Quem nunca ouviu dizer que dormir tarde é prejudicial para o desenvolvimento infantil, podendo influenciar, negativamente, até mesmo na altura das crianças? Porém, um estudo da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, concluiu que ir para cama mais tarde não traz malefícios para as crianças de 2 a 5 anos, desde que os pequenos tenham horas suficientes de sono ao longo do dia ou da noite. Por outro lado, a pesquisa alerta que, após os 5 anos, o hábito de dormir após às 21h aumenta sim as chances do desenvolvimento da obesidade.
A psicóloga Jaqueline Belmudes, que também é educadora parental em disciplina positiva e educadora integrativa de sono, enfatiza que, se não há redução na quantidade de horas de sono, realmente não há prejuízos efetivos para as crianças. “Se ela vai acordar mais tarde, se ela dorme a quantidade de horas suficientes para ela à noite, então não há problemas em dormir mais tarde. Mas desde que isso seja saudável dentro da dinâmica e rotina da família como um todo. Todo esse contexto precisa ser considerado”, pondera.
Porém, a profissional alerta que, mesmo indo dormir tarde, geralmente, as crianças acordam entre 6h e 7h. “De modo geral, as crianças são mais matutinas, elas acordam mais cedo, pois é o mais natural da criança estar conectada com a natureza. Então, o relógio biológico favorece para que a criança acorde com o sol e adormeça com a escuridão, na hora que a melatonina é produzida pelo nosso organismo”, explica. Segundo Jaqueline, normalmente, perto dos 5 anos, os baixinhos conseguem acordar um pouco mais tarde, por volta das 8h.
Por isso, a recomendação de Jaqueline é para as crianças irem para a cama até às 21h. “É super benéfico que as crianças durmam até este horário por conta dessa tendência de acordar mais cedo”, sugere. Assim, os pequenos podem ter as horas de sono necessárias durante à noite.
Sono na Idade escolar
De acordo com a pediatra Loretta Campos, que também é consultora de aleitamento materno, consultora do sono e educadora parental, dormir tarde não é recomendado, principalmente, para os baixinhos que estão em idade escolar. Segundo a médica, até os 6 anos o ideal é que as crianças tenham entre 10h a 12h de sono noturno para que não haja prejuízos no seu aprendizado.
Ainda na opinião de Loretta, as crianças devem ir para a cama por volta das 20h, quando aumenta o nível da melatonina, hormônio produzido pela glândula pineal, localizada no cérebro, cuja função principal é regular o sono. “Quando a criança dorme nesse horário, em que a melatonina está mais elevada, facilita um sono mais restaurador e facilita também a produção do hormônio do crescimento, melhorando a velocidade de crescimento dessa criança”, afirma.
Além disso, a profissional destaca que uma boa noite de sono reflete até mesmo no dia seguinte, quando a criança estará mais descansada, menos irritada e possibilita, inclusive, um melhor aprendizado escolar. “A criança que dorme bem, se desenvolve melhor, tem mais concentração”, explica.
Profissionais orientam famílias a criarem rotina de sono
Para conseguir que as crianças relaxem e consigam ir para a cama mais cedo, a pediatra Loretta Campos orienta aos pais e mães a criarem rotinas de sono. “O ideal é que, desde os primeiros dias de vida dessa criança, os pais e mães façam o ritual do sono, para que essa criança vá relaxando antes de dormir. Outra dica é manter o quarto escuro para não interferir também na produção da melatonina”, recomenda.
Entre as sugestões para estabelecer uma rotina antes de dormir, a médica Loretta recomenda um banho relaxante, diminuir as atividades da casa e evitar o acesso às telas uma hora antes de ir para a cama. “A luz da tela interfere na produção de melatonina, fazendo com que a criança tenha dificuldade maior para iniciar o sono”, afirma.
Além dos rituais relaxantes, a psicóloga Jaqueline Belmudes, que também é educadora parental em disciplina positiva e educadora integrativa de sono, ainda recomenda evitar estímulos para não agitar o corpo da criança. “Para nós adormecermos, se nosso corpo estiver muito quente precisa passar por um esfriamento, pois nosso corpo muito quente não consegue pegar no sono”, explica.
Foram essas orientações que Caroline Ferreira Borini, de 40 anos, seguiu assim que saiu da maternidade. “Li ainda grávida que o bebê deve se encaixar na rotina da casa, e não ao contrário. Eu fui acostumada a dormir cedo desde bebê também, consequentemente, acordava cedo, e fiz o mesmo com a Esmeralda: por volta das 18h dava banho, amamentava e ela já dormia. Conforme foi crescendo, colocava meia hora mais tarde na cama. Hoje ela dorme às 20:30, pois vai à escola pela manhã”, explica.
Agora que Esmeralda está com 3 anos, Caroline conta que a rotina antes de dormir passou por adaptações. “Nosso ritual para o sono é tomar banho e escovar os dentes, contar uma história ou conversarmos sobre o que aconteceu durante o dia, rezamos e o abajur então é apagado para que ela possa pegar no sono sozinha”, explica.
Quanto as sonecas, até os 4 anos muitas crianças têm necessidade de dormir durante o dia e isso deve ser respeitado pelos pais e pelas mães. “Muitos pais acham que quanto mais tempo deixar a criança acordada durante o dia, melhor à noite. Quando a criança está na faixa etária que necessita da soneca, é importante deixar ela dormir. Evite deixar muito no final do dia e não deixe passar mais que duas horas, para não interferir à noite”, ressalta Loretta.
Antes do início da pandemia, a menina Esmeralda costumava dormir cerca de quatro horas no sono após o almoço. Porém, Caroline enfatiza que a duração não atrapalhava no sono noturno. “Com essa mudança que a pandemia trouxe para nossas vidas, e de não gastar tanta energia como se estivesse em um ritmo normal do seu dia a dia, as sonecas da tarde têm sido um pouco mais curtas, entre 1h30 e 2h30 no máximo, e ela tem ido para a cama às 21h. Contudo, quando voltar a frequentar a escola, voltaremos no horário antigo”, completa.
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