Chega uma determinada fase do desenvolvimento infantil que conseguir a colaboração da criança é uma tarefa árdua. Convencer o baixinho a entrar no banho é um sacrifício. Mas depois tirá-lo do chuveiro também não é fácil. Sem contar os inúmeros argumentos que esses pequenos encontraram para justificar os brinquedos espalhados pela sala. Ainda sobram lamúrias ao solicitar a ajuda deles na organização das tarefas domésticas. Diante tantos desafios na rotina familiar, é possível motivar as crianças a colaborar com leveza e gentileza?
Para a psicóloga de mães e crianças Bruna Szegedi Paes Lyra, justamente pelo fato de as crianças estarem em fase de desenvolvimento, a colaboração ainda será limitada, por isso, o ideal é não ter grandes expectativas. “Incluir a criança na elaboração da rotina e fazer com que ela se sinta importante ajuda muito”, afirma.
Conhecer a rotina e ordem de realização das tarefas também podem ajudar as crianças a apresentar menos resistências. Sendo assim, a sugestão da profissional é para a família criar um quadro de rotina. “Por volta dos 4 anos as crianças já gostam muito de participar da confecção e elaboração de quadros de rotinas, que ajudam muito a ter previsibilidade. Crianças funcionam muito melhor quando conhecem a ordem das rotinas e sabem o que é esperado delas, além disso são excelentes imitadoras”, pontua.
De acordo com a profissional, quando todos os membros da casa participam da organização e dão exemplos de bons hábitos, a tendência é que as crianças reproduzam os costumes de maneira espontânea. “Além disso, crianças adoram estar perto de seu país, desde cedo podemos incluí-las nas nossas atividades de forma prazerosa. A criança pode ser estimulada a separar as roupas enquanto a mãe prepara para lavar; a ajudar a vovó a regar as plantas; a lavar os alimentos enquanto o pai cozinha. Assim terão momentos juntos”, recomenda.
Segundo a educadora parental Maria Eduarda Bittencourt, uma das ferramentas da disciplina positiva são as reuniões de famílias, momento em que são combinadas as funções de cada um, assim como as atribuições são decididas em conjunto. “Uma boa dica é que os pais façam as atividades em conjunto com a criança, até que ela se sinta segura de realizar sozinha e isso vire uma rotina”, orienta.
Maria Eduarda Bittencourt explica ainda que na primeira infância (até os 6 anos), as crianças vivem a fase do egocentrismo, onde estão voltadas para si mesmas e suas necessidades. “Elas estão se descobrindo como um ser independente dos pais, um ser que pensa, age e tem vontades próprias. Então, acabam querendo fazer tudo no momento que elas desejam. Muitas vezes não querem deixar de brincar para realizar alguma tarefa e isso acaba gerando conflito com os pais”, exemplifica.
A colaboração deve ser solicitada de maneira firme e respeitosa
Depois de inúmeras insistências pedindo a colaboração da criança, chega uma hora que falta paciência para lidar com a recusa e, então, o cenário torna-se ainda mais estressante. A psicóloga de mães e crianças Bruna Szegedi Paes Lyra lembra que o exemplo dos pais é fundamental para os pequenos e, para ela, nada deve ser ensinado à força.
“Os pais precisam confiar que aquilo que as crianças observam como exemplo tem muito valor e que não adianta querer entrar e ganhar todas as batalhas com os filhos. Algumas coisas, como os hábitos de higiene por exemplo, são realmente inegociáveis, mas que ainda assim podem envolver o lúdico e escolhas limitadas e supervisionaras”, afirma.
A psicóloga ressalta que estimular a colaboração é mais válido que praticar o autoritarismo. “Nos momentos de maior conflito, vale respirar um pouco, tentar se afastar para manter a calma e retornar com mais tranquilidade para as negociações com as crianças. Se já começamos com estresse e descontrole as crianças vão imitar automaticamente o nosso estado emocional e tudo se torna um ciclo de desgaste e desrespeito”, recomenda.
Segundo a educadora parental Maria Eduarda Bittencourt, a família deve levar em consideração que trata-se de uma fase esperada e completamente natural no desenvolvimento infantil. “Quando os pais entendem que a criança não está agindo por mal ou para testá-los, fica mais fácil de passar por essa fase. Usar do lúdico, envolver a criança na criação da rotina, pedir a ajuda dela nas tarefas de casa, vai fazer a criança se sentir útil e ter cada vez mais vontade de colaborar”, sugere.
Estabeleça combinado e faça aviso prévios
Seu filho e/ou filha tem sido resistente com os cuidados diários de higiene, como lavar as mãos, tomar banho e escovar os dentes? Para tentar deixar esses momentos mais leves, a dica da psicóloga de mães e crianças Bruna Szegedi Paes Lyra é para os responsáveis certificarem-se que a criança conhece a rotina.
Para isso, vá fazendo avisos prévios sobre a atividade que será feita logo mais, por exemplo, explicando que em dez minutos ela irá tomar banho. O lúdico também pode fazer parte da estratégia. “Experimente perguntar com o que você a criança vai brincar hoje no banho, deixando que ela possa tomar pequenas decisões e fazer escolhas limitadas, como poder escolher entre duas opções de roupas”, orienta.
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