Executivos de grandes empresas do Vale do Silício, nos Estados Unidos, estão buscando instituições de ensino que limitam o uso de aparelhos tecnológicos na infância. Apesar de atuarem na criação, produção e venda da tecnologia utilizada pela sociedade do século 21, esses profissionais estão determinados a manter os filhos (as) longe das telas de celulares e tablets.
Em 2017, o programador e um dos fundadores do Facebook, Mark Zuckerberg, escreveu uma carta para a filha, recém-nascida, estimulando a menina para sair de casa e brincar. Já O criador da Apple, Steve Jobs, disse em 2011 que o acesso dos filhos à tecnologia era limitado dentro de casa. Por sua vez, o fundador da Microsoft, Bill Gates, também já deixou claro que restringe o tempo dos gadgets e os filhos são proibidos de usar celular na hora das refeições.
E foi nessa busca por uma educação longe dos aparelhos tecnológicos que os administradores do Google e da Apple, por exemplo, matricularam os filhos na escola particular Waldorf of Peninsula. Ali, como em toda escola de educação Waldorf, os estudantes só têm contato com as telas no ensino médio.
Mas por qual motivo esses pais, profissionais do alto escalão da produção de tecnologia, estão restringindo as crianças do contato com celulares e tablets? A resposta está no benefício limitado do uso de gadgets na infância.
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Duas horas é o tempo máximo de tela para crianças
Para a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), duas horas por dia é o tempo máximo de uso de tela recomendado para crianças acima de 6 anos. Segundo a entidade, a utilização da tecnologia digital deve ser limitada e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial.
Entre as consequências do uso excessivo das telas estão o aumento da ansiedade, a dificuldade de estabelecer relações em sociedade, o estímulo à sexualização precoce, risco de cyberbullying, comportamento agressivo, transtornos de sono e de alimentação, baixo rendimento escolar, lesões por esforço repetitivo, entre outros. De acordo com a SBP, o uso precoce e não supervisionado dos dispositivos eletrônicos tem causado prejuízos cognitivos, psíquicos e físicos nas crianças e adolescentes, como isolamento, depressão, déficit de atenção, problemas de linguagem e transtornos ligados ao sedentarismo, como a obesidade.
Há pouco tempo, o governo dos Estados Unidos publicou um estudo sobre o efeito das telas no cérebro. A pesquisa, que realizou o acompanhamento de 11 mil crianças durante uma década, revelou que as crianças que tiveram mais de duas horas diárias acesso aos aparelhos tecnológicos apresentaram níveis inferiores em testes de raciocínio e de linguagem.
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Quais metodologias limitam o uso da tecnologia?
O livre brincar, o contato com a natureza, a expressão artística e o desenvolvimento humano são os princípios da educação Waldorf, cujo objetivo central é estimular o desenvolvimento saudável da imaginação e da criatividade. Sendo assim, a pedagogia Waldorf recomenda evitar o uso das tecnologias durante a infância para que não atrapalhe o processo imaginativo da criança.
“A prática pedagógica proporciona que o aprendizado se dê através da arte, não só a matéria em si, como por exemplo, pintura, dança, euritmia, trabalhos manuais e música. A linha pedagógica está ancorada no desenvolvimento do ser humano em paralelo ao desenvolvimento da humanidade”, explica a professora de classe Waldorf Helena Wurker e diretora da FEWB (Federação das Escolas Waldorf no Brasil)
Segundo a federação, apenas no ensino médio os alunos passam a usar computadores em sala de aula. “Pondera-se que é mais importante para os estudantes ter a oportunidade de interagir entre si e com os professores, na exploração do mundo das ideias, participando do processo criativo e desenvolvendo conhecimento, capacidades, habilidades e qualidades interiores”, afirma a federação.
Já nas escolas Montessori, que também preza pelo respeito às necessidades dos alunos e suas capacidades individuais, a tecnologia entra em sala a partir dos 6 anos, sendo utilizada como ferramenta complementar para pesquisas. Até os 12 anos, são dois computadores por sala. Depois, para os adolescentes, são disponibilizados cinco equipamentos por classe.
“Tem-se o cuidado de ensinar aos alunos, sempre, a pesquisarem antes em livros, sendo que há uma biblioteca em cada sala de aula, com autores variados sobre as diferentes áreas curriculares. Posteriormente, eles partem para buscas em sites criteriosamente escolhidos”, explica a psicopedagoga Sonia Maria Braga, Especialista em Educação Montessori, Diretora Pedagógica de Meimei Escola Montessoriana e Presidente da Organização Montessori do Brasil.
De acordo com Sonia, os alunos aprendem sobre a ética no uso da tecnologia. “A partir dos 12 anos até o ensino médio adotamos o Google for Education, pois oferece a possibilidade de trabalho compartilhado simultâneo. Há sempre supervisão de professor. E, ressalto, não é ferramenta única. É mais uma possibilidade para as atividades que são desenvolvidas. E não usamos plataformas prontas. O aluno continua a ser estimulado a buscar informações, aprender a fazer coleta de dados , a selecionar conteúdos e analisá-los”, destaca.
Entre os diferenciais das escolas Montessori está a utilização de móveis leves, fáceis de serem transportados; materiais que possibilitem educação sensorial, além de desenvolvimento e enriquecimento da linguagem; o aluno tem liberdade para escolher qual atividade deseja fazer; também não há cadeiras enfileiradas e nem quadro branco para o professor.
Guia de uso da tecnologia para educadores e instituições de ensino
Publicado pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), o manual “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital” traz recomendações de como deve ser o uso da tecnologia pelos professores e instituições de ensino. Confira:
• As escolas devem informar de modo adequado e detalhado os educadores e professores sobre o uso ético, saudável e seguro das tecnologias e aplicativos durante o tempo de convívio com os estudantes dentro das instituições de ensino;
• Estabelecer regras e limites no contato diário entre professores-alunos e alunos-alunos. O objetivo é evitar mensagens e encontros com desconhecidos a partir do uso das tecnologias;
• Debater e conscientizar sobre o dever de respeito aos direitos autorais das fontes pesquisadas nas tarefas. Explica a importância de citar a fonte;
• Produzir com os estudantes materiais educativos sobre o uso adequado das tecnologias digitais. Pode-se incentivar a apresentação de atividades culturais, como apresentação de peças teatrais;
• Sexualidade e exploração sexual online, comportamentos de violência na internet e cyberbullying são temas que devem ser abordados pela escola. A SBP se coloca à disposição para indicar pediatras para abordar o tema em cada cidade;
• Professores devem estar atentos aos sinais de riscos pessoais, sociais ou digitais que o aluno possa apresentar.
Confira nossa coluna de Educação Digital, escrita pela educadora Luiza Mendonça!