Qual mãe de menina nunca ouviu um pedido da filha para passar esmalte nas unhas? Ou, ainda, abriu a porta do quarto e se deparou com a pequena com o rosto todo “lambuzado” de maquiagem? As cenas rendem boas risadas, sem dúvida. Entretanto, é necessário avaliar os possíveis riscos existentes ao deixar a criança utilizar esses cosméticos.

O primeiro malefício é a possibilidade de a garota ter uma reação alérgica ao produto. De acordo com a pediatra Marice El Achkar Mello, especialista em dermatologia infantil, a criança tem a pele mais fina e sensível que os adultos e, por isso, absorve qualquer substância com mais facilidade. “Qualquer produto químico contido nos cosméticos e, colocado em contato com a pele na infância, pode fazer mal à derme infantil e causar alergias”, ressalta.

Além do prejuízo à saúde, os pais devem questionar se o interesse pelo batom, por exemplo, é apenas uma curiosidade infantil ou se pode ser um sinal de uma preocupação precoce com a aparência física. O segredo é encontrar o equilíbrio e permitir que sua menina seja uma criança livre e feliz!

Quando uso da maquiagem ultrapassa o limite da infância?

Usar maquiagem e pintar as unhas podem ser apenas uma experiência divertida para as crianças, que ficam curiosas ao ver as mães usarem. Representa, ainda, uma identificação com uma figura que elas tanto admiram. “É um modo de se fantasiar, brincar de faz de conta e de explorar o mundo de forma lúdica”, explica a psicóloga Janaína Alves Teixeira.

Por outro lado, se essa “brincadeira” não for equilibrada, mais do que afetar a saúde física, como no caso das alergias, pode afetar o desenvolvimento dessa menina. “Se a criança, para se manter maquiada e bem arrumada deixa de brincar e de fazer atividades da sua idade, mostra que a maquiagem e esmalte deixaram de ser um brinquedo e se tornou algo sério para ela. Por esse motivo, a mediação dos pais é crucial para que a brincadeira de se maquiar e pintar as unhas não ultrapasse os limites da infância, deixando de ser algo saudável. É fundamental que o adulto tente compreender o que essa criança pensa sobre aquilo e o porquê deseja brincar com os produtos de beleza e não de outra coisa”, ressalta.

De acordo com a profissional, é possível encontrar esse equilíbrio por meio do diálogo. “É por meio do diálogo que você vai conseguir perceber melhor o que se passa com a criança e guiá-la para uma relação mais consciente com os produtos de beleza. As crianças idolatram a figura materna e, quando percebem que a mãe se sente bonita e segura, querem passar maquiagem e pintar as unhas também. A saída não é proibir, mas sim fazer essa colocação sempre de um jeito infantil, lúdico. Caso você não seja a favor do uso dos cosméticos, deixe claros seus porquês para a criança e que um dia ela terá autonomia para isso”, afirma.

Entretanto, não há motivo de desespero caso você note que sua pequena é vaidosa. Esse é um comportamento que vai, naturalmente, ficando mais brando. A preocupação deve existe apenas quando a família enaltece essa vaidade, estimulando a criança a se pintar. “Nesse caso, se ela for uma criança desprovida de afeto, vai começar a achar que a única forma de receber atenção é pela vaidade”, pontua.

Lembre-se que durante a infância as meninas gostam de imitar o comportamento dos pais, o que é bastante natural. A família precisa apenas estar atenta para perceber os limites entre a brincadeira saudável e sinais de uma adultização precoce.


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Já pensou em elogiar sua filha não somente pela beleza?

Em uma sociedade que normalmente utiliza os adjetivos ‘bonita’ para elogiar as meninas e ‘inteligente’ para os meninos, consequentemente, espera-se que as garotas estejam sempre arrumadas e impecáveis. A preocupação precoce com a aparência pode ocorrer justamente a partir dessa estereotipação.  “A abordagem para ambos os sexos deve ser da mesma forma, valorizando os potenciais, as qualidades e virtudes das crianças, mostrando seus pontos fortes, independentemente de serem belos pelo padrão social imposto”, enfatiza a psicóloga Thamara Tabera.

É exatamente dessa forma que a cabeleireira Érika Almeida, de 31 anos, educa a filha Malu, de 5 anos. “Vaidade exacerbada é ruim em qualquer etapa da vida. Dormir e acordar pensando num batom que é lançamento, num procedimento estético que acha que seria bom, nas unhas… Enfim, tudo que é exagero é ruim. Procure incentivar mais aspectos da personalidade da criança, deixe a beleza para os estranhos elogiarem”, recomenda.

Devido a sua profissão, Érika conta que a filha sempre se interessou pelos cosméticos. “Eu sempre gostei muito de maquiagem, cosméticos, esse universo da beleza. Sou cabeleireira, me encanto por essas coisas. Passei esmalte nela pela primeira vez com 10 meses, para combinar com as minhas unhas no Natal. Pra mim, é muito natural. Ela sempre quis meus pincéis, faz parte do contexto histórico dela, não é nada forçado. Apenas aconteceu, já que eu trabalho com isso e me maquio com frequência”, explica.

Porém, Érika busca constantemente alternativas para incentivar o desenvolvimento da filha para além da estética. “Sempre estimule a resolver pequenos desafios, desde sempre, sozinha, e parabenize a conclusão. Reconheça a importância de boas decisões, destaque momentos em que a mente brilhou, mostre mulheres poderosas, desenhos como a Luna, que é uma menina que sonha ser cientista, por exemplo, para ir além do conteúdo das princesas”, sugere.

 

Psicóloga dá dicas para lidar com o interesse da criança pelos cosméticos

Orientar e explicar para sua filha sobre os malefícios do produto, como o risco de desenvolver uma alergia, e valorizar o quanto ela é uma garota incrível mesmo sem maquiagem, é um ótimo caminho para mostrar para a criança que insiste frequentemente no uso dos cosméticos.

“Dependendo da idade da criança, podem existir combinados, como por exemplo, usar um batom em uma data comemorativa, Mas o principal é que desde o início exista uma relação saudável com o uso da maquiagem ou esmalte”, orienta a psicóloga Thamara Tabera.

Agora, caso você perceba que sua filha está com preocupações excessivas sobre a aparência, busque ajuda profissional de um psicólogo. “Esse profissional poderá orientar as maneiras de agir e cuidar para que essa questão não se transforme em algo maior na adolescência ou vida adulta. A prevenção é uma das principais estratégias que temos para lidar com a saúde mental”, completa.

 

Linhas de maquiagem infantil são mais seguras

Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Brasil é um dos maiores consumidores de cosméticos infantis. Sendo assim, a agência publicou uma cartilha, destacando que “as crianças devem utilizar apenas produtos infantis, pois são elaborados de forma a manter as características da pele nessa faixa etária”.

Porém, a pediatra Marice El Achkar Mello, especialista em dermatologia infantil, alerta para o fato de que, apesar da maquiagem ser fabricada para uso exclusivo de crianças, não significa que o uso possa ser frequente. “O ideal é que se aguarde até os 6 anos para a criança ter contato com as maquiagens infantis, diminuindo o risco de desenvolver alergias na pele.  O recomendado é guardá-la para as ocasiões especiais, mesmo que a criança observe a mãe se maquiar todos os dias e queira fazer igual. Quanto mais precoce e mais frequente o contato da criança com os cosméticos, maior a chance de desenvolver uma alergia de contato”, explica.

Dicas de psicólogas para seguir nas redes sociais

Se você gosta de acompanhar dicas de psicologia e comportamento infantil, acompanhe o trabalho das psicólogas Janaína Alves Teixeira e Thamara Tabera. Você pode segui-las no Instagram, por meio dos usuários @psicotabera e @psi.cognitiva, respectivamente.


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