Os pais ficam tensos, preocupados e até tristes. Afinal, quem não quer ver os filhos brincando juntos, sempre em harmonia e com muito carinho? Entretanto, as brigas entre os irmãos são comuns e consideradas muito normais durante a infância. Segundo a psicóloga infantil Ana Flávia Fernandes, os conflitos costumam ser frequentes, justamente, porque as crianças não tem maturidade para lidar com os sentimentos.

“As crianças estão desenvolvendo suas habilidades sócio emocionais. Seu cérebro ainda é imaturo para lidar com frustração, raiva, medo e diversas outras emoções que experimenta nas vivências sociais. Conforme vai crescendo, recebendo o modelo e apoio dos adultos para ensiná-la a regular suas emoções, mais facilidade terá em resolver seus conflitos conversando. Se essa forma de educar for adotada desde os primeiros anos, é esperado que a partir dos 7 anos a criança saiba se posicionar em um conflito, sem a necessidade de desrespeitar”, afirma.

No entanto, para desespero dos pais, a profissional destaca que a melhor forma de diminuir os desentendimentos entre os irmãos é, acredite, ficar de fora do conflito. Ela explica que, na hora da briga, o ideal é que os pais mantenham uma supervisão à distância para acompanhar a capacidade dos filhos de resolverem a questão sozinhos. “Algumas vezes, o envolvimento do adulto na briga acaba sendo o principal motivo dela acontecer. No entanto, se perceber que elas estão aumentando o tom de voz, empurrando, agredindo ou outro sinalizador que prejudique a integridade física ou emocional, deve-se adotar o papel de mediador, separando as crianças e dando a chance de cada um dos envolvidos falar, se sentir ouvido e respeitado”, recomenda.

Após colocar em prática essa escuta ativa, ela sugere que os pais devem questionar as crianças de que forma gostariam de resolver a briga e, caso não tenham respostas, eles podem auxiliá-las fornecendo algumas saídas mais equilibradas e respeitosas sobre a situação.  

 

Saiba o que fazer para não estimular a competição entre os filhos

Se após analisar uma situação de conflito entre os irmãos os pais julgarem que é necessário intervir, a psicóloga infantil Ana Flávia Fernandes lembra que é preciso se esforçar ao máximo para tentar tratar as crianças igualmente, sem julgamentos. “Geralmente, os adultos fazem o papel de juiz, procurando culpados ou tomando partido de um dos lados, o que faz com que as crianças desenvolvam uma mentalidade de vítima ou de agressor, dificultando, assim, a percepção de suas atitudes, a racionalização delas, a autorresponsabilidade. Desta forma, acabam utilizando apenas a parte instintiva do cérebro”, explica.


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Além de evitar defender um dos filhos, a profissional ainda  enfatiza que não se deve exigir do filho mais velho uma postura mais madura para evitar as brigas. “A longo prazo essa criança passa a se sentir injustiçada, o que pode gerar uma necessidade por vingança. Isso aparecerá em suas atitudes não só com o irmão, mas uma hostilidade com os pais também. O ideal é tratar as crianças da mesma maneira, com carinho e respeito pelo o que estão vivendo e ajudá-las igualmente a atravessar esses desafios”, orienta.

E, apesar de muitas situações serem desafiadoras para os pais, lembre-se que você é o adulto. Respire fundo para conseguir manter a calma e jamais grite, bata, humilhe ou coloque-os de castigo. “Qualquer tipo de desrespeito deixa a briga ainda pior, além de não ensinar habilidades de vida, como a comunicação não violenta, empatia e resolução de problemas,” ressalta.

 

Mãe usa desenho para aliviar as tensões dos filhos

A pesquisadora Ana Carolina*, de 40 anos, é mãe de dois meninos, Antônio, de 10 anos, e Joaquim, de 6 anos. A rotina com os garotos estava a deixando aflita e cansada, afinal, desde ao acordar até a hora de dormir, eram inúmeros os desentendimentos entre eles.

“As brigas aconteciam por disputas de brinquedos, para trocar o canal da televisão, porque um estava usando o banheiro e o outro também queria. Enfim, tudo era motivo de discussão”, afirma.

Ana começou a ficar mais preocupada quando as agressões físicas começaram a ser constantes. E, mesmo mantendo diálogo com os filhos, os conflitos não cessavam. Foi, então, que ela resolveu usar a brincadeira preferida das crianças para tentar amenizar o clima.
“Eles gostam muito de desenhar. Então, quando começam a ficar muito alterados, eu acabo separando os dois e falo para colocarem no papel o que estão sentindo. Após um desses conflitos, o mais novo desenhou um búfalo e disse que dentro dele tinha um búfalo muito bravo, que ele não conseguia domar”, lembra.

Apesar das brigas ainda acontecerem, a pesquisadora conta que são estão ficando menos frequentes e relata também que, depois de introduzir o desenho como estratégia para acalmar os ânimos, os garotos estão começando a conseguir administrar com mais facilidade os próprios sentimentos.


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