Frequentar a escola passou a ser um motivo de angústia para Julia*, de 7 anos, que se sente rejeitada pelos colegas. A garota mora com a família em Calendária, município do Rio Grande do Sul, onde ela frequenta uma instituição de ensino particular. Ter a filha excluída na escola e não saber como ajudá-la também passou a ser um martírio para a mãe da menina, a administradora *Joana Oliveira, de 35 anos.
“Ela conta que é excluída e deixada de lado. Ela já me pediu, chorando, para trocar de escola. Eu fico com dúvida entre manter numa escola com qualidade ou ela continuar vivendo essa exclusão. Fico com dúvida entre preservar a saúde mental, mas talvez prejudicar os estudos”, desabafa.
Para a psicóloga clínica infantil Andressa Santos de Goes, a primeira ação da família de uma criança que relata ser excluída no ambiente escolar é o acolhimento. “Ouvir o que a criança tem a dizer, acalmá-la dizendo que está ao lado dela. Reforçar que ela pode confiar nos pais, que eles irão ajudá-la com tudo o que for preciso. Ao observar que a criança continua triste ou mudou de comportamento, é importante procurar suporte psicológico”, explica.
Como a escola é um ambiente social que carrega muito significado durante a infância, é importante os pais comunicarem o relato do filho e/ou filha, informando sobre o sentimento de rejeição. “A escola precisa ficar sabendo sobre o que está acontecendo e traçar condutas coletivas e em união com as famílias para que possam sanar o problema. É importante perceber que as duas crianças precisam de cuidados: a criança que exclui e a criança que está sendo excluída”, alerta a profissional.
De acordo com Andressa, há chances de que a criança que hoje promove uma exclusão pode já ter sido excluída também. “Principalmente por questões de bullying ligadas às aparências, como questões corporais, cor de pele, dificuldade na fala, dificuldade para aprender, entre outras questões visíveis”, exemplifica.
Os professores também devem atuar de maneira a incentivar os demais alunos da sala a brincarem juntos, promovendo brincadeiras e ou atividades que incluam todas as crianças. Propor momentos em que os baixinhos precisam “trabalhar” em dupla também pode ser uma alternativa para tentar estreitar novos laços de amizades e possibilitando, assim, que ninguém fique isolado. Durante as brincadeiras em rodas, pode ser uma oportunidade para falar sobre sentimentos, e o quanto deixar um colega de lado pode ser desrespeitoso e, por outro lado, o quanto é divertido quando todos brincam juntos.
Como ajudar a criança que incentiva a rejeição de um coleguinha?
Saber que a filha ou filho é deixado de lado pelos amigos não é uma situação nada agradável. Afinal, sentir a tristeza dos pequenos é algo que deixa a maioria dos pais desolados. Entretanto, além de acolher a criança que está passando por esse momento tão desafiador, aquela que está promovendo essa situação também precisa de uma atenção especial.
A psicóloga Andressa Santos de Goes afirma que a criança que promove a exclusão necessita de uma abordagem respeitosa e convidativa, para que ela se sinta segura e disposta a repensar suas atitudes. “Muitas vezes, é uma criança insegura, fragilizada que não tem suporte afetivo e usa a violência (exclusão) como forma de se proteger antes que ela seja excluída”, esclarece.
Andressa recomenda que escola e família mantenham um diálogo amigável, com o intuito de ajudá-la a encontrar a melhor forma de resolver a situação. “A escola precisa observar se existe recorrência dessas situações envolvendo a mesma criança e sugerir uma avaliação psicológica para entender se existem fatores que estão contribuindo para esse comportamento e entender se a criança está precisando de suporte psicológico. A criança que foi excluída também precisa de apoio psicológico”, enfatiza.
Quais sinais meu filho pode apresentar se ele for excluído na escola?
Entre os sinais que as crianças podem apresentar, fique atento (a) se seu filho (a) demonstrar estar mais quietinho, triste, pensativo e afirmar que não deseja ir para a escola. “Nem sempre a criança consegue verbalizar o que está acontecendo aos pais, porque essa situação traz um sofrimento e, ao mesmo tempo, um sentimento de vergonha e culpa. Então, é possível que ela chore antes de ir para escola e utilize uma fundamentação baseada em questões fisiológicas, ou seja, ela pode dizer que está com dor de barriga ou com dor de cabeça que não está disposta”, pontua a psicóloga Andressa Santos de Goes. Ainda segundo a profissional, como são crianças, é preciso observar os sinais para além das respostas verbais.
E quando a exclusão é fora do ambiente escolar?
Você levou sua filha (a) para brincar em uma pracinha e, um tempo depois, ela volta para você chorando, dizendo que nenhuma criança quer brincar com ela. Quem já passou por isso, compreende o quanto é difícil saber o que fazer nessa situação. Além de acolher, fica aquela dúvida entre ir embora, brincar com a filha ou tentar ajudar a baixinha a se “enturmar”.
Para a psicóloga Andressa Santos de Goes, não existe certo ou errado diante deste cenário. Ela acredita que uma possível intervenção depende de cada situação e cada família deve refletir a melhor forma de agir, levando em consideração os motivos que levaram à exclusão.
“De maneira geral, a intervenção dos adultos é importante para que as crianças envolvidas na situação percebam que o melhor caminho é sempre construir pontes e não construir muros entre as pessoas diferentes. A melhor maneira de intervir em uma pracinha, por exemplo, é propondo uma brincadeira juntos, ou uma corrida, ou contar histórias de como eram as brincadeiras do passado. A ideia é tirar o foco do ocorrido e construir com as crianças uma memória afetiva de inclusão”, sugere.
De acordo com a profissional, os pequenos são observadores e aprendem pelo exemplo e pela imitação. “Então, quando um adulto se propõe a brincar com elas, a fazer um momento de interação, elas tendem a fazer isso novamente em outro momento. Entretanto, nem sempre é fácil ter essa postura pacificadora quando acabamos de ver um filho sendo desrespeitado e machucado. Por isso, é preciso avaliar se é válida a intervenção ou não, na verdade se você tem condições psicológicas para intervir ou não”, completa.
* A pedida da fonte, a identidade das entrevistadas for preservada
Confira também:
Empatia na infância: como ensinar a criança a se preocupar com os outros?