A dislexia atinge aproximadamente 5% da população brasileira. Entretanto, apesar de o país ter 10 milhões de pessoas com esse diagnóstico, ainda existem muitas dúvidas e diversos mitos sobre o assunto. Primeiramente, é preciso entender que trata-se de transtorno específico da aprendizagem de origem neurobiológica, que é caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente das palavras e pela baixa habilidade de decodificação, de acordo com Instituto ABCD, instituto referência em dislexia no Brasil.

Segundo Debora Calabro, que é gerente de marketing e mãe de uma menina disléxica de 9 anos, pós-graduada em neurociência e psicologia aplicada, graduanda em pedagogia e pós-graduanda em psicopedagogia clínica e institucional, o diagnóstico do transtorno é possível somente entre 8 e 9 anos e deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, composta por neuropediatra, fonoaudiólogo, psicólogo e psicopedagogo.

Formada no magistério e graduanda de pedagogia, Samantha Oliveira, que também se descreve como “mãe de dois filhos brilhantes, talentosos com dislexia”, afirma que apesar de o diagnóstico ocorrer apenas nessa faixa etária, é possível identificar na criança sinais precoces da dislexia. Por isso, ela afirma ser importante a sociedade conhecer o transtorno.

“É importante que fique claro: os sinais precoces não podem ser analisados isoladamente, por isso para fechar um diagnóstico de dislexia a criança deve passar por uma equipe multidisciplinar”, pontua.

O acesso ao diagnóstico é fundamental, pois quanto mais tardio maiores o impacto na aprendizagem e, com frequência, consequências emocionais. Um dos benefícios da equipe multidisciplinar é garantir uma avaliação integral, em que cada profissional contribui com entendimentos e olhares específicos de sua área de conhecimento. Para que a avaliação multidisciplinar funcione, é fundamental que a equipe se reúna e compartilhe os resultados das avaliações especializadas, chegando a uma conclusão representativa das áreas investigadas.

Você conhece as principais características de uma criança com dislexia?

Samantha Oliveira explica que, geralmente, as crianças com dislexia apresentam algum atraso no desenvolvimento neuropsicomotor como: andar e falar.

“Apresentam fraco desenvolvimento para as rimas. Muitas apresentam trocas na fala. Evitam atividades que envolvam livros (principalmente sem figuras). Têm dificuldade para amarrar cadarços, andar de bicicleta, dançar e praticar esportes coletivos, pular ou inverter sílabas na hora de ler ou escrever, não conseguir associar letras e sons, confundir palavras que soam parecido, erros constantes de ortografia, lentidão na leitura, problemas de localização de esquerda e direita, entre outros sinais”, lista.

10 sinais de uma criança com dislexia

Em entrevista ao Family Center, Debora Calabro listou 10 sinais que podem ser observados em uma criança com dislexia. Confira:
– Dificuldade de leitura
– Desatenção
– Dispersão
– Dificuldade de copiar de livros e lousas
– Desorganização geral com relação a manuseio de mapas e dicionários
– Dificuldade em ler em voz alta
– Baixa alta estima
– Problemas na compreensão da escrita
– Troca de letras (exemplo: G/J | X\CH)
– Caligrafia confusa

Mito ou verdade?

Entrevistamos as mães de crianças com dislexias, profissionais e estudantes Debora Calabro e Samantha Oliveira para saber se são mitos ou verdades as principais dúvidas sobre esse assunto. 

Family Center: É mito ou verdade que todas as crianças que têm dificuldade em aprender são disléxicas?
Debora Calabro: Mito. A dislexia é um transtorno do neurodesenvolvimento, de origem biológica que influencia a capacidade do cérebro para perceber e processar com eficiência informações verbais e não verbais.  Em muitos outros casos, a dificuldade de aprendizagem acontece por algum motivo e a criança não consegue assimilar os conteúdos, que muitas vezes podem ser por uma causa emocional, causa social, familiar ou até mesmo por falta de um método adequado.

Family Center:  É mito ou verdade que a dislexia tem tratamento?
Debora Calabro: É verdade. A dislexia tem tratamento por meio do acompanhamento com uma equipe multidisciplinar ( neuropediatra, fonoaudiólogos, psicólogo e psicopedagogo). A dislexia não tem cura, mas ajuda a criança através do acompanhamento de especialistas a identificar a melhor maneira de aprender e compreender o que está à sua volta.

Family Center:  É mito ou verdade que não há como saber se uma criança é disléxica antes de ir para a escola?
Debora Calabro: É verdade. Somente a partir dos 5 ou 6 anos, quando as crianças iniciam o processo de alfabetização, que os sintomas se tornam mais evidentes, que é o período em que elas começam a ler.

Family Center: É mito ou verdade pessoas com dislexia têm dificuldade para aprender?
Samantha Oliveira: Verdade. As pessoas com dislexia têm dificuldades para aprender, principalmente se aquele que ensina não utilizar estratégias diferenciadas para ensiná-las. A pessoa com dislexia foge do “aluno padrão” que as escolas estão preparadas para ensinar. Os alunos com dislexia necessitam de algumas estratégias diferenciadas para poderem aprender de uma forma mais tranquila, pois seu funcionamento cerebral é diferente de quem não tem dislexia.

Family Center: É mito ou verdade a dislexia é uma doença?
Samantha Oliveira: Mito. Dislexia é um transtorno de aprendizagem, por não ser uma doença, não tem cura. 

Family Center: É mito ou verdade que existe um exame que prova o diagnóstico da dislexia?
Samantha Oliveira: Mito. Não existe nenhum exame. A avaliação é clínica e deve ser multidisciplinar. Existe a ressonância magnética funcional que pode indicar um funcionamento diferente do indivíduo durante a atividade de leitura, mas este exame não é determinante para o diagnóstico da dislexia.

Family Center: É mito ou verdade pessoas com dislexia não são inteligentes?
Samantha Oliveira: Mito. As pessoas com dislexia têm inteligência dentro da média e, muitas vezes, acima da média.

Family Center: É mito ou verdade a dislexia é passada dos pais para os filhos?
Samantha Oliveira: Verdade. A dislexia é genética e hereditária. Ela pode ter origem nos pais ou nos avós, mas sempre vamos encontrar um parente com dificuldades parecidas. Existe, ainda, a possibilidade de uma mutação genética, mas é bastante incomum.

Fonte: Instituto ABCD, instituição sem fins lucrativos, que trabalha para melhorar e desenvolver a vida de pessoas com dislexia e outros transtornos de aprendizagem.

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1 Comentário

  1. Maria de Fátima belonato Responder

    Amei a entrevista, tenho um filho dislexo um rapaz lindo sei o quanto foi difícil a sua aceitação na sociedade. Todas as respostas foram exatamente o que vivi, mais continuo sempre buscando conhecimento para estar atualizada .
    Parabéns pelo brilhante trabalho.

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