Uma em cada dez crianças roncam. A estatística é da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e mostra que esse ‘problema’ não fica restrito aos adultos, já que 10% dos pequenos vão apresentar esse barulho provocado pelas vibrações das partes internas da garganta e do nariz. Entretanto, não é normal a criança roncar. Quando é ocasional, provocado por gripes e resfriados, por exemplo, não há com o que se preocupar. Agora, há casos em que pais e mães devem ficar em alerta com o ronco infantil.

“Quando o ronco se torna frequente, aparecendo três ou mais vezes por semana, não é normal, deve ser investigado e tratado”, afirma a pediatra e pneumologista infantil Débora Tolaini.

Uma das grandes preocupações dos especialistas na área é com a apneia do sono, um distúrbio em que a respiração é interrompida por diversas vezes, e que tem o ronco como um dos sintomas principais. “Precisa observar se, além de roncar, essa criança faz apneia? Está roncando e para de respirar por alguns segundos? Isso é um quadro que precisa ser observado. Tem um sono muito agitado? Se debate muito na cama? Acorda várias vezes à noite? São sinais de que pode estar acontecendo apneia, quadro grave que precisa ser tratado”, ressalta a otorrinolaringologista e foniatra Juliana Bertoncello. 

De acordo com a médica Juliana, o ronco infantil indica que está acontecendo algo com o quadro respiratório noturno e, o caso merece ainda mais atenção se a criança apresentar apneia. “Vamos nos preocupar mais ainda por conta da apneia, porque em alguns segundos vai ficar sem respirar. Uma das consequências mais graves é alterar o quadro da pressão dessa criança. Ainda pode atrapalhar a concentração, a criança pode ir mal na escola e ter até erros de diagnóstico como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), mas na verdade era só uma criança vítima de apneia do sono”, pontua Juliana.

Diferentemente dos adultos, a otorrinolaringologista explica que os pequenos (as) podem ter apneia desencadeada por fatores anatômicos mais simples. “É muito comum que essa criança tenha quadros respiratórios, como uma hipertrofia de adenoides e uma hipertrofia de amígdalas, ou mesmo quadro de rinite alérgica, que possam estar comprometendo o quadro respiratório e levando ao ronco e até mesmo apneia”, enfatiza. Porém, há tratamento adequado e cura para esse distúrbio do sono.

6 sinais de alerta para o ronco infantil

A pediatra e pneumologista infantil Débora Tolaini listou seis sinais que servem de alerta sobre o ronco em crianças. Confira:

1. Roncar três ou mais vezes por semana;
2. Observar que a criança faz apneia, que é uma pausa respiratória durante o sono. Uma maneira mais simples para verificar isso é observar o seguinte: repare se ela ronca, para de roncar por alguns segundos e logo em seguida volta a roncar mais alto;
3. Hiperatividade e desatenção:  diferente dos adultos, as crianças não costumam manifestar a privação de sono com a sonolência. Geralmente, elas ficam mais agitadas e irritadas;
4. Enurese noturna (xixi na cama);
5. Respiração oral: aquela criança que fica com a boca aberta na maior parte do tempo
6. Comorbidades: algumas doenças estão relacionadas com maiores índices de ronco e apneia do sono, como: anemia falciforme, asma, refluxo gastroesofágico, paralisia cerebral, prematuridade, entre outras.  

Quais os prejuízos do ronco para o desenvolvimento infantil?

O ronco pode atrapalhar a qualidade do sono dos baixinhos. Consequentemente, segundo a pediatra e pneumologista infantil Débora Tolaini, a criança com privação de sono, por causa do ronco, pode ter distúrbios de comportamento, desatenção, hiperatividade, sonolência diurna, dor de cabeça e dificuldade de aprendizado.  

“A longo prazo, os distúrbios do sono, podem levar a prejuízos no crescimento e desenvolvimento, com comprometimento do aprendizado. Também pode causar alterações metabólicas e cardiovasculares, como, diabetes, obesidade e pressão alta”, pontua Débora.

Por isso, a médica ressalta a importância de a criança ser acompanhada por uma pediatra que dê atenção ao sono infantil. “O sono deve fazer parte da conversa nas consultas de rotina, para a identificação de doenças relacionadas ao sono de forma precoce e encaminhamento para os médicos especialistas em sono, quando necessário”, completa a pediatra e pneumologista.

Ainda de acordo com a otorrinolaringologista e foniatra Juliana Bertoncello, uma criança que ronca constantemente e que não recebe tratamento adequado, pode ter consequências anatômicas na arcada dentária. “Ela pode ter alterações da morfologia da face, vai ficar com o palato muito profundo e arcada dentária mais profusa. É uma criança que está sempre boca aberta”, completa.


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