Crianças em idade pré-escolar estão apresentando atraso no desenvolvimento durante a pandemia. De acordo com uma pesquisa feita pela (UFRJ) Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, os pequenos entre 4 e 5 anos, estão demonstrando sinais de déficit no desenvolvimento da expressão oral e corporal. Para 78% dos professores entrevistados pelo estudo, os pequenos estão se desenvolvendo menos do que o esperado. Um dos motivos apontados é o fato de as crianças estarem em casa, longe dos estímulos vivenciados presencialmente no ambiente escolar.
Segundo a pediatra Jéssica Nicole, que administra a conta @suapediatra no Instagram, atrasos têm sido frequentemente relatados desde o início do isolamento social. Para ela, isso já era previsto, principalmente nas crianças que estão na primeira infância, quando a arquitetura do cérebro se desenvolve rapidamente e é altamente sensível à diversidade ambiental.
“43% de todas as crianças com menos de 5 anos de idade no mundo foram estimados em risco de não alcançar seu potencial de desenvolvimento a menos que haja intervenções direcionadas a conter esses danos”, enfatiza a pediatra.
Apesar de não ser a realidade possível para muitas famílias, a fisioterapeuta Renata Pereira da Silva, que é mestre em saúde da criança e do adolescente e pós-graduada em fisioterapia neurofuncional, acredita que em casa as crianças deveriam ter as mesmas experiências vivenciadas no ambiente escolar. “Os pais poderiam oferecer oportunidades de estímulo para o desenvolvimento físico, de linguagem e cognição. Porém, essa não é a realidade de muitas famílias, pois precisam de um espaço favorável para o aprendizado”, pontua.
De acordo com a fisioterapeuta, o ambiente em que a criança está inserida precisa ser propício para o desenvolvimento infantil, pois é nele que serão estabelecidas a relação com o mundo e com as pessoas, e que garantirá a sua formação e a sua qualidade de vida social, moral, psicológica e cultural.
“No entanto, quando as crianças vivem em um ambiente favorável mas não são estimuladas e permanecem períodos longos nesse espaço sem o convívio em sociedade e/ou sem irem para escola (devido a situação atual de pandemia que estamos vivenciando) a criança perde oportunidades de aprendizado e não experimenta performances motoras e cognitivas, contribuindo para que atrasos no desenvolvimento possam acontecer”, explica.
Renata ressalta que esses prejuízos podem se manifestar desde em atrasos perceptivos-motores, na fala, em alterações comportamentais e até em fatores relacionados a habilidades motoras amplas. “Compreender que o processo de percepção não é inteiramente inato nos faz deduzir que a qualidade e a quantidade das experiências de movimento oferecidas às crianças estão relacionadas, em certa medida, com o desenvolvimento das suas capacidades perceptivas”, afirma.
5 dicas para prevenir esses atrasos durante a pandemia
A pediatra Jéssica Nicole fez uma lista com cinco dicas valiosas para você ajudar a prevenir esses atrasos durante a pandemia:
1- Mantenha uma rotina saudável e inserir horários definidos para atividades como desenhar, montar quebra-cabeça, contar e ouvir histórias. Permita que sua criança exercite a criatividade;
2- Inclua a criança no cotidiano da casa. Incentive-a arrumar os brinquedos, a cama, ajudar a guardar os talheres e as roupas. Pense em atividades simples, que consigam realizar de acordo com a idade;
3- Limite do uso das telas;
4- Converse tranquilamente com a criança. Observe e certificando-se que ela está enxergando adequadamente sua expressão e sua articulação ao falar;
5- Lembre-se que crianças são esponjas emocionais: cuide da sua saúde mental. Exercite-se e faça terapia. Não queira enfrentar essa fase tão desafiadora sozinha!
Quais atividades a família pode incentivar a criança a fazer em casa?
Segundo a fisioterapeuta Renata Pereira da Silva, as atividades que podem ser feitas em casa devem estar relacionadas com a estimulação de habilidades motoras finas e grossas.
Para crianças maiores de 1 ano, a profissional recomenda aos pais estimularem os filhos e/ou filhas a brincarem de vencer obstáculos com degraus e objetos. Assim, a criança é incentivada a alcançar um melhor equilíbrio e trabalhar lateralidade. Outras alternativas são brincar de pula-pula na cama, correr pela casa e jogar e arremessar bolas de vários tamanhos e texturas.
Por outro lado, evite deixar os baixinhos expostos às telas, como tablet, celular, vídeo games e computador, e não incentive atividades exaustivas e/ou enfadonhas, em que a demanda seja maior do que a criança consiga executá-las.
Você sabe da importância de brincar de massinha e pintura?
Brincar de massinha, recortar, pintar, desenhar, ouvir histórias e músicas… você sabia que as execuções dessas atividades são importantes para o desenvolvimento dos cinco sentidos? “Para quem não sabe, os sentidos são imprescindíveis para o aprendizado motor e cognitivo da criança”, explica a fisioterapeuta Renata Pereira da Silva, que é mestre em saúde da criança e do adolescente e pós-graduada em fisioterapia neurofuncional.
Todas as atividades infantis que utilizam as mãos são significativas para estimular as habilidades motoras finas, servindo para auxiliá-las em atividades na escola, ao brincar e na execução de novas habilidades motoras mais adiante. “Se o seu filho não está indo para escola, mas em casa você tem a oportunidade de oferecer esses tipos de atividades, faça. Você verá que para ele (a) se tornará mais fácil o desempenho nas tarefas”, recomenda.
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