Ao observar os olhos do seu filho ou filha, você notou algo diferente na posição, como se eles estivessem apontando para direções diferentes e desalinhados? Certamente, você ficou preocupada (o), não é mesmo? Afinal, será que esse desvio no olhar pode indicar um estrabismo infantil?

Primeiramente, é preciso entender que cada olho possui seis músculos responsáveis pela movimentação do globo ocular. “Quem comanda essa movimentação é o cérebro através dos nervos que inervam estes músculos. Qualquer alteração que afete alguma parte desse sistema cérebro-nervo-músculo, irá fazer o olho desviar e causar o estrabismo”, explica a oftalmologista Gabrielle Angelim, que especializada em oftalmopediatria e estrabismo. 

De acordo com Gabrielle, há casos de crianças que nascem com estrabismo por uma anormalidade desse controle neuromuscular e, logo no primeiro ano de vida, os pais notam o desvio. Porém, até os primeiros três meses de vida de um recém-nascido, os olhos também podem desviar eventualmente. “Nessa idade, o cérebro ainda está aprendendo a controlar a movimentação dos olhos. No entanto, apenas desvios intermitentes são considerados normais nesse período. Caso o recém-nascido apresente um estrabismo que seja persistente, uma consulta com oftalmopediatra deve ser marcada o quanto antes”, recomenda Gabrielle.

Ainda há casos que se desenvolvem ao longo do crescimento da criança e podem estar associados a algum grau de óculos, que acaba gerando o desvio. “Ao tentar compensar um alto grau para conseguir enxergar, o estrabismo acontece”, explica Gabrielle.

A oftalmopediatra Dayane Issaho, que é especialista em estrabismo e chefe do setor de Oftalmopediatria e Estrabismo do Hospital de Olhos do Paraná, afirma ainda que existe o estrabismo acomodativo, que é causado pelo esforço visual relacionado à necessidade de óculos. “Algumas crianças, ou mesmo adolescentes e adultos, quando possuem hipermetropia (grau que dificulta a visão de perto), podem começar a forçar a visão para conseguir focar. Esse esforço visual pode ser a tal ponto que os olhos começam a desviar para dentro (estrabismo convergente). Quando a criança coloca os óculos, o desvio desaparece, pois já não é mais necessário o esforço visual”, afirma.

Segundo Dayane, algumas crianças também apresentam desvios no olhar que estão relacionados com algumas doenças, como síndrome de Duane, síndrome de Möebius e síndrome de Brown.

A médica Dayane ainda destaca que existem crianças com falso estrabismo, comum em pequenos orientais ou com ascendência indígena ou negra. “Ocorre uma falsa impressão de que os olhos estão desviando devido ao formato das pálpebras e à presença de uma preguinha de pele chamada epicanto. Em geral, com o crescimento da criança e desenvolvimento do osso nasal, o aspecto de desvio melhora”, explica.

 

Quais sinais os pais devem observar para procurar atendimento médico?

Se você está preocupada (o) com o olhar do seu filho ou filha, a oftalmologista Mariana Wisneski, que tem especialização em oftalmopediatria e estrabismo, afirma que o primeiro sinal que os pais e mães devem observar é ser há um desalinhamento dos olhos. “Não precisa ser constante, pode ser de vez em quando ou pode aparecer apenas em uma posição específica. Por exemplo: olho desvia apenas quando olha para cima”, orienta.

Crianças que reclamam de dor de cabeça ao fim do dia e/ou fecham um dos olhos quando veem a luz do sol, também merecem atenção. “É preciso destacar a importância da realização de consultas oftalmológicas nos bebês e crianças. Recomendamos que a primeira consulta seja entre 6 meses e 1 ano de vida”, enfatiza.

De acordo com a oftalmologista Marcela Zantut, especializada em estrabismo e oftalmopediatria, não existe uma idade mínima para que o estrabismo seja diagnosticado e tratado. “Recebo muitos pacientes que passaram previamente com outros colegas que  orientam aguardar até os 2 anos para ver se o estrabismo regride. Esta orientação é inadequada e prejudica o desenvolvimento da visão”, enfatiza.

Para Marcela, assim que os pais suspeitarem de olhinho torto ou movimentação diferente dos olhos, seja por foto ou pessoalmente, a criança precisa ser examinada o mais breve possível. “Essa consulta precisa ser completa, com exame de motilidade ocular e dilatação das pupilas para avaliar grau de óculos e fundo de olho”, orienta.

A oftalmopediatra Dayane Issaho, compartilha da mesma opinião. “A parte visual da visão está se desenvolvendo no cérebro até cerca de 7 e 8 anos. Por isso, qualquer alteração nesse período de maturação visual pode prejudicar o desenvolvimento da visão e causar o que chamamos de ambliopia (visão preguiçosa)”, esclarece.

 

Existe mais de um tipo de estrabismo?

Segundo a oftalmologista Juliana Friedenberg, que é especializada em oftalmopediatria e estrabismo, existem diversos tipos de estrabismo. “São ditos congênitos quando existem desde o nascimento, geralmente percebidos até um ano de idade, ou adquiridos, quando surgem em outro momento da vida”, explica. 

Juliana ainda ressalta que podem ser horizontais, e nesse caso classificados entre esotropias – quando o desvio dos olhos é em direção ao nariz – e exotropias, quando desviam em direção à orelha. “Os estrabismos verticais, por sua vez, são as hipertropias ou hipotropias, quando o olho está desviado para cima ou para baixo, respectivamente”, completa.

E há ainda os casos de estrabismos paralíticos, causados por lesões nos nervos responsáveis pela movimentação dos olhos; e estrabismos restritivos, quando existe limitação à movimentação por alguma causa mecânica, como alteração na anatomia dos músculos extraoculares ou da órbita.

 

Como é feito o tratamento para o estrabismo infantil?

Segundo a oftalmologista Simone Nakayama, especialista em oftalmopediatria e estrabismo, é possível tratar o estrabismo com prescrição de óculos, cirurgia, injeção de toxina botulínica ou tampão. Entretanto, o tratamento mais indicado para cada criança depende de qual tipo de estrabismo ela tem.

“Alguns estrabismos vão ser corrigidos com uso de óculos. Nestes casos, o estrabismo não é curado com óculos e, sim, compensado, mantendo o alinhamento dos olhos durante o uso”, explica Simone.

A oftalmopediatra Dayane Issaho ressalta que o tampão é utilizado com bastante frequência em crianças com estrabismo. Entretanto, ela afirma que, ao contrário do que a maioria acredita, ocluir um dos olhinhos não tem a finalidade de forçar a musculatura do olho, mas, sim, estimular a visão da criança. 

“Crianças com estrabismo apresentam um risco muito grande de desenvolver o que chamamos visão preguiçosa. O fato de um dos olhinhos ficar desviando constantemente faz com que o cérebro das crianças abaixo dos 8 anos entenda que há algo errado, pois cada olhinho está focando uma imagem diferente. Como um mecanismo de proteção para que a criança não tenha visão dupla, o cérebro que está em desenvolvimento começa a ‘borrar’ a visão do olhinho torto, e a visão desse olho começa a ficar preguiçosa”, exemplifica.

Por isso, quando é colocado o tampão no olho que não tem desvio por algumas horas diariamente, ocorre a estimulação da visão do “olho preguiçoso” e, assim, é tratada a ambliopia provocada pelo estrabismo.

Entretanto, ainda de acordo com Dayane, a maioria dos casos de estrabismos necessita de correção com cirurgia. “Na cirurgia de estrabismo, nós reposicionamos a musculatura extraocular, fortalecendo ou enfraquecendo o músculo, dependendo do tipo do desvio. A cirurgia de estrabismo é considerada hoje em dia um procedimento bastante seguro. Em crianças, fazemos sob anestesia geral e em adultos com anestesia local e sedação. A cirurgia pode durar de 30 a 60 minutos e o paciente recebe alta no mesmo dia”, pontua.

O site do CBE (Centro Brasileiro de Estrabismo) disponibiliza a relação de todos os especialistas em estrabismo do país. A lista está disponível aqui.

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