O número de brasileiros inadimplentes alcançou 63 milhões em março deste ano, segundo dados da Serasa Experian. Isso significa que, aproximadamente, 40% da população adulta está inadimplente no País – o maior índice desde o início da série, iniciada em 2016. 

Apesar do dinheiro ser utilizado diariamente, em todas as etapas da vida, dados como esses demonstram que poucas são as pessoas que sabem organizar sua vida financeira de forma saudável e eficiente. Uma das formas de, no futuro, mudar esse cenário, é desenvolver a inteligência financeira nas crianças. Na prática, isso significa ajudar seus filhos a, desde cedo, terem um bom relacionamento com o dinheiro. 

“A OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) define a  educação financeira como um processo em que o indivíduo faz escolhas conscientes e se mantém bem informado a respeito da economia para, assim, elaborar a melhor forma de lidar com seu dinheiro”, afirma a economista Myrna Silveira de Souza Vasconcelos, que atua como consultora e educadora financeira.

Para a especialista, quanto mais cedo as crianças e adolescentes forem educados financeiramente, maiores são as chances de se tornarem adultos maduros e equilibrados  com o uso de seus recursos. “Em uma realidade de consumismo, é preciso alertar os filhos para a administração do próprio dinheiro com consciência, impedindo um possível endividamento ou compulsão por compras na fase adulta”, ressalta.

 

As Habilidades G6s

De acordo com Carolina Ligocki, que é autora e diretora da Oficina das Finanças, uma empresa de impacto social que trabalha com educação financeira, ensinar inteligência financeira aos baixinhos é ensiná-los também sobre esperar, sobre fazer escolhas, colaborar, desenvolver autoconhecimento, disciplina e organização. Afinal, esse são pontos fundamentais para quem quer ter uma vida financeira próspera.

“Muitas pessoas acreditam que ganhar mais dinheiro seria o suficiente para resolver problemas financeiros e ter qualidade de vida, mas isso não é necessariamente verdade”, afirma. 

Carolina explica que, para ter uma vida mais leve e livre financeiramente, é necessário desenvolver nossos pequenos as habilidades dos 6 Gs:

1- Saber Gerar;
2- Saber Gastar;
3- Saber Guardar;
4- Saber Ganhar Dinheiro com Investimentos; 
5- Saber Gerir;
6- Ter Gratidão.

“Esses são conceitos de educação financeira que devem começar a ser ensinados ainda na infância”, defende.

 

A educação financeira nas escolas

Em busca de desenvolver nas crianças uma boa relação com o dinheiro e melhor habilidade com as finanças, as escolas podem ser parceiras das famílias desenvolvendo atividades simples e eficientes para ensinar educação financeira.

De acordo com Carolina Ligocki, que é autora e diretora da Oficina das Finanças, as instituições de ensino não devem focar o conteúdo apenas em matemática, preço e dinheiro. Para ela, a possibilidade é muito mais ampla e poder ser mais divertida e atraente para os baixinhos quando são utilizados, por exemplo, livros de história que trabalhem questões comportamentais como paciência, persistência, trabalho em equipe, divisão de tarefas e planejamentos. Na educação infantil, a dica da profissional é para que os planos de ensino de gestão financeira apostem em livros que gerem estímulos empreendedores e contribuam para a autonomia das crianças.

“Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a partir dos 6 anos, os alunos começam a compreender melhor as quantidades e podem ser introduzidos, aos poucos, o conhecimento das cédulas e moedas, e conceitos como caro e barato. Mas é muito importante buscar metodologias de ensino que tragam os conteúdos de forma estruturada e isenta de preconceitos, do tipo rico X pobre. É necessário o acompanhamento dos resultados do trabalho ao longo do tempo e que evite trabalhar somente com foco no consumo, o que é muito comum em alguns projetos em que os estudantes acabam apenas juntando dinheiro para consumir coisas”, pondera Carolina.

 

7 dicas para ensinar educação financeira para os filhos

A economista Myrna Silveira de Souza Vasconcelos, que atua como consultora e educadora financeira, traz sete dicas para ensinar educação financeira dentro de casa. Porém, ela lembra que os pais e mães são os maiores exemplos dos filhos (as). Confira:

 

Defina uma mesada para os filhos

A mesada é um valor que pode ser semanal ou mensal, cujo objetivo principal é ensinar os filhos a administrarem um orçamento. É recomendável que o valor seja estipulado de acordo com os gastos da criança e que esteja atrelado a algumas obrigações, como tirar boas notas na escola e colaborar com os afazeres domésticos, como arrumar a cama e tirar o lixo da cozinha. “Conceder mesada aos filhos é uma forma de fazer com que eles vejam também para onde o dinheiro está indo. Passe a encorajá-los a anotar tudo o que gastaram. Assim, ao fim de todos os meses, vocês são capazes de fazer uma análise para saber quanto foi possível economizar (ou não)”, orienta.

 

Permita que as crianças ajudem a escolher os itens no supermercado

Aproveite o momento da compra para mostrar os baixinhos as diferenças de preço existentes para um mesmo item. A partir do momento que as crianças entenderem quanto custam os produtos, elas automaticamente passarão a fazer parte do planejamento familiar. O resultado disso surgirá em forma de mais autonomia e compromisso com a casa.

 

Mostre como as contas da casa são organizadas

Lembre-se que você é um modelo para seu filho. É por meio da observação de seu comportamento é que seu pequeno moldará a base dos seus hábitos no futuro. Então, explique de que maneira as contas da casa e o orçamento familiar são organizados. Mostre também os projetos da família de longo prazo e o que você tem feito constantemente para conseguir alcançar esses objetivos.

 

Ensine as crianças a economizarem pensando no longo prazo

Sabe quando seu filho pede aquele brinquedo superbacana que acabou de ser lançado? Então, aproveite essa oportunidade para ensiná-lo a economizar e, então, realizar esse sonho. Incentive-o a poupar todo mês uma parte da mesada. Dependendo da idade, faça uma tabela de metas e ajude a descobrir quantas semanas ou meses serão necessários para comprar o item desejado. “Para deixar essa experiência mais divertida, pegue uma caixa e peça para que as crianças coloquem nela um adesivo toda vez que o valor estipulado for alcançado”, sugere.


Confira também: como ensinar meu filho a consumir de forma consciente?


 

Mostre a importância de poupar

Para Myrna, uma das maiores lições que os pais podem passar aos filhos é ensinar a poupar. Então, abra uma conta em alguma instituição bancária e incentive a depositar 10% da mesada todo mês. Tracem algum plano de longo prazo juntos, como uma viagem ou até mesmo um brinquedo de maior valor.

 

Presenteie com jogos sobre finanças

Uma ótima dica para investir na educação financeira das crianças é ensiná-las por meio de jogos sobre finanças. Essa é uma forma lúdica e divertida de trabalhar o aspecto cognitivo das renúncias e escolhas que precisarão fazer durante a vida. Para crianças a partir de 5 anos, a dica é o jogo Banco imobiliário Kids. Outra diversão bacana é o Jogo da Vida, indicado a partir dos 7 anos.

 

Ensine que dinheiro não é tudo

Não esqueça de deixar isso bem claro durante o processo de desenvolvimento da inteligência financeira do seu filho. Isso é importante para que as crianças consigam enxergar o valor das coisas além do preço na etiqueta e desenvolvam a habilidade de serem felizes sem depender do saldo na conta do banco.

 

Mãe ensina de forma lúdica e busca passar o exemplo para a filha

Durante a infância e adolescência, a gerente de projetos Maíne Duarte, de 33 anos, não teve educação financeira. Os pais eram assalariados e não tinham o conhecimento de poupar dinheiro. Maíne e a irmã sempre ganhavam presentes e nunca faltava nada na casa da família. Até o dia em que o pai foi demitido. “Chegava no fim do mês, se sobrava R$ 200, meu pai perguntava com o que nós poderíamos gastar. Mas quando eu tinha uns 14 anos, meu pai perdeu o emprego. Ficamos com o salário da minha mãe, que era mais baixo. Isso nos limitou financeiramente e começamos a vender o que tínhamos, como um terreno e um carro”, lembra.

A mudança na rotina familiar marcou a gerente de projetos, que traçou como meta buscar uma educação financeira. E hoje, mãe da Julia, de 4 anos, ela já se preocupa em ensinar sobre finanças para a filha.

“Ainda ensinamos de forma lúdica por ela ter 4 anos. Ela tem um cofrinho e fazemos brincadeira com dinheirinho para ela entender que tudo custa e a decisão de aquisição de qualquer coisa compromete outra. A ideia é intensificar quando ela entender matemática”, pontua.

Além disso, Maíne optou por não presentear a filha fora das datas especiais, como aniversário, Dia das Crianças e Natal. “Justamente para ela entender que tem momentos para fazer as coisas. Pretendo que ela seja mais consciente financeiramente”, explica.

Um dos objetivos da gerente é ser um exemplo para que a pequena possa desenvolver inteligência financeira. “Quando temos consciência e liberdade financeira, temos mais qualidade de vida. Você não precisa ficar 100% pensando que precisa do seu trabalho. Claro que isso é a longo prazo. É isso que quero para minha filha”, ressalta.


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