De acordo com dados de 2016 do Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), disponibilizados pelo Ministério da Saúde, a intoxicação é a sexta causa de mortes entre crianças de 0 a 14 anos, no Brasil. E, acredite, a maioria desses acidentes acontece dentro de casa pela ingestão de produtos de higiene, de limpeza e de medicamentos, conforme afirma o médico e presidente do Departamento Científico de Toxicologia e Saúde Ambiental da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Carlos Augusto Mello da Silva.

“Os agentes mais envolvidos em intoxicações agudas em crianças, principalmente no período pré-escolar, que corresponde a faixa etária entre 1 a 5 anos, acontecem no ambiente doméstico urbano”, destaca Mello da Silva.

De acordo com a enfermeira com pós-graduação em Urgência e Emergência e Especialista em Atendimento Pré-Hospitalar Bruna Busnardo Trindade de Souza, as embalagens e as cores desses produtos acabam atraindo a atenção das crianças, que costumam ser curiosas e exploradoras. “O formato, a coloração e o sabor dos medicamentos podem iludir uma criança. No caso de produtos de limpeza, as embalagens chamativas e coloridas, bem como o conteúdo do frasco, aguçam a curiosidade delas”, afirma.

E se não bastasse a curiosidade, as crianças ainda são espertas e ágeis. Basta um segundo de desatenção dos pais ou dos cuidadores para que elas subam em móveis, abram gavetas e alcancem aquilo que despertou a atenção. Por isso, quem tem pequenos em casa precisa redobrar os cuidados. O primeiro passo é básico: não deixar nenhum produto tóxico ao alcance dos pequenos, inclusive plantas.


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Medicamentos: use apenas com prescrição médica e deixe longe das crianças

Os remédios podem ser um grande vilão para quem tem criança em casa. Coloridos, eles acabam atraindo os olhares dos pequenos. E a curiosidade fica ainda mais aguçada caso a criança tenha o hábito de presenciar adultos consumindo medicamentos.

Foi justamente a cor de um antidepressivo que encantou a pequena Talita, de 4 anos. Ao ver um medicamento de cor rosa, a pequena o colocou na boca e engoliu. Por sorte, uma tia viu a criança mastigando e, imediatamente, levou a menina para o hospital. “Minha tia tinha deixado um pires, com dois remédios para minha avó tomar, em cima de uma mureta. É alta, mas minha menina viu e subiu. Um medicamento era branco e um era rosa. Imagina qual ela tomou? O rosa. O branco era uma vitamina, o rosa era antidepressivo”, lembra a orçamentista Angélica Nascimento, de 30 anos, mãe da menina.

Mais que depressa, a tia de Angélica pegou a caixinha do medicamento para mostrar ao médico e a família levou Talita para o Pronto-Socorro. Em menos de 20 minutos, a criança já estava sendo atendida. “O médico fez lavagem e ligou para a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para se informar melhor sobre os efeitos do remédio. Ele falou que pelo tempo que ela ingeriu e até o momento que levou para ser socorrida, não era para acontecer nada, mas que seria necessário ficar no hospital por seis horas, em observação”, conta.

Felizmente, nada de grave aconteceu com Talita. Mas sustos como esse podem ser evitados adotando algumas medidas básicas como guardar as medicações em armários altos, de preferência com chave, fora do alcance das crianças.

“Os adultos devem evitar ingerir medicamentos na frente das crianças. Elas costumam imitar os gestos dos adultos e, em caso de acesso aos medicamentos, podem acabar sofrendo intoxicações”, orienta o médico Carlos Augusto Mello da Silva.

Como o organismo reage aos produtos tóxicos?

A agilidade no socorro à pequena Talita foi fundamental para que ela não apresentasse nenhuma reação à medicação. Mas, afinal, como o organismo reage ao entrar em contato com algum produto tóxico, seja ele um medicamento ou um produto de limpeza e/ou higiene?

Segundo a enfermeira e socorrista Bruna Busnardo Trindade de Souza, os perigos de cada produto dependem de sua toxicidade, concentração, seu estado (líquido, sólido ou gasoso) e o tempo de exposição. “Quanto maior o tempo de ingestão ou inalação serão maiores os riscos dos efeitos no organismo. Porém, dependendo do produto ou medicamento, uma dose pequena pode ser fatal a uma criança”, explica.

Ainda de acordo com a profissional, outros sintomas que a criança pode apresentar ao ter contato com algo tóxico são: irritação e ardência dos olhos, mucosas do nariz, garganta, pulmões; náuseas, vômitos e diarreia.

Certos medicamentos, como os utilizados para tratamento de doenças cardiovasculares, neurológicas e psiquiátricas, preocupam os especialistas devido ao potencial quadro de intoxicação grave que podem causar, necessitando até mesmo de internação hospitalar e cuidados específicos com os pacientes. Segundo o médico Carlos Augusto Mello da Silva, doses tóxicas de medicamentos podem desencadear desde sonolência até o coma.

“Alguns produtos como limpadores de fornos e desentupidores de canos (contendo soda cáustica) podem produzir quadros clínicos graves, mas são episódios mais raros atualmente graças ao progressivo abandono de seu uso”, destaca o profissional.  “Produtos químicos cáusticos ou corrosivos levam a lesões oculares, lesões de pele e graves alterações do tubo digestivo, muitas vezes com sequelas permanentes”, acrescenta.

Meu filho comeu algo tóxico… e agora?

Sabendo dos riscos que os produtos tóxicos e os medicamentos apresentam à saúde, ao perceber que a criança entrou em contato com esses itens, é comum ficar nervoso e acabar agindo rapidamente para tentar ajudar os pequenos. Porém, algumas ações podem ser ainda mais prejudiciais, como forçar o vômito.

Se houver caso de ingestão, com sinais aparentes como odor no hálito e coloração na boca, jamais provocar o vômito na criança, pois há substâncias em que corroem a mucosa na entrada e na saída (quando ocorre o vômito). Leve imediatamente ao pronto-socorro”, ressalta Bruna.

A socorrista afirma que é recomendado apresentar aos médicos informações sobre o agente causador, como o frasco de um produto ou a cartela de um remédio que foi consumido. “Agrupe o máximo de informações da hora do acontecimento, quantidade, e fator/agente causador. Estas informações serão primordiais e ajudarão no tratamento”, enfatiza. Em caso de intoxicação, a única bebida que deve ser oferecida é a água, que segundo o médico Mello da Silva, pode ajudar a diluir o produto.

Agora, lembre-se que é fundamental manter sempre com você, e em local de fácil acesso, o telefone do pediatra e também do Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) localizado na sua região. O departamento público é referência na área de toxicologia clínica e possui atendimento em regime de plantão 24h, seja telefônico ou presencial. O órgão fornece apoio e informações sobre intoxicações e envenenamentos.

Dependendo da situação e do produto ingerido, o SAC (Sistema de Atendimento ao Cidadão) da empresa pode informar sobre a toxidade do elemento e recomendar qual é o melhor a alternativa para socorrer a criança.

CASE: Esse foi o caso que aconteceu na família da fotógrafa Ângela de Oliveira Assis Jordão, de 36 anos, que é mãe do Otávio, de 4 anos. O garoto mastigou uma pequena parte de um repelente de tomada. “Eu tinha colocado veneno na tomada, porque moro em uma região de chácara e aqui tem muito pernilongo. Meu filho tirou da tomada e, com o dedinho, conseguiu tirar a pastilha. Quando cheguei no quarto, que ele estava bem quietinho ‘fazendo arte’ e eu percebi que a pastilha estava mastigada. Ele não chegou a ingerir, mas mastigou. Estava faltando alguns pedacinhos”, conta.

A princípio, Ângela pensou em ligar para um serviço de 0800 do plano de saúde, que possibilita conversar com um médico de plantão. Porém, seu marido teve a ideia de entrar em contato com o SAC da empresa fabricante para se informar sobre qual procedimento eles deveriam tomar. “Um técnico disse que não era grave, que meu filho não corria riscos por ter colocado um pedaço na boca. O funcionário também disse que não era um produto muito tóxico e, que no máximo, ele vomitaria. Ficamos supervisionando e isso não aconteceu. Ele não teve nenhuma reação”, afirma.

O perigo das plantas

Elas são lindas, enfeitam e até perfumam a casa. Porém, não se engane: algumas plantas são tóxicas. De acordo com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), cerca de meia hora após a ingestão de uma planta venenosa, a vítima pode apresentar sinais de colapso circulatório; frequência cardíaca alta; queda de pressão arterial; sudorese; e fraqueza. Por isso, as plantas merecem nossa atenção e não devem ficar ao alcance das crianças.

A secretária bilingue Mariana Rossi Leonardo, de 40 anos, mãe do Enrico, de 1 ano e 4 meses, retirou todas as espécies que ficavam na varanda da sua casa após o menino ingerir uma orquídea.

“Eu tinha deixado a orquídea no chão e fui pegar água para molhar. Foi nesse momento, coisa de 30 segundos, que ele arrancou duas folhas e comeu. Eu fiquei preocupada e liguei para o pediatra na hora”, relembra.

O médico afirmou que a princípio não seria uma planta tóxica, mas como cada organismo reage de uma forma, Mariana deveria ficar observando o pequeno. “Isso aconteceu de manhã. Quando era umas 16h, ele vomitou e, então, corri para o hospital. Fizeram exames de sangue e de urina, mas estava tudo certo”, afirma.

Para os especialistas, Mariana agiu corretamente ao procurar um serviço médico de urgência e emergência, uma vez que o filho apresentou um sintoma (vômito), que poderia indicar um quadro de intoxicação. Outra recomendação dos profissionais é, ao ver que a criança comeu uma planta, retire cuidadosamente algum pedaço que ainda restar na boca da criança. Depois, lave a região com água corrente.

Em seguida, a orientação da socorrista Bruna é guardar essa planta e levá-la ao hospital para que os médicos possam tratar de maneira específica o caso. Uma fotografia bem feita da planta (não deixar a imagem desfocada) já pode ser suficiente para ajudar a equipe de saúde a identificar a espécie e poder decidir qual será o melhor tratamento para o quadro apresentado pelo paciente.  Outra dica valiosa e fundamental para evitar os casos de intoxicação infantil é se informar sobre quais plantas você têm em casa e evitar cultivar alguma espécie que seja tóxica.

Sou apaixonada (o) por plantas, e agora?

Se você ama manter a casa com a presença de plantas e ficou preocupada (o) com a possibilidade do seu filho (a) sofrer uma intoxicação caso entre em contato com alguma espécie, não se desespere. Primeiramente, você pode mantê-las em um ambiente seguro, desde que longe do alcance das crianças.

Para te ajudar  disponibilizamos uma lista das principais plantas tóxicas que são comumente encontradas em residências, chácaras, fazendas e jardins.

Confira:

– Comigo-ninguém-pode;

– Antúrio

– copo-de-leite

– Mamona;

– Nabo venenoso;

– Lírio-do-vale;

– Coração-de-Maria;

– Íris;

– Pinhão paraguaio;

– Coroa de cristo;

– Loureiro;

– Erva-de-passarinho;

– Trepadeira venenosa;

– Cogumelos;

– Cicuta venenosa;

– Quatro horas;

– Broto de batata.

-Caroço de pêssego

*Fonte: Fiocruz

7 dicas de como prevenir a intoxicação infantil

– Mantenha os medicamentos, produtos de limpeza, inseticidas, raticidas e plantas duvidosas longe do alcance das crianças. Se possível, deixe em armários altos e/ou com possuam trancas;

– Não ensine aos pequenos que remédio é docinho e colorido;

– Conheça as plantas que você tem em casa. Se seu filho passa o dia na casa de outro cuidador, saiba as espécies que existem por lá;

– Jamais utilize embalagens de alimentos e bebidas para estocar produtos químicos. Isso pode confundir as crianças pequenas, causando intoxicações;

– Utiliza apenas inseticidas e raticidas apenas quando a criança não estiver no ambiente;

– Armazenar raticidas em locais “escondidos”, longe do acesso dos baixinhos, pois esse produto é facilmente confundido por doces, devido ao seu formato e coloração;

– Caso tenha dúvidas sobre os riscos de algum produto químico, planta ou medicamento, peça orientação ao seu pediatra ou ao Ciatox da sua região.

Com crianças em casa devemos sempre estar atentos para garantir ao máximo um ambiente seguro. Veja aqui dicas de como você pode manter a sua casa segura para as crianças.

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1 Comentário

  1. Janaina Trindade Whitehead Responder

    Informações muito importantes e esclarecedoras! Todo cuidado é pouco com nossas crianças, principalmente dentro de nossas próprias casas! Parabéns a profissional Bruna Busnardo e ao site pela ótima matéria!

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