Alguns ficam com o rosto vermelho, outros chegam a ficar com as mãos tremendo. Muitas vezes o coração dispara e fica difícil até mesmo controlar os impulsos. Não há como negar que a raiva é um sentimento bastante intenso e que todos nós já experimentamos algumas vezes (ou muitas) na vida. E com as crianças também não é diferente. Elas também sentem essa emoção e, assim como nós, pode acontecer de exteriorizá-la de maneira explosiva. Afinal, se é difícil até para os adultos, porque não seria para os pequenos, não é mesmo? A diferença é que você pode ajudar sua criança a lidar com a raiva.  Mas, para isso, você precisa conseguir manter a calma. Afinal, quem nunca ficou ‘desconcertado’ diante uma ‘crise’ de raiva do filho (a)? 

Apesar de fazer parte do cotidiano, a construção cultural costuma atrelar a raiva como algo ruim. Sendo assim, nem sempre reagimos de maneira acolhedora quando a criança tem uma manifestação mais intensa dos sentimentos. Para mudar isso, o primeiro passo é reconhecer a raiva como uma emoção, assim como a tristeza e a alegria. 

“Quando éramos pequenos as nossas emoções não eram validadas e muitas vezes recebíamos ‘rótulos’ por sentir emoções. Por consequência, dificilmente os pais vão ter facilidade de lidar com a raiva da criança, porque em muitos casos o próprio adulto não sabe lidar com a própria raiva”, explica a educadora parental Estela Pretula. 

A profissional ressalta que sentir raiva não é um problema, pelo contrário. Ela tem a função até mesmo de proteção. “A raiva é uma reação do medo, isso quer dizer que se uma criança está com raiva ela tem medo, pode estar insegurança, se sentindo sozinha, se sentindo abandonada. Não existe agressividade sem medo, porque a raiva é uma forma de você ter forças para se proteger”, afirma Estela.

Agora, é preciso ter em mente que não existe uma fórmula mágica para que o adulto consiga manter a calma diante uma ‘crise’ infantil. De acordo com Estela, o que precisa ser trabalhado é a construção do autoconhecimento. “O que ajuda nesse caso é os pais se perceberem, ter consciência de como a raiva chega no seu corpo. Exemplo: tem pessoas que o rosto fica quente e em outras a barriga trava ou o coração bate mais forte. Sentir os sinais do corpo é importante para não haver ‘explosões’ com a criança”, orienta Estela.

Para a psicóloga da infância e adolescência Mariana Suemi, que é especialista em psicopedagogia clínica e institucional, os pais não devem demonstrar o mesmo sentimento de raiva para a criança, mesmo que no momento seja o que você esteja sentindo, pois ao reagir de maneira similar, isso poderá intensificar a crise da criança. 

“Sabemos que não é fácil lidar com uma situação dessa, principalmente se está num ambiente com outras pessoas, como reuniões familiares, shopping, mercado, parque, entre outros. Mas é preciso entender que situações como essas podem acontecer devido a criança não ter maturidade suficiente para expressar o que está sentindo, demonstrando o seu desconforto através do choro, gritos, medo e isolamento social”, reforça.

Na hora da raiva, seu filho (a) aprende com você

Não é novidade que a criança aprende por meio do exemplo de pessoas que ela admira, certo? Então, se você quer ajudar seu filho (a) a lidar melhor com a raiva, primeiro reflita como você tem reagido quando sente essa emoção.

“Você respira, se afasta, se acalma? Ou fala alto, bate nas coisas, bate o pé forte no chão? Os pais são os espelhos das crianças, os pais são a primeira referência para a criança”, explica a educadora parental Estela Pretula.

De acordo com a profissional, uma boa alternativa para acionar o cérebro racional da criança é cantar uma música ou contar os numerais. “Às vezes a criança vai precisar dissipar a raiva do corpo. Então, ela pode bater palmas, pular, bater os pés, amassar massinha… essas são boas estratégias para a criança voltar a se acalmar”, sugere Estela. 

4 dicas para ajudar seu filho a lidar com a raiva

A psicóloga clínica Daniele Pedrosa Fioravante Tristão, que também é mestre em análise do comportamento e especialista em desenvolvimento e orientação da família, listou quatro dicas para que você possa auxiliar a criança a lidar com esse sentimento. A profissional intitula de “quatro Rs para pôr fim à birra”. Confira:

1- Reconheça: perceba quando seu filho está cansado, estressado, com fome, com sono e saiba lidar com essas questões. É preciso estar atenta aos fatores que podem predispor à birra. Assim, você diminui muito a chance de a birra acontecer. Aproveite para conversar com seu filho e estabelecer combinados, explicando o que vai ocorrer e qual o comportamento que você espera dele;

2- Respire: se ainda assim a birra acontecer, respire! Respire você primeiramente e ensine a criança a respirar também;

3- Redirecione: para ajudar a acalmar seu filho, chame atenção dele para alguma outra atividade ou situação, retirando-o da situação causadora de stress;

4- Retome: apenas quando você e seu filho estiverem calmos, retome o ocorrido. Converse com seu a criança qual foi o combinado de vocês e ajude a avaliar se o comportamento que ela apresentou naquela situação estava de acordo ao combinado ou não. Neste momento também converse sobre qual será o comportamento esperado no futuro e o que cada um deve fazer para que consigam manter a calma.

Bater não é opção!

A gente sabe que não é fácil lidar com a raiva da criança. Muitas se jogam no chão, gritam, esperneiam e até mesmo chegam a agredir os coleguinhas, irmãos ou até mesmo os próprios pais. Mesmo nesses momentos mais difíceis, manter a calma é a melhor opção. “Os pais jamais devem bater na criança, isso é crime. A criança precisa de proteção e segurança”, enfatiza a educadora parental Estela Pretula.

É claro que também não podemos deixar que os pequenos se machuquem e firam outra pessoa. “Se isto ocorrer, avise a criança que você vai segurá-la pela sua própria segurança. Abrace-a e comece a cantar uma música ou fale para respirarem juntos”, orienta. Use e ensine ao seu filho (a) a técnica de cheirar a flor e assoprar a vela.

Como os pais podem acolher a criança nesse momento? 

Segundo a psicóloga da infância e adolescência Mariana Suemi, para conseguir acolher a criança, o primeiro passo é tentar acalmá-la. Se necessário, tire o foco do que ocasionou o sentimento de raiva, buscando distraí-la ou sair do ambiente que trouxe o  conflito. 

“Por exemplo: o seu filho está brincando com outras crianças e num certo momento ele quer pegar o mesmo brinquedo que está na mão de um colega. Quando ele não consegue o que deseja, começa a chorar e gritar. Nesse momento, tente mostrar outras opções de brinquedos para que ele possa brincar. Se caso a crise de choro permanecer, retire a criança do ambiente e tente acalmá-la em outro lugar”, recomenda Mariana.

Depois que o pequeno se acalmar, busque entender o motivo que fez a criança se sentir assim e, então, busque aconselhar da melhor maneira, ajudando a regular as suas próprias emoções.

Para a educadora parental Estela Pretula, é preciso que o adulto se conecte com o filho e/ou filha. Quando a criança ainda é muito pequena e não sabe se expressar, a mãe e/ou o pai podem oferecer abraço ou dar espaço para que ela se acalme. Para as crianças maiores, Estela sugere fazer uma reunião em família e conversar sobre o que ajuda fazer na hora da raiva. 

“Pergunte: ‘filho quando você está com raiva o que eu posso fazer?’. Quando a criança estiver no momento da raiva, diga que você está fazendo o que ela sugeriu para ver se funciona. A criança se sente importante, ouvida e aceita, pois os pais a escutaram”, acredita Estela.    

Psicóloga orienta alternativas para trabalhar as emoções com a criança

Em entrevista ao Family Center, a psicóloga da infância e adolescência Mariana Suemi, que é especialista em psicopedagogia clínica e institucional, ensinou algumas alternativas para que mães e pais possam auxiliar as crianças a entenderem as próprias emoções: 

– Ensine a criança a conhecer as emoções e identificar os seus sentimentos. Mostre para ela o que significa as principais emoções (como alegria, tristeza, raiva e medo) e quais comportamentos isso pode gerar, instruindo o que a criança pode fazer quando esse sentimento acontecer. Lembre-se de nomear: “Filho, isso que você está sentindo é raiva!”. Depois, dê o direcionamento; 

– Seja o exemplo: as crianças sempre vão observar e reproduzir o comportamento do adulto. Então, não adianta querer que o seu filho se acalme e converse, enquanto você perde o controle no momento do nervosismo. É necessário que haja coerência entre o que você cobra e o que faz;

– Desenho e pintura: as crianças podem expressar o sentimento por meio do desenho, colocando no papel as suas angústias, medos e incertezas. Incentive sua criança a desenhar depois que passar o momento de conflito. Pode ser uma alternativa para vocês conversarem sobre o ocorrido e, então, uma forma para entender o que a criança está sentindo. Tente da seguinte forma: “Filho, percebi que você ficou com muita raiva. Que tal fazer um desenho para me mostrar isso?”;

– Conte histórias: as histórias são ótimas ferramentas para trabalhar a aprendizagem e estimular as crianças. Você pode comprar livros infantis ou criar histórias com personagens que tiveram que lidar com as emoções. Fica a sugestão do livro “Dino Davissauro”, de Nanda Perim.


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