Meu trabalho, pela natureza da sua função, tende a ter picos de demanda. Os últimos e os primeiros dias do mês são sempre muito corridos. Mas, de uns tempos para cá, este período de, mais ou menos, 15 dias ao longo do mês, parece ter se alongado. E, pouco a pouco, parece estar invadindo e engolindo todos os outros. Agora, tenho a sensação que, todo dia, é dia de pico de demanda. E posso dizer que eu não percebi essa tendência. Mas, alguém bem próximo a mim, estava atenta.

Eis que um dia desses, estava eu, no caos do meu home office -como já contei para vocês na coluna anterior-, quando minha filha Luiza, no auge dos seus 4 anos de vida, me olha séria. Seus olhos redondos e fixos refletiam todo o ambiente. Aquela era, sem dúvida, uma cara de DR (“discussão de relação”)!

E iniciou-se o seguinte diálogo:

Luiza: “Mãe, por que adultos não gostam de brincar?”

Eu: “Claro que adultos gostam de brincar. Eu gosto!”

Luiza: “Mas você não brinca, você só trabalha.”

Ela não demonstrou qualquer dúvida. Ela AFIRMOU: “Você não brinca, você só trabalha!”. 

Sentiu a realidade doer aí? Porque aqui, eu senti!  E, de fato, ela não estava errada. 

Com o celular conectado aos aplicativos corporativos, não há como negar que são inúmeras as facilidades para nossa vida. Porém, por outro lado, acaba nos tirando um tempo importante com nossos filhos. Pelo menos aqui, é assim. O celular acaba sequestrando a atenção que poderia oferecer às minhas filhas, Luiza e Giovana, gêmeas de 4 anos. Virou rotina olhar mensagens e e-mails durante o fim de semana. Atender ligações, também. E, sem que eu me desse conta, o trabalho acabou invadindo mais um espaço pessoal. Tentei puxar na memória quantas foram as vezes em que interrompi um jogo, um programa de TV ou uma conversa, para atender um chamado do trabalho. E não foi uma, ou duas vezes. Foram dezenas. 

E então, me dei uma tarefa de casa: limitar o alcance do trabalho nos meus períodos com elas: Nossas refeições, noites, fins de semana e feriados. E, para mim, fazer este filtro foi um desafio. Ao receber uma mensagem ou uma ligação, conseguir separar o que poderia esperar até o próximo dia de trabalho, daquilo que teria que ser respondido no momento, foi e tem sido muito difícil. Afinal, meu impulso inicial era responder. E, por vezes, confesso, ainda é. 

E não é só o trabalho que tira nosso tempo precioso com os nossos pequenos. As distrações são infinitas com um celular ou um tablet na mão, não é mesmo? Tanto na mão dos adultos, quanto na das crianças, aliás. 

Neste ponto, vale dizer que existem inúmeros estudos que nos auxiliam a navegar nesta questão tão diversa que é o uso de tablets e celulares pelos pequenos, e eu não vou me aprofundar neste assunto aqui (mas aqui no Family Center, tem muito material sobre isso ;-). Mas eu posso dizer, com toda certeza, que nada substitui o nosso tempo com eles. 

O simples fato de nos sentarmos no chão e pintarmos um desenho; de jogarmos um jogo da memória, ou de brincarmos de massinha de modelar são convites para aquelas risadas espontâneas e abraços sinceros. Aquela sensação impagável de afeto quando estamos inteiros e presentes, brincando somente para ficar junto e curtindo a companhia uma da outra.  

E assim, sem que a gente perceba, vai chegar um momento na vida dos nossos filhos em que eles deixarão de ser pequenos, e talvez não sejamos mais os parceiros dos jogos e brincadeiras com a frequência que gostaríamos. Eles também estarão ocupados. Cheios de planos e projetos. Estarão prontos para desvendar o mundo sozinhos. Afinal, estamos criando nossos filhos para isso, não é mesmo? Para que possam trilhar caminhos maravilhosos por este mundão cheio de possibilidades. Queremos que eles sejam tudo o que puderem ser. Que voem alto. E que, sempre saibam onde buscar o melhor abraço do mundo: Aqui, junto a nós!

Então, quem sabe hoje ou neste fim de semana, você não consiga juntar a sua família, seja ela com filhos pequenos, ou já com crescidos, numerosa, ou somente você e seu pequeno, para juntos, criarem momentos simples, mas cheio de significados, e trilharem com eles hoje, o caminho de volta para o melhor abraço do mundo. 

Eles crescem, sim. Mas, o melhor da história é que nosso abraço cresce junto!

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