Você já conheceu alguma criança que fala perfeitamente em casa, com os pais, mas quando é exposta a ambientes sociais e externos, como escola e parques, ela não consegue falar e se comunicar?  Assim foi a infância da palestrante Estefani Dias, de 26 anos. Até os 13 anos, ela só falava com os pais e familiares próximos, mas não conseguia verbalizar com os amigos na escola. Estefani é ex-portadora de Mutismo Seletivo, um transtorno de ansiedade no qual a criança apresenta incapacidade de se comunicar em ambientes sociais. Sozinha, a garota rompeu a barreira do silêncio. Hoje, além de palestrante, ela é autora do livro “Gritos do Silêncio” e administra a conta @mutismo_seletivo no Instagram.

Muitas vezes, o Mutismo Seletivo é confundindo com autismo e até mesmo timidez. De acordo com a psicóloga clínica Elisa Neiva Vieira, que é pós-graduada em desenvolvimento infantil, International Coordinator Brazil da Selective Mutism Association SMA e atua em clínica particular há mais de 25 anos atendendo casos de Mutismo Seletivo, o transtorno é mais frequente no sexo feminino, tem início antes dos 5 anos, podendo persistir até a idade adulta.

“É provável ser um transtorno com etiologias variadas. Estima-se que mais de 90% das crianças com mutismo também sofram de fobia social ou ansiedade. É extremamente frequente na prática clínica observarmos a prevalência do mutismo seletivo com maior frequência em ambientes escolares”, explica.

Ainda segundo a profissional, muitas vezes os pais podem demorar para perceber o quadro de Mutismo Seletivo da criança, já que em casa, no ambiente familiar, é comum ela ser falante. Sendo assim, não é raro que a criança seja tratada apenas como uma pessoa tímida ou, por vezes, como uma criança sem iniciativa.

“Quando as crianças que apresentam mutismo seletivo estão em ambientes nos quais sentem-se confortáveis, sua fala é fluida, seu comportamento é descontraído, exceto em casos em que o transtorno se apresente com maior severidade. Vale ressaltar que o mutismo seletivo tem muitas características similares ao autismo, no que tange ao comportamento da criança e critérios diagnósticos. Esse é um ponto que precisa ser de extremo cuidado para o profissional que avaliará a criança, embora os dois quadros possam coexistir”, explica Elisa. 

Há tratamento para esse transtorno?

Para a psicóloga clínica Elisa Neiva Vieira, atualmente a terapia cognitivo comportamental é a mais indicada para o tratamento. “Cada criança é como uma pérola, ou seja, não são iguais em nenhum sentido. Desta forma, devemos ressaltar que cada caso merece um plano de tratamento diferenciado. No decorrer do diagnóstico e tratamento, também é avaliada a possibilidade de intervenção médica (psiquiatra da infância e adolescência)”, enfatiza.

Elisa ainda destaca que o plano de tratamento também inclui uma interligação com todos os profissionais que cuidam da saúde da criança, incluindo as instituições escolares. 

Quanto ao diagnóstico, a psicóloga clínica afirma que há modos diferenciados para realizá-lo. A profissional conta que desenvolveu um método próprio. “Inicialmente, realizo a observação da criança em algum contexto social, estando ela na companhia de seus pais ou responsáveis. Características essenciais como a comunicação com outras pessoas são avaliadas, desenvoltura corporal, número de pessoas com as quais ela se comunica, habilidade para realizar alguma tarefa sozinha ou necessitando da companhia dos genitores, irmãos ou pessoas que estejam em sua companhia”, explica. Elisa ainda realiza uma anamnese minuciosa com os pais, para compreender a estrutura familiar (avaliação de familiares que apresentem algum quadro correlato a ansiedade) e dos pais individualmente. Também analisa o nível de mutismo seletivo em que a criança se encontra

De acordo com Elisa, mães e pais devem procurar ajuda profissional assim que suspeitarem de mutismo seletivo. “A família, a escola e demais pessoas do convívio da criança, precisam ser orientadas no sentido de saber como agir efetivamente com a criança/adolescente. O diagnóstico não deve demorar para ser feito, entretanto estratégias técnicas especificas para tal devem ser consideradas para que não incorramos no erro diagnóstico”, pondera.

A profissional destaca que há muitos prejuízos para a criança que não tem o diagnóstico e, ainda, o mutismo seletivo pode se agravar. “Considerando que esta criança deva estar vivendo por muito tempo e em grande parte de sua vida no silêncio, os prejuízos podem ser muitos. Podemos ter crianças que desenvolvam fobias específicas, síndrome do pânico, uso abusivo de substâncias (na adolescência), depressão entre outros”, exemplifica.

Sinais que mães e pais devem ficar atentos:

– Ausência de comunicação em ambientes sociais:  a criança não consegue pedir um suco em um restaurante; não responde a outras pessoas quando é indagada; permanece atrás dos pais; tenta se esconder em ambientes sociais;

– Na escola, a família deve levar em consideração comentários de professores quando dizem que a criança não se comunica na sala de aula, com colegas ou outros professores, e permanece quieta na escola por todo o período de aula;

 – Observar se a criança diminui a fala/comunicação com membros da família (por exemplo: falava com os tios e deixa de falar); 

– Fique atento quando a criança não come na escola e se, frequentemente, não controla o esfíncter, entre outros aspectos.

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