Você já parou para pensar que a infância é o período mais importante do desenvolvimento humano? Essa etapa inicial da vida exerce uma grande influência na vida adulta. “É na infância onde aprendemos, a partir da relação com nossos cuidadores primários, a nos relacionarmos com o mundo e com outras pessoas”, afirma a psicóloga de pais e do desenvolvimento Ana Flora Medeiros.

De acordo com a profissional, é ainda nesse período do desenvolvimento que uma criança começa a construir uma base a respeito do que ela sabe sobre ela mesma e o conceito que terá dela na vida adulta. 

“Por ser um período em que o ser humano é muito vulnerável e, também, por ser um momento em que a atividade cerebral é muito intensa, os acontecimentos ao longo da infância repercutem tanto positivamente quanto negativamente durante toda a vida, principalmente nos aspectos emocionais”, ressalta.

Ainda segundo Ana Flora, crianças que crescem em um ambiente negligente, onde suas necessidades afetivas não são supridas, há grandes chances de se tornarem adultos inseguros e com baixa autoestima.

É nesse sentido que pais, mães e cuidadores (as) podem e devem contribuir para um bom desenvolvimento emocional infantil, uma vez que essas pessoas são parte das primeiras relações sociais da criança e têm papéis muito importante na vida dos pequenos e pequenas.

 

Como auxiliar o desenvolvimento emocional infantil?

Para a psicóloga de pais e do desenvolvimento Ana Flora Medeiros, o primeiro ponto é que os pais, as mães e os cuidadores (as) devem ter em mente que eles são os responsáveis por atender as demandas afetivas da criança. Ana Flora afirma ainda que crescer em um ambiente de alta responsividade é um fator positivo para um desenvolvimento emocional saudável. 

“Depois, é preciso entender que os adultos são grandes modelos para as crianças. Normalmente, as crianças se espelham nesses adultos mais próximos sobre a forma como lidam com as emoções. Além de que é preciso ensinar as crianças sobre reconhecer emoções, a importância de cada uma delas e como podemos fazer gestão daquilo que sentimos”, pontua.

Sendo assim, a psicóloga destaca que o melhor caminho para isso é o próprio adulto conseguir fazer um bom trabalho com relação a sua própria gestão emocional e, dessa forma, conseguir ser um bom exemplo para o baixinho. “As crianças aprendem muito mais sobre aquilo que veem e experienciam do que sobre aquilo que apenas ouvem”, orienta.

Após o adulto aprender a lidar com as próprias emoções, a sugestão da profissional é ensinar a criança a atravessar uma emoção intensa e a pensar antes de agir motivada por algum sentimento. “É importante lembrar que, além do papel dos adultos nesse processo, existe o papel da natureza. A autorregulação, uma habilidade essencial para conseguir realizar gestão emocional, só está totalmente consolidada por volta dos 23 anos”, enfatiza.

 

Mães contam como ajudam as crianças a lidar com as emoções

A jornalista Ana Paula Mendes, de 35 anos, é mãe da Lívia, de 3 anos, conta que desde o nascimento da filha, ela e o marido sempre prezaram por se comunicar com a filha, nomeando todas as coisas, inclusive os sentimentos. “Sempre falo para a Lívia o que eu sinto, quando estou brava, com raiva, irada, quando feliz, quando estou grata”, explica.

Quando a pequena estava com 2 anos, Ana Paula retornou ao mercado de trabalho, prestando serviço como freelancer e, algumas vezes, precisava ir presencialmente para a empresa e, então, a filha passou a frequentar a escola por quatro horas diárias. E, nesse mesmo período, a pequena passou a ficar mais chorosa. Então, Ana Paula resolveu intensificar ainda mais com a filha sobre as emoções, incentivando-a verbalizar o que sente.

“Eu comecei a pesquisar e desenhei várias carinhas, como raiva e zangado. E comecei a falar mais ainda sobre isso. Foi muito importante, porque hoje a Lívia consegue falar o que ela sente. Quando ela está brava comigo, ela fala”, ressalta.

Ainda na gestação, a professora de inglês Mabelly Portes, de 42 anos, mãe do pequeno Raul, de quase 3 anos, passou a ler sobre disciplina positiva e criação neurocompatível, o que a auxiliou a proporcionar para o filho um desenvolvimento emocional saudável. “Para mim, a disciplina positiva, em primeiro lugar é o respeito a criança. Toda vez que uma situação começa a sair dos trilhos, eu penso nisso para que eu consiga resolver a situação sem descontar na criança”, afirma. 

Quando acontece alguma situação em que o filho fica emocionalmente mais sensível, com crises de choro, por exemplo, Mabelly busca ser firme e gentil, validando os sentimentos dele. “Eu falo que eu entendo que ele está chateado, com raiva porque ele queria tal coisa, mas que precisa ser da forma como orientei”, exemplifica. Ainda segundo Mabelly, manter uma rede de apoio com mães que também buscam a parentalidade positiva, é fundamental para conseguir trilhar caminhos saudáveis com as crianças. 

 


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