O termo em inglês “maskaphobia” vem sendo usado para definir um comportamento cada vez mais observado em crianças: o medo da máscara, acessório tão comum em tempos de coronavírus. Saiba como identificar e lidar com esse problema. 

Os tempos andam sombrios e às vezes parece que estamos dentro de um filme de ficção científica, não é mesmo? Vírus solto pela cidade, pessoas isoladas, desinfetantes por toda a casa, pessoas com medo de se encostar, luvas, gel….. e máscaras – muitas máscaras. Nunca imaginaríamos esse equipamento de proteção pessoal – até então usado apenas por profissionais de saúde – virasse um acessório indispensável na nossa nova rotina com o coronavírus. Elas são diferentes: azuis, floridas, de bichinho; tem filtros ou não, cirúrgicas e esquisitas ou estilosas e até mesmo de luxo.

Mas, independente do estilo ou do apelo estético desse acessório, ele pode causar medo e ansiedade em muitas pessoas – principalmente nas crianças, que não estavam acostumadas a ver as pessoas na rua –  muito menos seus pais e irmãos, dentro de casa –  usando-as. Para isso, já existe um nome: a “maskaphobia”, um termo em inglês para definir um medo que já existia antes – principalmente no Halloween, quando muita gente se fantasia – mas que vem sendo cada vez mais recorrente entre muitas famílias com crianças pequenas. Para ser considerado uma fobia, os especialistas esclarecem, o medo deve durar mais de seis meses. 

Segundo Kang Lee, professor de psicologia aplicada e desenvolvimento humano da Universidade de Toronto, em entrevista ao The New York Times, o medo surge por conta da incapacidade dos pequenos em ler e reconhecer as expressões faciais da pessoa mascarada. As máscaras, na visão deles,  distorcem a aparência da pessoa, fazendo ela parecer estranha e isso pode ser assustador. A capacidade de reconhecer a estrutura de um rosto inteiro, mesmo que coberto, começa aos 6 anos. Mas, de acordo com Dr. Lee, apenas aos 14 eles atingem o nível de um adulto em reconhecer os traços da face.

No Brasil, ao que tudo indica, a “maskaphobia” não parece ainda ser um problema alarmante. A psicanalista Patrícia Fraia, que atende crianças e adolescentes em São Paulo,  diz que ainda não percebeu um número relevante de casos de fobia de máscaras no seu consultório ou uma pauta recorrente nos grupos de discussões dos quais participa. Mas explica: “A fobia de máscara tem a ver com as fantasias da criança e o medo do desconhecido, do inominável. Quem é esse estranho que está falando comigo e eu não reconheço?”

 

Como tratar?

O que fazer, porém, caso seu filho manifeste um medo exagerado das máscaras? Catherine J. Mondloch, professora de Psicologia e diretora do laboratório de percepção facial da Brock University diz: “Se os pais precisam usar máscaras, tente coloca-la e retirá-las várias vezes, para a criança ver que o pai ainda é o pai, nada mudou”. Crianças com autismo, déficit de atenção,  hiperatividade e ansiedade social podem ser ainda mais vulneráveis nesse momento.  Outra recomendação é, se você estiver usando máscara, sempre explicar para a criança o motivo. O Dr. Harold Koplewicz presidente do Child Mind Institute, sugere: “Acho importante explicar às crianças que usar máscaras é um jeito de ajudar os outros e não algo que seja “perigoso”. As crianças devem ver isso como um ato de responsabilidade social, e pode ser comparado a lavar as mãos, ou algo que você faz para manter-se seguro, mas também para proteger os outros.” 

Além disso, para tratar as fobias, os psicólogos muitas vezes usam a terapia de exposição. O psicólogo e autor do livro “The Breathing Book”, Dr. Christopher Willard, sugere que os pais experimentem versões informais de máscaras. “Escolha tecidos divertidos, deixe as crianças desenharem nelas, faça disso uma atividade de artes e uma brincadeira. Isso faz a máscara menos assustadora”. Dr. Willard sugere ainda que afazer um conexão entre a máscara e super heróis pode ajudar, explicando que médicos e enfermeiros são heróis que protegem e ajudam outras pessoas, e as máscaras fazem parte do uniforme deles.  E sugere que os pais convidem os filhos para unirem-se no traje: “Nós também podemos ser super heróis e proteger as outras pessoas dos germes usando essas máscaras por um tempo. Vamos?”

 


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