A curiosidade e a falta de senso de perigo podem levar as crianças a brincarem de maneira arriscada. Colocar objetos em tomadas, puxar cabos de panelas e encostar no forno quente são exemplos de ações que despertam a curiosidade das crianças, mas que podem levar a ferimentos graves. Segundo a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), as queimaduras são a quarta maior causa de morte entre os pequenos.

Segundo dados do órgão, divulgados pela ONG Criança Segura, em 2017, mais de 20 mil crianças e adolescentes de zero a 14 anos foram hospitalizadas vítimas de queimaduras acidentais no Brasil. Ainda de acordo com organização, queimaduras correspondem a segunda maior causa de internação por motivos acidentais, ficando atrás apenas das quedas.


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O pequeno Lucas, de 5 anos, já faz parte dessa estatística. O garoto se feriu após segurar com uma das mãos um ferro de passar roupa que estava na tomada. “Meu marido passou uma roupa e deixou o ferro ao lado do sofá. Meu menino pegou o ferrou e segurou. Só que ele assustou e não soltou imediatamente, ficou chorando com o ferro na mão”, lembra a mãe Rebeca Oliveira, de 32 anos.

O garoto foi levado ao hospital, onde a equipe médica fez raspagem e enfaixou o membro ferido. Depois, por pouco mais de uma semana, a criança era levada diariamente para a unidade de saúde, onde era feita a limpeza e aplicação de uma pomada. Até que, finalmente, a pele se recuperou e a lesão não deixou nenhuma cicatriz.

Situações com a vivida pela família de Lucas, infelizmente, acontecem com frequência. Mas a boa notícia é que grande parte das ocorrências podem ser evitadas.

 

Cozinha: a principal vilã

De acordo com SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a maioria das queimaduras acidentais envolvendo crianças ocorre na cozinha e com a presença de um adulto. A mais comum, segundo o órgão, é a escaldadura (queimadura causa pelo contato com líquidos quentes), sendo as principais vítimas crianças menores de 5 anos.

Sendo assim, a recomendação da SBP é colocar uma barreira física, como uma grade de proteção na porta da cozinha. Também deve-se evitar usar a boca dianteira do fogão para fervura de líquidos e frituras. Panela com o fundo amassado e fogão que balança também podem ser perigosos. “Líquidos e alimentos quentes não devem ser manuseados com a criança no colo e devem ser mantidos longe da borda dos balcões, pias e mesas. E lembre-se: a criança pode puxar a toalha de mesa! Todo cuidado é pouco ao transportar panelas com líquidos quentes”, recomenda a organização médica.


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Os pais e cuidadores também devem dar uma atenção especial para com a tampa do forno, pois as crianças podem usá-la como degrau, virando o fogão e as panelas em cima delas.

Uma situação parecida aconteceu na casa de Juliana Kurt, de 24 anos. “Segurando na alça de abrir o forno, minha filha colocou os pés no vão entre a tampa e a base do fogão. Automaticamente, o próprio peso dela fez com que a tampa do fogão abrisse. Então, ela caiu e, com o movimento de abertura da tampa, um dos pés ficou preso no vão que ela usou para subir, ficando prensado. Eu e minha sogra demoramos cerca de um minuto para conseguir livrá-la. O pezinho dela ficou dolorido, mas não chegou a causar torção então só coloquei gelo. Eu estava começando a fazer a janta, mas, ainda bem, não tinha nada no fogo”, lembra.

 

As 5 principais causas de queimadura

A escaldadura lidera a lista das principais causas de queimaduras em crianças. Mas, além dela, a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) também destaca outras quatro situações:

– Contato com fogo e objetos quentes: as queimaduras causadas por chamas são consideradas mais graves, pois atingem uma maior extensão e profundidade da pele. Geralmente, a álcool é um dos principais agentes causadores desse tipo de ferimento;

– Queimadura provocada por substâncias químicas:  a ingestão de soda cáustica é a maior fonte de queimaduras químicas nos baixinhos. O conteúdo corrosivo está presente em pequenas pilhas, baterias de relógios e de aparelhos eletrônicos, que podem ser facilmente encontrados e manuseados pelas crianças;

– Queimadura por exposição à eletricidade: acidentes por fios e aparelhos elétricos também são mais registrados com maior frequência em crianças menores de 5 anos. Crianças mais velhas costumam ser vítima desse tipo de queimadura ao empinar ou retirar pipas da rede elétrica têm contato com fios de alta tensão;

– Exposição excessiva ao sol também está na lista das principais causas de queimaduras em crianças. Lembre-se de usar protetor solar e evite a exposição excessiva ao sol.

 

15 dicas para deixar seu filho longe das queimaduras

Confira as recomendações do cirurgião de trauma, urgências e emergências  e CEO do Grupo Surgical, Bruno Pereira:

  1. Nunca deixe o fogão ou forno ligados sem supervisão de um adulto. Mantenha cabos e alças de panela virados para dentro do fogão.
  1. Teste a água do chuveiro ou banheira antes de colocar uma criança no banho.
  1. Mantenha líquidos quentes fora do alcance das crianças.
  1. Mantenha os aparelhos elétricos longe da água.
  1. Verifique a temperatura dos alimentos antes de alimentar uma criança. 
  1. Não aqueça a mamadeira no microondas.
  1. Nunca cozinhe enquanto estiver usando roupas soltas que poderiam pegar fogo ao se aproximar do fogão.
  1. Se uma criança pequena está presente, bloqueie o seu acesso a fontes de calor como um fogão, churrasqueira ao ar livre, lareira e aquecedor de espaço.
  1. Antes de colocar uma criança em um assento de carro, verifique se há cintas ou fivelas quentes.
  1. Desconecte os ferros e dispositivos semelhantes quando não estiver em uso. Guarde-os fora do alcance de crianças pequenas.
  1. Cubra as tomadas elétricas não utilizadas com tampas de segurança. Mantenha cabos elétricos e fios fora do alcance de crianças.
  1. Se você fuma, evite manter esse hábito dentro de casa e, especialmente, nunca fume na cama ou no sofá.
  1. Nunca acenda fogo com combustíveis líquidos como álcool e gasolina.
  1. Mantenha um extintor de incêndio disponível em sua casa.
  1. Mantenha os produtos químicos, isqueiros e fósforos fora do alcance das crianças

 

Afinal, como são classificadas as queimaduras e quando é necessário procurar atendimento médico?

As queimaduras são ferimentos causados, na maioria das vezes, por agentes térmicos ou elétricos, conforme ressalta a SBQ (Sociedade Brasileira de Queimaduras). “Elas afetam os tecidos de revestimento do corpo humano, determinando destruição parcial ou total da pele e seus anexos, podendo atingir camadas mais profundas, como tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos. As queimaduras são classificadas de acordo com a sua profundidade e tamanho, sendo geralmente mensuradas pelo percentual da superfície corporal acometida”, explica o médico Bruno Pereira.

As lesões classificadas de 1˚ grau, também denominadas de queimadura superficial, envolvem apenas a epiderme, a camada mais superficial da pele. “Os sintomas são intensa dor e vermelhidão local, mas com palidez na pele quando se toca. A lesão da queimadura de 1º grau é seca e não produz bolhas. Geralmente melhoram no intervalo de três a seis dias, podendo descamar e não deixam sequelas”, afirma o profissional.

Atualmente, a queimadura de 2º grau passou a ter duas divisões: superficial e profunda. Nesse caso, a superficial é aquela que envolve a epiderme e a porção mais superficial da derme. Os sintomas são os mesmos da queimadura de 1º grau, incluindo ainda o aparecimento de bolhas e uma aparência úmida da lesão. A cura é mais demorada, podendo levar até três semanas. Não costuma deixar cicatriz, mas o local da lesão pode ficar mais claro.

Já as de 3º grau são aquelas lesões profundas que acometem toda a derme e atingem tecidos subcutâneos, com destruição total de nervos, folículos pilosos, glândulas sudoríparas e capilares sanguíneos, podendo, inclusive, atingir músculos e estruturas ósseas. “São lesões esbranquiçadas/acinzentadas, secas, indolores e deformantes que não curam sem apoio cirúrgico, necessitando de enxertos”, informa.

Ainda segundo Pereira, as queimaduras de segundo e terceiro graus são queimaduras mais graves e necessitam de auxílio médico. Mas na hora do choro e do desespero da criança, nem sempre é fácil manter a calma para tentar analisar em qual classificação a lesão se encaixaria. Afinal, como decidir se será preciso levar a vítima para o pronto socorro?

“Os pais devem procurar um hospital sempre que houver comprometimento do estado geral da criança; quando a queimadura for superior a 10% da superfície corporal; quando atingir face, períneo ou grandes extensões de mãos e pés; e nos casos de queimaduras por agentes químicos (sempre levar o produto para o hospital)”, esclarece a médica pediatra e neonatologista Sibila Aiache Pegoraro.



Quais devem ser os primeiros socorros?

Caso seu filho, ou uma criança que esteja no mesmo ambiente que você, seja vítima de queimadura, o primeiro passo é colocar a região ferida debaixo de água corrente. Compressas frias (não geladas) também funcionam. Permaneça com essas alternativas até o alívio da dor. “O resfriamento das lesões com água fria é o melhor tratamento de urgência da queimadura. A água alivia a dor, limpa a lesão, impede o aprofundamento das queimaduras e diminui o edema (inchação) subsequente”, explica a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).

Caso a roupa da criança esteja cobrindo a área queimada, é necessário retirá-la. Se o tecido estiver grudado na pele, mantenha o membro embaixo da água até que possa ser retirado com delicadeza. Depois, retire qualquer acessório que possa estar próximo do ferimento, como anel, sapato e pulseira. Cubra a região afetada com panos limpos e procure atendimento médico.

Jamais recorra a medicamentos caseiros ou outras substâncias como pasta de dente, café, manteiga, entre outros. Se a dor for intensa, pode-se administrar analgésicos, conforme prescrição médica.

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