A ideia de sucesso está hoje muito vinculada ao volume de trabalho e aos ganhos financeiros. Quanto mais alguém é solicitado para reuniões, palestras, compromissos, almoços, eventos, mais bem sucedido parece ser.
Existe um status embutido nas frases: “minha agenda está lotada”, “hoje tenho um dia cheio”, “não tenho tempo agora”. Andar sério e apressado pelos corredores do trabalho confere ainda mais importância e maior status para o conceito usual de “bem-sucedida”. E se todos esses compromissos resultarem em alta remuneração, melhor ainda. Porém, na verdade, quando nossas atividades passam a se sobrepor às cordialidades e à atenção que as relações humanas precisam ou estamos gerindo mal o nosso tempo ou precisamos rever nossa lista de prioridades. A líder- a gestora sempre ocupada que não tem tempo para ouvir seus colaboradores, tomar um café com sua secretária ou interagir com seu time terá, certamente, dificuldades para exercer sua liderança.
O mesmo acontece quando justificamos uma série de ausências e vazios na educação de nossos filhos, pois o trabalho ocupa toda a nossa agenda. A mãe que trabalha se sente culpada. Por mais que a gente tente enxergar o orgulho que nossos filhos terão de nós e a contribuição financeira para a família, existe uma carga de culpa enorme em nós, mães. E essa culpa, às vezes, nos faz ceder quando deveríamos educar, nos faz sentir vergonha por não estarmos a par da rotina do filho, nos faz responsabilizar os outros pelos erros de nossos pequenos. Afinal, quando nosso filho “cria problema”, o problema vira nosso e a gente ganha mais uma coisa para fazer.
Empresárias, líderes, chefes, mães são também gestoras de suas vidas, responsáveis pela organização de seu próprio tempo e de suas prioridades. Perder a reunião da escola, a apresentação de Natal, a visita ao pediatra, tudo isso é supernormal, e costuma não deixar traumas para ambas as partes. Mas perder tudo, todas as vezes, passa a ser sinal de má gestão do tempo, ineficiência e quase um descaso.
Ninguém deveria posar de mãe ocupada, de cara séria pelos corredores da casa, sem tempo para um café da manhã com os próprios filhos. Chique mesmo é dar bom dia, cumprimentar, acolher mesmo estando na correria do dia a dia.
Todos queremos acreditar que as mães que trabalham estão fazendo sim, o seu melhor. Ou não? Parece cenário da década de 30, mas ainda existe uma certa rivalidade entre as mães que trabalham e as que se dedicam exclusivamente à casa. As mulheres que estão no mercado de trabalho tendem a acreditar que as outras “só pensam em futilidades”, “não fazem nada o dia todo”, “não tem papo”, são “menos interessantes” e, de alguma forma, em uma suposta “escala da mulher moderna”, são inferiores. Por outro lado, as chamadas “do lar” acreditam que as mulheres que trabalham “deixam seus filhos largados”, são “péssimas mães”, “não vivenciam a maternidade” e são “workaholics”. Ainda falta um bom tanto de sororidade para que a gente consiga rivalizar menos e empoderar mais. Afinal, “lugar de mulher é onde ela quiser”, pode ser atrás do fogão ou da mesa do escritório, sem nenhum juízo de valor.
Recentemente, no Twitter, uma celebridade de apenas 15 anos respondeu a um fã: “Competição feminina é retrógrado, não é inevitável como pensam. É só reeducar os pensamentos, só isso…”. Senti vontade de abraçar essa menina! E senti pena dos meninos de 15 anos, em sua maioria, tão despreparados para lidar com a próxima geração de mulheres. Estamos caminhando bem, mas um bom tanto de sororidade ainda se faz necessária. Hoje, as meninas de 15 anos já estão antenadas. Estamos todas cansadas das culpas e das desculpas. Uma frase dessas de rede social, de autor desconhecido, ficou na minha cabeça: “É preciso ser mulher por muitos anos para desaprender as coisas pelas quais ensinaram você a se desculpar!”. Pelo que temos visto, cada vez menos anos são necessários para as meninas entenderem certas dinâmicas. Tenho trabalhado muito para que meus filhos, Bento e Joaquim, consigam acompanhar essa nova geração de mulheres em formação.
Uma amiga me contou uma história em que, no meio de uma discussão, o marido havia dito a ela: “Você não se diverte e não quer que eu me divirta”. Na mesma época, recebi um texto sobre como os homens priorizavam suas agendas em detrimento de tudo, filhos inclusive, e o quanto isso deixava a nós, mulheres, cansadas. Quem já ouviu um “Mas você é mãe”, sabe bem do que estou falando. Ao mesmo tempo, em meio a todos esses relatos, me perguntei: “o que me diverte?” e “Por que aquilo que me diverte nunca se torna uma prioridade real?”. Por fim, o marido da minha amiga tinha razão. E eu disse isso a ela. Se ele conseguia achar tempo para se divertir, por que ela não conseguia?
Nós mulheres somos educadas para cuidar, para servir, para colocar o outro (filho, companheiro, companheira) em primeiro lugar. Como se o outro fosse nossa única e exclusiva responsabilidade. Desenvolver um hobby, ter uma atividade de lazer regular, nem que seja jogar videogame (por que, não?) não é algo comum no universo feminino. Precisamos encontrar “a pelada com os amigos”, “o poker das sextas-feiras”, sem culpar aqueles que encontraram. Como as frases da internet substituíram aquelas de para-choque de caminhão, cito um clássico ensinamento das redes sociais: “faça mais o que te faz feliz”. Ter tempo é o único luxo que vale a pena ostentar.