Desde março, quando as aulas presenciais foram suspensas por conta da pandemia, as escolas e as famílias precisaram se adaptar com a nova realidade: o ensino remoto. Mães e pais tiveram que encontrar tempo, e muitas vezes paciência, para acompanhar ainda mais de perto a educação escolar dos filhos e filhas. Por outro lado,  as equipes pedagógicas sentiram a necessidade de elaborar estratégias, gestores de investiram em plataformas e professores de aprenderam a utilizar software para gravar aulas e/ou lecionar em tempo real. Os desafios para escolas e famílias foram, e ainda são, inúmeros. Entretanto, para os pais, mães e educadores de alunos do ensino inclusivo, esse desafio parece ainda maior.

A professora Debora da Silva Lana Carlos, de 36 anos, é mãe do Davi, de 6 anos. O garoto, que tem síndrome de down, é um dos alunos de uma escola privada no interior de São Paulo. A mãe do menino conta que, no início do isolamento social, as aulas foram realizadas por meio de vídeos ao vivo, por uma rede social. Porém, nesse formato, o menino não conseguiu se engajar nos estudos. “O Davi assistia alguns minutos da aula, mas logo se dispersava, e não conseguia acompanhar toda a aula. Então, eu assistia a aula para depois aplicar com ele em um outro momento do dia”, conta Debora.

Na sequência, a escola entrou em férias. Depois, quando o ensino remoto foi retomado, as aulas passaram a ser on-line pelo Google Meet e, logo depois, pelo Plurall. “O Davi amou, porque agora ele consegue, mesmo que a distância, interagir com a professora e os amigos. Ele adora ver os amigos na tela realizando as atividades e isso o motiva a fazer também”, ressalta. Debora também destaca a postura da professora do filho, que procura introduzir o Davi na aula. “Ela pede a participação dele, valorizando as atividades que realiza. Ele gosta muito de mostrar na tela a atividade para a professora e os amigos. É notório a felicidade dele quando é elogiado pela professora ou pelos coleguinhas”, afirma.

A mãe de Davi relata, ainda, que a família conversou com a escola sobre as expectativas com relação ao desenvolvimento escolar do Davi. “Temos recebido atividades adaptadas, de acordo com a proposta da turma. Isso é mais um facilitador de interesse no Davi, ao perceber que suas atividades estão relacionadas ao assunto da turma toda”, pontua.

Para Debora, as instituições de ensino ainda estão caminhando para proporcionar uma educação realmente inclusiva e, agora, com a pandemia, o ensino inclusivo on-line é ainda mais desafiador. “Acredito muito na parceria escola/família no processo de aprendizagem das crianças em qualquer situação. Ainda mais quando estamos falando de inclusão. A escola tem seu papel central e fundamental nesse processo, mas se tiver a parceria da família, tenho certeza que os resultados serão bem mais concretos e faço o possível para que essa parceria seja real”, acrescenta.

 

Educadora também se preocupa com inclusão em tempos de pandemia

O novo cenário é visto como desafiador para a pedagoga Adriana Lira da Silva Santos, que é formada em psicopedagogia e educação especial e inclusiva. “É muito difícil, existe o medo de não atingir os objetivos propostos. A cada dia sigo em busca de ideias e estratégias para colocar em prática. Mesmo com toda minha experiência de sala de aula presencial, as aulas on-line me mostraram como se tivesse começando a dar aulas sem experiências anteriores”, afirma.

Assim que teve início a quarentena e as escolas passaram a adotar as aulas on-line, a educadora ressalta que sua maior preocupação foi com a inclusão. “Procurei conhecimentos literários, solicitei ajuda aos professores mestres e doutores da área e percebi que estávamos com as mesmas necessidades”, explica.

De acordo com Adriana, as intervenções pedagógicas que geralmente são necessárias fazer com os alunos em sala de aula, como incentivar a participação por meio de perguntas, ficaram prejudicadas no formato virtual. “Assim como o carinho, que são requisitos necessários feito presencialmente. Porém, todo esse trabalho poderá ser recuperado quando tudo isso acabar”, esclarece.

Levando em consideração as particularidades, personalidade e preferências de cada aluno e aluna, Adriana conta que busca contemplar todas as crianças nas aulas. “Buscar o avanço na aprendizagem, nas atitudes, nos pensamentos é algo essencial e todos não podem ficar de fora. É essencial conhecer seu aluno, muitas vezes uma intervenção funciona com a maioria dos alunos, embora pode não ser interessante para os outros. É necessário ser flexível e, mais do que nunca, nos reinventarmos”, ressalta a professora, que trabalha no Colégio Moraes, localizado em Americana, interior de São Paulo. 

Diariamente, Adriana busca estratégias para garantir que todos os alunos consigam atingir uma aprendizagem significativa. “Sempre acreditei na parceria, escola/família e hoje, mais do que nunca, vejo o quanto isso é importante. Me preocupo em dar oportunidades para que todos falem, opinem, às vezes mesmo fora do contexto. Percebo que todos precisam de atenção e acolhimento”, pontua.

Para a profissional, a comunicação empática e o acolhimento das crianças são fundamentais, ainda mais durante a pandemia. “Não existe receita pronta, mas existe a possibilidade de nos colocarmos no lugar do outro, para que as aulas à distância possam ser mais humanizadoras. Nenhuma aula on-line e nenhum vídeo substitui a presença do professor”, completa.

Material gratuito auxiliar famílias na educação inclusiva durante quarentena

A rede municipal de ensino de São Paulo disponibilizou um pacote de materiais didático inclusivo para auxiliar os educadores, e também as famílias, durante a pandemia. São atividades do Projeto Brincar, desenvolvido em conjunto pela Mais Diferenças, Fundação Grupo Volkswagen e a Secretaria Municipal de Educação.

O projeto tem quatro temas: ‘Cardápio para Todos’, ‘Arquitetura Infantil: reinventando os espaços’, ‘Brincando com Poesias’ e ‘Pintura à Flor da Pele’. As atividades podem ser realizas por todas as crianças, como ou sem deficiência. Para acessar, basta entrar no site. Os materiais podem ser baixados gratuitamente.


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3 Comentários

  1. celiane da silva Responder

    Boa noite! Eu utilizei uma citação desse texto em um trabalho, mas não consigo achar aqui quem o escreveu. Vocês poderiam me dar esse retorno ?

    • Luiza Cazetta Responder

      Olá, a autora do texto é Luiza Cazetta. Obrigada e desculpa a demora!

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