os cuidados. 

De acordo com a psicoterapeuta Maria Rita de Jesus Moreira, que atua na abordagem da terapia cognitivo comportamental, o primeiro passo é entender a diferença entre proteção e superproteção. De acordo com a profissional, na primeira infância, que corresponde do 0 aos 6 anos, todas as crianças têm necessidades físicas, emocionais e psicológicas que precisam ser atendidas pelos adultos, como alimentação, higienização, manejo das necessidades fisiológicas, vínculos seguros, autonomia, liberdade de expressão, lazer, limites realistas, entre outros. 

“A proteção parental é o adulto fornecer condições para prover e promover essas necessidades básicas da criança. Então, definimos como proteção os cuidados básicos que o adulto desempenha com a criança, no sentido de estimular seu desenvolvimento e evitar que ela passe por riscos que coloquem sua integridade e saúde em perigo”, explica. A proteção significa evitar que a criança passe fome, frio, desamparo e garantindo que seus direitos não sejam negligenciados.

Já a superproteção parental, segundo Maria Rita, define-se como um padrão de comportamento dos pais baseado no controle, que pode ser identificada por exemplo quando há regulação exagerada das atividades e rotinas rígidas da criança, pais que se mantém sempre alerta e vigilante e encorajam pouco à autonomia de seu filho. 

“Com o passar do tempo, a criança vai adquirindo autonomia e passa a conseguir resolver suas necessidades básicas sozinha, ou sem tanto apoio. Mas a autonomia da criança pode ficar prejudicada por conta do excesso de controle dos pais, que impedem que ela desenvolva habilidades de enfrentamento e dificulta a construção de recursos internos de resolução de problemas, podendo geram adultos dependentes e inibidos”, exemplifica. A psicoterapeuta ainda ressalta que comportamentos parentais de superproteção são típicos de pessoas ansiosas.

E os estudos na área mostram que todo esse zelo excessivo é prejudicial aos baixinhos. “Crianças que passam por superproteção podem desenvolver problemas com ansiedade, inibição comportamental, desenvolver menos recursos para resolução de problemas, baixa autoeficácia, autoestima prejudicada, de forma que se sintam inseguros”, pontua.

Como equilibrar o excesso de zelo pelo filho?

Segundo a psicoterapeuta Maria Rita de Jesus Moreira, em um cenário ideal, o esperado é que os pais tenham autoconhecimento, sensibilidade e atenção para perceber as necessidades de cada filho, pois cada criança é diferente e algumas precisam de mais estímulos para ter autonomia, enquanto outras necessitam de mais limites. 

“É importante equilibrar um estilo de educação que englobe autoridade e limites de forma amorosa, gentil e compassiva com os filhos, e não oscilar entre permissividade e autoritarismo. É importante que os pais conheçam a si mesmos, tenham autoconhecimento realista para então cuidar bem do filho”, orienta. 

A profissional explica que, muitas vezes, pais e mães superprotegem os filhos, pensando que será difícil para a criança superar um desafio. Então, acabam sendo permissivos e fazendo pelo filho o que ele poderia fazer sozinho. Ainda de acordo com Maria Rita, na dúvida, faça os seguintes questionamentos: “ele pode fazer sozinho?”; “mesmo que seja difícil, é importante ele mesmo resolver esse problema?”; ”esse medo que me faz querer protegê-lo é de um risco real ou imaginado?”.

E foi fazendo essas perguntas que a professora de inglês Giovanna Campos, de 35 anos, percebeu que estava sendo muito cuidadosa com o filho Raul, de 3 anos. Há pouco tempo, ela notou que o menino estava com medo de realizar muitas brincadeiras e atividades. “Um dia ele caiu, brincando na área externa do prédio e ralou o joelho. Nada demais, mas eu fiquei apavorada. Ele ficou mais de uma semana sem colocar os pés no chão. Fui ao médico e não era nada grave, mas ele ficou com medo de cair novamente”, lembra a professora.

Esse episódio foi uma das primeiras vezes que Giovanna começou a observar o comportamento do filho. Até que, um dia, ela fez uma autoanálise após se encontrar com uma amiga e, então, passou a questionar sobre a maneira como agia. “Uma vez, estava com uma amiga e sua filha, que também é pequena. A menina começou a correr embaixo de uma árvore, passando a cabeça nas folhas dos galhos, brincando. O Raul quis fazer igual e não deixei, fiquei com medo de dar alguma alergia. Na hora, parecia ter sentido para mim. Mas quando fui embora, comecei a pensar que eu estava protegendo demais”, conta.

5 situações que mostram que você está sendo superprotetora (o)


– Você faz pelas crianças o que elas já podem fazer sozinhas;
– Tenta proteger seus filhos de desconfortos e situações conflituosas, mesmo sendo necessárias para seu próprio crescimento;
– Controla demais as atividades do cotidiano dos filhos e sempre fala o que eles devem ou não fazer;
– Faz críticas excessivas e verbaliza muitas opiniões sobre como os filhos devem fazer as tarefas;
– Está sempre em alerta e mantém vigília aos possíveis riscos que os filhos podem correr. 


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