Em todo o mundo, o fechamento das escolas como estratégia para conter o avanço do novo coranavírus trouxe para a maioria das famílias mais um desafio: as aulas virtuais. Desde a suspensão das atividades escolares presenciais, grande parte das instituições de ensino adotaram a estratégia de disponibilizar aulas online e/ou enviar remotamente atividades para os alunos.

A visual merchandising Natália Dutra Marques, de 31 anos, que mora em Lisboa, conta que o governo português suspendeu as aulas, por meio de decreto, desde o dia 16 de março. Desde então, seu filho de 4 anos, que frequentava um jardim de infância, recebe semanalmente sugestões de atividades. “Aqui em Portugal a escola só é obrigatória a partir dos 6 anos. Então, os alunos até essa idade estão mais livres, já que ainda não têm um compromisso obrigatório com a escola. A escola do meu filho envia por e-mail uma planificação do que iriam trabalhar naquela semana com as crianças e os trabalhos manuais que iriam fazer”, conta. 

A designer afirma que a professora explica como introduzir o assunto, mas deixa claro a não obrigatoriedade de cumprir a tarefa, uma vez que muitos pais e mães estão trabalhando em casa, com menos disponibilidade para auxiliar nas lições. 

“Na semana passada trabalhamos o tema da Páscoa e, no fim da planificação, tinha a seguinte mensagem: ‘Como sempre, as atividades aqui propostas podem e devem ser geridas de acordo com a rotina de casa e a sua disponibilidade. Não têm duração nem dias definidos e por isso cada família poderá distribuí-las da forma que mais se adequa à sua realidade. Além disso, num momento, tão atípico e específico, como este que vivemos, não se pretende escolarizar o conceito de casa, local privilegiado para aproveitar a família, criar memórias e consolidar afetos (sic)”, traz a mensagem compartilhada por Natália.

A nota enviada pela professora ainda recomendava aos pais e mães aproveitarem a quarentena para apoiar e acompanhar o crescimento dos filhos. “Achei importante compartilhar para os pais que estão estressados nesse momento, e a procura de estarem sempre a entreter os filhos, relaxarem e perceberem que, nesse momento, temos que aproveitar o tempo juntos, tentar nos cobrar menos e mentalizar que o momento de fazer uma atividade junto tem que ser leve”, pondera Natália.

 


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Presidente da ‘Todos Pela Educação’ recomenda diálogo com os filhos

Em entrevista ao programa Roda Viva, a presidente da organização sem fins lucrativos Todos Pela Educação, Priscila Cruz, que é Mestre em Administração Pública pela Harvard Kennedy School of Government, deixou claro que, com a suspensão das aulas presenciais, a estratégia que passou a ser utilizada não é a EAD (educação à distância), mas sim o ensino remoto. 

Para tranquilizar os pais e mães que estão aflitos nessa nova rotina de estudos, Priscila deu alguns conselhos e, entre eles, recomendou a busca do diálogo com os filhos. “O melhor para gente fazer para nossos filhos em casa é dar apoio moral, apoio emocional, principalmente aqueles que estão com ensino mais intenso, que estão estressados com essa situação toda. Dê aconchego, segurança, converse. Use esse momento para estabelecer um diálogo, que às vezes, no dia a dia, a gente não consegue. Confinados em casa, a gente pode conversar muito mais com nossos filhos”, orienta.

Ela também pede aos pais para que não substituam o professor. “Se o seu filho está com dúvida, deixa ele levar essa dúvida para o professor. É muito importante que, nesse período, seja uma oportunidade de construção de autonomia. Ajuda no contato entre o filho e a coordenação, com os professores, mas não substitui. E, jamais, faça as atividades remotas no lugar do filho. A pior coisa que a gente pode fazer agora é fazer no lugar deles”, pontua.

Para Ana Cleide Almeida, orientadora do Colégio Montessoriano, esse é um momento muito importante para fomentar valores nas crianças.

“Eu acho que, apesar de estarmos vivendo um momento caótico por causa da pandemia de coronavírus, este momento vai ser muito positivo devido a essa convivência tão intensa de pais e filhos. Eu acho que muitos pais nunca estiveram tão presentes na vida de seus filhos como agora, sem delegar a educação deles. Este momento é muito especial para as famílias conhecerem mais seus filhos e participarem do seu dia a dia. A ausência que muitas vezes acontecia antes desta pandemia tem muito impacto no comportamento das crianças. É hora de fortalecer esse vínculo entre pais e filhos e investir na formação do caráter deles,  principalmente das crianças menores. É um momento importante para ressaltar valores e virtudes na rotina da casa.”

 

“Momento é de se cuidar, cuidar um dos outros”

A ativista pelas mães, crianças e natureza Anne Rammi, de 40 anos, que é idealizadora do @mamatraca, também passou a conviver com a realidade das aulas online desde o dia 20 de março, quando houve a suspensão das atividades escolares em Londres, na Inglaterra.

Anne é mãe de três crianças, que passaram a receber as tarefas por meio do site da escola. Porém, além de fazer as atividades propostas pelas professoras, Anne tem aproveitado a quarentena para refletir sobre o aprendizado dos filhos.  

“Por escolha minha e do pai dos meus filhos, a gente está refletindo todos os dias sobre o que é importante as crianças aprenderem nesse momento. E a gente sabe que o tempo de convivência em família, entre mães e filhos, pais e filhos, casais, todos esses desafios da convivência são importantes de ser explorados”, pondera.

Durante dois períodos, de manhã e à tarde, as crianças mantêm a rotina de estudos com o pai, que realiza alguma atividade proposta pela escola. Mas o aprendizado não para por aí. “Temos como prioridade cuidar das nossas relações, cuidar da paz, da colaboração na casa, e isso se espalha para um processo de aprendizado coletivo dos adultos e das crianças”, afirma. 

Anne também conta que entrou em contato com as professoras das crianças para saber quais eram as expectativas da escola com o ensino remoto. “Assim como a gente, elas concordam que o momento é de se cuidar, cuidar um dos outros, praticar bastante a introspecção. Mas a escola continua enviando essas lições, que são mais da esfera da matemática e do inglês, matérias que eles mais valorizam aqui. Já estamos percebendo que existem muitos desafios a serem superados, pois a casa não é escola e a gente não é professor. Tem muitas coisas para se aprender nessa nova dinâmica de ensinar e aprender”, completa. 


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