Ter um pet em casa é, na maioria das vezes, sinônimo de companhia e diversão. Afinal, quem resiste a tanta fofura correndo pela casa, fazendo sempre muitas gracinhas? E poder observar o relacionamento que surge entre os animais domésticos e as crianças também é algo encantador. Além dos laços de amizade, a convivência com os bichinhos de estimação também é benéfica para a saúde dos pequenos, uma que vez proporciona o fortalecimento do sistema imunológico e auxilia na redução da ansiedade, entre outros.
Porém, mesmo com todas essas vantagens, a relação entre crianças e animais exige supervisão dos adultos. Segundo a Secretária Estadual de Saúde de São Paulo, cerca de 25% das pessoas atacadas por cães no estado paulista são crianças. Ainda segundo a pasta, os baixinhos que estão na faixa etária entre 5 e 9 anos, representam 14,8% do total de notificações. Já os pequenos entre 0 e 4 anos respondem por 10,5% dos ataques.
“Devemos ter em mente que crianças são imprevisíveis e, por isso, o contato com os animais domésticos deve ser sempre supervisionado por um adulto. Mesmo sendo animais conhecidos e dóceis, eles podem se assustar e se sentir ameaçados por alguma ação da criança, podendo reagir de maneira agressiva”, ressalta a pediatra Amanda de Pinho Coelho Goulart, que também é consultora em amamentação e do sono.
Entretanto, mesmo com cuidados redobrados, acidentes acontecem e mordidas de cães e arranhões de gatos estão na lista desses imprevistos, como é o caso do filho de Vanessa Martins Silva, de 32 anos.
Miguel, de 2 anos e meio, estava brincando com o cachorro da família, quando o animal avançou no menino. “Levei na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e a médica receitou antibióticos, mandou lavar, fazer curativo com uma pomada específica e ainda ficar de olho no cachorro por dez dias”, conta.
Segundo os especialistas, a atitude da mãe de Miguel foi a mais recomendada. Ou seja, caso você passe por situação semelhante de mordida ou arranhão de um animal, o primeiro passo é manter a calma, lavar com água e sabão e consultar o pediatra para avaliar a lesão. A mesma orientação vale para picadas de inseto.
Os perigos para a saúde após o ataque de um pet
De acordo com a pediatra Amanda de Pinho Coelho Goulart, durante a avaliação da ferida, o médico vai verificar a profundidade e, só então, saber se será necessário a vacinação contra raiva (em caso de mordida de cão), assim como, quais medicações serão utilizadas. “Como a boca do animal possui inúmeras bactérias, uma importante complicação é o local da mordida infectar – ficar vermelho, inchado, com secreção purulenta, muita dor e febre. Outra complicação é que mordidas muito profundas podem afetar nervos, vasos, músculos e tendões”, afirma Amanda.
De acordo com a médica Ana Claudia Lima Ferri Vasconcelos Afonso, pediatra do Portal Pedline, se for cão conhecido, de dentro de casa, e a mordida for superficial, exceto em áreas como o rosto, genitais, mãos e pés, pode ser um caso mais tranquilo e a orientação é passar com o pediatra da criança. Porém, em caso de qualquer outro tipo de mordida, os pais devem levar o pequeno para o pronto-socorro do hospital.
Outra preocupação é com relação à raiva. Apesar de estar controlada devido às campanhas de vacinação, a raiva é uma doença grave e com altíssima taxa de mortalidade. “Existem protocolos específicos para avaliar a necessidade ou não de vacinação contra a raiva após uma mordida de cachorro, que verificam o local da mordida, se o animal é conhecido e se é vacinado”, explica a médica Amanda.
Já em relação aos ataques dos felinos, existe uma doença chamada arranhadura do gato, que é causada por uma bactéria que se hospeda no pet e é transmitida por seu arranhão ou por mordidas. “Esta doença causa febre alta, línguas próximas ao local, dor no local e falta de apetite”, lista Amanda.
Veja o que fazer em casos de intoxicação infantil
Como promover uma relação saudável entre crianças e pets?
Se você já tem filhos e está pensando em ter um novo integrante na família, adotando ou comprando um bichano, saiba que antes de tudo é essencial ensinar às crianças sobre o que se deve ou não fazer com o novo mascote. “É importante ensinar a não mexer com o animal enquanto ele estiver comendo, dormindo ou com seus filhotes. Mostrar para a criança que tipo de brincadeiras e carinho o animal gosta e quais ele não gosta e, também, falar sobre como ele pode reagir se como puxarem seus pelos e o rabo, por exemplo”, afirma a médica Amanda de Pinho Coelho Goulart. “Muito antes dos pais levarem o cão para a casa e o introduzirem à nova ‘matilha’, devem ater-se às informações que serão passadas aos filhos, como responsabilidades, perigos envolvidos e as regras que serão adotadas para que todos da família sigam”, completa o médico veterinário Felipe Cambruzzi, que também é adestrador e especialista em comportamento animal.
Outro ponto que pode ajudar na prevenção de acidentes com animais é, antes de levá-lo para casa, fazer uma breve pesquisa sobre seu temperamento. “É muito importante optar pela escolha de um animal compatível com o perfil da família e tentar descobrir se ele não possui em seu histórico nenhuma associação negativa com criança”, recomenda Cambruzzi.
Mas e se o pet começar a mostrar ciúmes da criança? De acordo com o profissional, deve-se ter cuidado com as broncas direcionadas ao animal, especialmente quando o filho (a) estiver presente. “O animal poderá associar negativamente a presença da criança, ou seja, na cabecinha dele, sempre que a criança se aproxima ele leva uma bronca. E isso pode ser um gatilho para possíveis ataques”, exemplifica.
Confira 10 dicas sobre como prevenir acidentes com animais
A ONG Criança Segura traz dez dicas se segurança para garantir uma convivência harmoniosa entre crianças e pets. Confira:
– Ao ter contato com algum animal, a criança deve ser sempre supervisionada por um adulto;
– Antes de levar um mascote para casa, pesquise sobre as raças. Opte por um cachorro de temperamento mais dócil e que goste de crianças;
– Lembre-se de manter as vacinas do animal sempre em dia;
– Se o pet já era integrante da família antes de o pequeno nascer, “apresente” o bebê para o animal o mais cedo possível. Isso pode ajudar a evitar ciúmes;
– Mostre para seus filhos como se pode brincar com os cachorros. Explique que não devemos incomodar os cães quando eles estiverem comendo, dormindo ou com filhotes. Também aproveite para falar que não se bate em animais;
– Oriente os pequenos a não correrem ou gritarem próximo ao bichinho, pois essas atitudes podem estimular uma agressividade no animal;
– Ensine os baixinhos que, ao brincar com um cãozinho na rua, primeiro é necessário observar se o dono está por perto. Então, a criança deve perguntar ao adulto se o cachorro é manso e se pode passar a mão;
– Ao caminhar pela rua, diga ao seu filho que não se deve colocar a mão para dentro dos portões das casas;
– As crianças devem aprender a respeitar o espaço dos cães e não interagir com os bichinhos quando eles não quiserem brincar.
O que fazer em casos de picadas de insetos?
Pequeninos e inevitáveis, pernilongos e borrachudos, por exemplo, sempre escolhem a pele humana como alvo. E, infelizmente, seu filho vai acabar sendo picado um dia e isso, talvez, não seja um grande problema.
O maior risco é quando a criança apresenta uma reação grave, como alergias. Se isso acontecer, os sintomas serão coceiras, inchaço no local, dor e pode até aparecer uma bolha ou aparecer uma secreção.
“Ao desenvolver alergia à picada de insetos, é necessário acompanhar a lesão para ver sua evolução e, se necessário, entrar em contato com o pediatra. Caso a alergia se espalhe para todo o corpo ou a criança apresente falta de ar, chiado no peito, diarreia, sonolência excessiva ou outros sintomas que preocupem os pais, é necessário encaminhar para o pronto atendimento para ser avaliado com urgência”, orienta a pediatra Amanda de Pinho Coelho Goulart.
Para prevenir as picadas, a médica ressalta que repelentes são apenas indicados para bebês maiores de seis meses. “Em todas as idades, o uso de cortinado (bem justo no colchão para não ter risco de sufocamento) e telas de proteção nas janelas são principais modos de prevenção”, sugere.
Animais peçonhentos: como socorrer a criança?
Taturanas, aranhas, escorpiões e marimbondos são exemplos de animais peçonhentos. Em geral, são espécies que possuem ferrão com o qual injetam veneno em suas vítimas. Para evitá-los, é recomendado manter quintais e terrenos sempre limpos, não acumular lixo doméstico e nem entulho.
De acordo com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), caso a criança seja vítima de um animal peçonhento, não se deve amarrar o membro lesionado e nem chupar o local da picada. A orientação é lavar com água e sabão, manter os baixinhos em repouso e levar o mais rápido possível para atendimento médico.
Atenção com os escorpiões!
Se seu pequeno foi atacado por um escorpião, leve-o imediatamente ao pronto socorro mais próximo de sua casa. A picada do escorpião é bastante dolorida para as crianças, e algumas podem apresentar manifestações graves de determinados sintomas, como alterações respiratórias e nos batimentos cardíacos.
Para aliviar a dor, pode-se fazer compressas mornas e administrar analgésicos até chegar em uma unidade de saúde. Então, a equipe médica irá analisar a necessidade ou não de aplicar soro antiescorpiônico.
O Hospital Vital Brazil, órgão vinculado ao Instituto Butantan, disponibiliza o telefone (11) 2627-9528 para esclarecimentos de diagnóstico e consultas ambulatoriais. Localizado no próprio instituto, a unidade funciona ininterruptamente 24 horas por dia.