O que países como Holanda, Malásia, Portugal e Singapura têm em comum? Segundo a pesquisa global da Education First (EF), eles estão no topo da lista dos países em que melhor se fala inglês. Mas falam com ou sem sotaque, perguntariam alguns? As avaliações de proficiência mensuram questões relacionadas à pronúncia, claro, mas desconsideram o sotaque, a interferência da língua materna no ritmo, na cadência da fala. No Brasil, por outro lado, encontro frequentemente pais que, na ânsia de oferecerem aos filhos o inglês de um nativo, sem sotaque, acabam, muitas vezes, “comprando gato por lebre”. Ao mesmo tempo, conheci adolescentes bilíngues, com certificados de alta proficiência em inglês, carregando um lindo sotaque latino.

No berçário, a educadora insere comandos, canta e brinca em inglês. Em família, o bebê recebe comandos, canta e brinca em português, sua língua nativa. Já me deparei com casos em que a educadora, usando batom vermelho, para chamar atenção para os lábios, tentava arrancar do bebê um “Hi” ou um “Bye”, sem que o mesmo fosse sequer capaz de falar “mamãe” e “papai”, assim, em português mesmo. Pé no chão, bagunça na água, autonomia de locomoção e aquisição da língua materna devem mesmo ficar em segundo plano na rotina de um bebê? Essa é uma necessidade minha, enquanto mãe, de oferecer “o melhor” ou é uma necessidade do meu filho? 

  “Quero oferecer o melhor ao meu filho”. “Hoje posso dar ao meu filho oportunidades que eu mesma não tive”. Ouço frequentemente essas afirmações e, como mãe e educadora, me policio para entender o que é “o melhor para o meu filho hoje” e não o que teria sido melhor para mim há 30 anos. O mundo mudou, as expectativas futuras também, a oferta de possibilidades hoje é enorme, meu pensamento também precisa mudar. Escolas bilíngues oferecem carga horária mínima de 3 horas por dia em inglês. Escolas internacionais oferecem toda a grade curricular em inglês, com exceção das aulas de português, claro, e Brazilian Social Studies, um mix de História e Geografia do Brasil. Escolas com Programas Bilíngues seguem a carga horária ditada pelo programa, essa carga horária varia e pode, nem mesmo, ser diária. Dependendo da instituição e de como as aulas são estruturadas, os alunos de todas essas escolas aprenderão a falar inglês. Alguns prestarão vestibular, outros estudarão fora do Brasil, outros trabalharão em grandes multinacionais com indianos, chineses e holandeses, todos se comunicando em inglês. Refletir sobre o que eu espero para o futuro do meu filho é crucial para entender o que eu espero da aprendizagem do inglês e, por fim, o que eu espero da escola de um modo geral.

Na Ivy league, grupo formado por oito das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos: Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Princeton, Universidade da Pensilvânia e Yale, sotaques diversos marcam o inglês de professores e alunos. No mundo dos negócios, o mesmo acontece com CEOs e empresários. Por que insistimos em eliminar por completo justamente o que hoje temos de mais interessante em relação ao inglês como língua global, a diversidade? Nosso bebê precisa se tornar um “native speaker” ou precisa dominar o inglês como ferramenta de comunicação? Sem ansiedade, com outra mentalidade, os pais devem refletir sobre o quê e quanto seus filhos precisam aprender de Biologia, Física e também de uma segunda língua. Estamos no mundo do raciocínio, das redes sociais, do cidadão global. Aprender inglês na primeira infância é importante, mas sem pressa, a seu tempo, com carga horária suficiente, na escola certa para cada criança. 

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