Não existe nada de normal em estarmos neste nível de distanciamento, nada de normal nas crianças fora da escola, nada de normal em não podermos nos abraçar, nada de normal em não podermos encontrar nossos entes queridos. Esta é uma situação emergencial. Normal que as crianças estejam mais tempo em frente à televisão, normal que resistam às atividades estruturadas enviadas pela escola, normal que percam a rotina, normal que percam a paciência. As famílias foram bruscamente confinadas em suas casas, apartamentos, condomínios com áreas de lazer interditadas. Ao mesmo tempo, tentamos criar uma ilusão de normalidade até para que possamos manter a sociedade minimamente funcionando, ainda que de forma remota: homeoffice, homeschooling, ensino à distância.  Em casa, acompanhando os números diários de mortes, entre videoconferências, pias de louça e tarefas da escola, pais e mães tentam evitar que os pequenos fiquem horas no videogame, assistindo à televisão ou simplesmente ociosos. De repente, nossos lares, lugares de descanso, se tornaram um misto de escritório, escola, restaurante e playground. Se nós, adultos, nos sentimos perdidos nessa nova rotina, imaginem vocês os pequenos. De repente, afastados de seus amigos, primos, de espaços abertos, de seus professores. Qual mãe e qual pai não se percebeu mais irritado com os filhos nesta quarentena? Gritou mais que o habitual? O habitual parece estar se reconstruindo e essa reconstrução leva tempo. Até que, em algum momento, quando estivermos quase adaptados, ainda que forçosamente, iremos nos reconstruir mais uma vez. Aos poucos, crianças e adultos retornarão às suas atividades. Nova reconstrução a caminho.  Calma! O peso da quarentena não é o peso normal. O peso da culpa, do cansaço, do estresse, do medo, do comer por ansiedade. Calma! Seu filho não vai ficar ocioso para sempre, não vai jogar videogame por horas a fio para sempre, não vai comer nesse volume para sempre, não vai resistir às atividades da escola para sempre, não vai trocar o dia pela noite para sempre. Este não é o novo normal. O novo normal nós ainda construiremos juntos. Certamente ele não será como aquele que nós conhecemos, pelo menos não por um bom tempo. Mas certamente ele não será como a vida que estamos vivendo agora. Saber que vai passar ajuda. Ajuda a se cobrar menos, a cobrar menos dos filhos, a se permitir um pouco mais. Ajuda a entender que haverá tempo para retomar hábitos perdidos. O mais importante agora é manter-se saudável, física e psicologicamente, cada um a seu modo, fazendo aquilo que lhe mantém lúcido. Quando tudo isso passar, os adultos lembrarão da crise financeira, das mortes, do estresse. Quais memórias guardarão nossas crianças? Que sejam as melhores possíveis. Vai ficar tudo bem!
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