Você já conheceu alguma criança que desfraldou xixi diurno e até mesmo o noturno, mas na hora de fazer cocô ela pede para usar a fralda? Se essa criança for seu filho ou sua filha, é bem provável que você esteja preocupada (o) com essa situação, não é mesmo? Afinal, seu pequeno ou pequena parece totalmente pronto para usar o vaso sanitário, já que sabe quando está com vontade de fazer suas necessidades. Primeiramente, é preciso entender que isso é bastante comum. E pode respirar aliviada (o): está tudo bem.

Segundo a psicóloga Nanda Perim, que administra a conta no instagram, existem quatro desfraldes diferentes e nem todos acontecem ao mesmo tempo. “Tem o desfralde noturno do cocô, diurno do xixi, desfralde diurno do cocô e desfralde noturno do xixi. Não exatamente nessa ordem, mas são processos diferentes e esfíncteres diferentes do xixi e do cocô. Geralmente, os que acontecem por último: diurno do cocô e noturno do xixi. E tem criança que desfralda do xixi noturno e não desfralda do cocô diurno”, afirma.

A psicóloga Jaqueline da Silva Sousa lembra ainda que não existe idade certa para que o desfralde aconteça. “Quando falamos em desfralde, estamos falando de um momento muito importante no desenvolvimento da criança e, também, para sua família. Não existe uma idade exata para se esperar o desfralde, visto que cada criança tem seu tempo”, conta.

Nanda ainda explica que o processo do desfralde ocorre da seguinte forma: primeiro a criança percebe que percebe que fez; depois ela nota que está fazendo; chega o momento em que ela identifica que vai fazer, mas ainda não consegue controlar; e, finalmente, quando ela entende que está com vontade e consegue segurar. É nessa última etapa que realmente tem início o desfralde. “Para cada um desses processos ela precisa estar com o motor, cognitivo e emocional prontos. Mesmo com a autonomia sendo respeitada, e que deve ser respeitada, o desfralde vai seguir o percurso do motor-cognitivo-emocional”, justifica.

Por isso, a criança que identifica a vontade de fazer cocô e pede a fralda, não significa que ela esteja pronta para usar o vaso sanitário ou penico. “Moto e cognitivo ela pode estar pronta. Mas emocionalmente não está. Por algum motivo, ela não está sentindo segurança, não evoluiu para ter a confiança de sentar no vaso para fazer o cocô”, pontua Nanda.

Ainda de acordo com Nanda, os adultos não defecam na fralda porque evoluíram para o interesse e vontade de não ter contato com as próprias fezes. “A gente evoluiu para o interesse de ter essa censura. Queremos privacidade. Isso é uma questão de maturidade. A criança que pede fralda não evoluiu para essa etapa. Ela não tem essa censura. Ela ainda não tem essa relação com o cocô. Essa criança ainda está desapegando dessa etapa, em que ela tem o contato todo com o cocô”, exemplifica.

A psicóloga Jaqueline ressalta que o processo de aquisição do controle urinário e fecal possui um significado psicológico para a criança. “Em suas fantasias, o xixi e o cocô são partes dela, portanto, ela tirará algo de dentro e apresentará às pessoas ao redor, no caso os pais. Para a criança, ela pega algo importante de si e presenteia sua família”, pondera.

Sendo assim, Jaqueline recomenda que pais, mães e cuidadores lidem o processo do desfralde com bastante naturalidade. “É importante que a criança veja que seus pais vão ao banheiro e que está tudo bem com isso. Importante, ainda, que a criança tenha experiência de brincar, se sujar e se limpar, sem que isto seja tratado como um problema. Não há um manual que devemos seguir as regras. Quando a criança consegue passar bem esta fase, tende a lidar melhor com sua autoestima e as adversidades que a vida apresenta”, afirma.

Como ajudar a criança que só faz cocô na fralda?

Nem sempre os pais e as mães lidam bem com o fato de a criança só conseguir fazer cocô na fralda, principalmente pelo fato de já ter desfraldado o xixi. Entretanto, a melhor maneira de ajudar essa criança é manter a calma e o respeito. “É respirar fundo, abrir mão do controle e permitir que a criança desenvolva no tempo dela”, enfatiza a psicóloga Nanda Perim.

Nanda afirma que a maioria das crianças que pede a fralda para fazer cocô, costuma fica em pé durante esse processo. Ela sugere incentivar a criança a começar usar o vaso sanitário, mesmo de fralda, para que se acostuma a evacuar sentada. “Mas se você perceber resistência da criança, não insiste, porque se começa abalar o emocional dela, vai demorar mais ainda”, orienta. Outra dica da profissional é para não ficar falando sobre esse assunto ou pressionando a criança. “Se a gente começa a pressionar, a falar demais desse assunto, começa ameaçar a autonomia da criança, ela vai resistir cada vez mais. Ou pior, isso vai se tornar uma forma de comunicação inconsciente da criança de ‘o corpo é dela e ela que manda no próprio corpo’. Quando a gente sente a autonomia do nosso corpo ameaçada, a reação natural é resistência”, explica.

Nanda não recomenda, inclusive, buscar ajuda profissional para o desfralde, a não ser que outros sinais no comportamento da criança tenham sido observados pela família. “Se você percebeu comportamentos que podem sugerir um atraso no desenvolvimento da criança, que possam sugerir um comportamento transtornado, então vamos procurar um profissional, porque é uma questão integrativa dessa criança”, ressalta. Contudo, se a questão é apenas o desfralde do cocô, o melhor a fazer é ter calma e esperar o tempo da sua criança.

5 dicas para quem tem filho (a) que faz cocô na fralda

A psicóloga Jaqueline da Silva Sousa deixou cinco orientações do que as famílias devem fazer ou precisam evitar para ajudar a criança que utiliza a fralda apenas para fazer cocô:

  • Propiciar que a criança brinque bastante, corra se desenvolva no tocante ao tônus muscular e coordenação motora;
  • Evitar frases como: “Você se molhou todo (a), que feio!”, “Já falei para você não se sujar!”, “Nossa, que cocô fedido!”;
  • Não apressar, não brigar, não castigar;
  • Deixar sempre o penico ao alcance da criança, de preferência no banheiro, para que ela vá associando o local de uso;
  • Valorizar as pequenas conquistas.

Fontes:
Psicóloga Nanda Perim: @psimamaa
Psicóloga Jaqueline da Silva Sousa: CRP 06/127537


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