Olá, tudo bem? Espero que todos estejam bem nesta centena (a quarentena já passou faz tempo!). Hoje eu estou aqui um tanto frágil, tenho que dizer. E gostaria de abrir meu coração aflito de mãe. Um tanto aflito, outro tanto cansado. Já ouvi diversas vezes que, quando nasce uma mãe, nasce junto a culpa. Mas hoje, gostaria de propor uma nova interpretação para esta frase, se me permitem: quando nasce uma mãe, nasce junto uma série de novos desafios que precisamos aprender a lidar. E, um deles é a culpa. 

Desde a semana passada, devido a um processo interno, estou com uma demanda enorme de trabalho. E, para ornar com a crescente da demanda, a energia das meninas (Luiza e Giovana – gêmeas de 4 anos) está com a mesma tendência: crescendo! Ficar em casa para elas não é interessante. Não temos atividades suficiente. Especialmente durante meus dias longos de trabalho, em que não posso parar para dar a atenção que elas gostariam. 

Com o passar dos dias, cheguei em uma situação realmente muito difícil e me vi um tanto culpada por não saber o que fazer com tudo aquilo acontecendo ao mesmo tempo. Agora, vendo a situação de fora, me soa até bonitinho todas as nossas reuniões a três. Elas conheceram TODOS os meus colegas de trabalho e falamos de contabilidade junto com os nomes de cada urso de pelúcia que temos em casa. Mas, durante o período em que estava acontecendo, eu não sei dizer quantas coisas eu sentia ao mesmo tempo cansaço, impotência, urgência de terminar todas as atividades do dia e a incapacidade de fazê-lo. E é claro, a culpa. Por não dar conta delas, nem do trabalho, nem deste turbilhão de sentimentos em mim. 

Enfim, depois de uma semana equilibrando meus pratinhos, fiz uma autoanálise e pensei: o que eu poderia fazer para melhorar a situação? O que estava ao meu alcance? E entendi que, para mim, o que funcionaria seria concentrar parte das minhas reuniões em certo momento do dia, e deixar as meninas com alguém, pelo menos enquanto eu precisava falar com outras pessoas. 

E então, elegi meu pai, que mora aqui no mesmo prédio que eu, para ficar com elas alguns dias por semana por algumas horas, até que esta situação pandêmica se encerre. 

E quando chegou a hora, elas se ajeitaram, com seus ursos e mochilas, guloseimas e pequenezas. E lá se foram eles. E assim que a porta fechou, ficou aqui, na mesa de home office eu e a culpa.  

Horas depois elas voltaram felizes. Mais bochechudas. Meu trabalho estava feito. E aquela culpa toda talvez nem tivesse motivo de existência. 

Esta coluna não é um espaço de morais. Nem de ensinamentos. É um relato de uma mãe, mulher, trabalhadora, que, assim como tantos outros pais, mães e cuidadores, está equilibrando parentar, trabalhar, viver e criar pequenos seres humanos em um mundo que passa por dificuldades. Entendo que falar sobre isso é muito importante. Entender que não precisamos estar sozinhos. Que está tudo bem não estamos bem, às vezes. Quem sabe com um pouco menos de culpa. Meu abraço apertado em todos e meus sinceros desejos de saúde física e mental!

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