Ter uma agenda organizada, todos sabem, é essencial para garantir nossa produtividade, evitar estresse e, assim, ter um ritmo de vida saudável. Isso também vale para as crianças. Pediatras e educadores clamam que pais planejem, desde bebês, uma rotina para os pequenos – com horários para mamar, brincar, comer e dormir – e assim, eles se acostumem com o fluxo de atividades  e responsabilidades diárias, quando maiores. Além disso, a criança teme o desconhecido e pode ficar ansiosa sem saber o que está por vir, defendem os especialistas.

Na idade escolar essa necessidade se torna ainda mais importante. Afinal, trata-se de um ambiente onde há novidades diárias, onde os pequenos aprendem e descobrem tanto e são expostos a tantas dúvidas e inquietações que ter uma agenda previsível e sem lugar para tantas surpresas elimina um pouco desse “stress”. 

“É fundamental para a criança ter uma rotina estabelecida na escola. Ela precisa desse limite, desse contorno, uma borda até onde pode chegar. Mas isso não pode ser feito de forma rígida e sisuda. A escola precisa criar um aprendizado que seja lúdico e divertido, que desperte o interesse e não seja pesado e maçante”, diz a psicanalista e membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, Patrícia Fraia.

 

Tudo começa em casa

Como tudo em educação, a palavra de chave é consistência e parceria entre pais escola. De nada adianta ter uma rotina na escola e chegar em casa e não ter nada planejado. Ter horários em casa e compartilhá-los com a criança dá segurança e consistência a ela, mostrando que está tudo sob controle. Também a ensina a gerir o tempo, eleger prioridades e saber que há um balanço entre o prazer e o necessário, entre as obrigações e responsabilidades e atividades em família, como passear de bicicleta, ir ao parque, uma noite de cinema, desenhar, etc. Por fim, no caso dos pequenininhos, a rotina em casa também prepara-os para adaptar-se ao dia a dia da escola, quando for a hora de deixar os cuidados dos pais.

Um jeito de começar é elencando com a criança tudo o que deve ser feito e colocando horários para isso. Para os menores, um relógio com desenhos já é o suficiente. Para os maiores, um calendário na geladeira com as atividades da semana pode ajudar bastante. No entanto, não há um modelo único para isso e cada família deve criar a sua forma de planejar o dia, levando em conta, sempre, a idade e a personalidade de cada criança. 

Algumas atividades que podem estar incluídas na rotina são:

– Preparar-se para a escola (café da manhã, trocar de roupa, escovar dentes, arrumar a mochila, etc)

– Refeições

– Lição de casa ou leitura

– Banho

– Hora de dormir – que pode incluir, por exemplo, leitura de 10 minutos de um livro antes, na cama

– Atividades extras – como ballet, judô, natação

– Brincadeiras

– Hora de relaxar (pode ser ver tv, descansar, ouvir música)

– Momentos em família


Quadro de rotina: uma valiosa ferramenta da disciplina positiva


Vale lembrar, no entanto, que enquanto a rotina é extremamente importante para o desenvolvimento da criança, o tempo livre também tem fundamental papel na construção dela– é isso que vai dar a ela a capacidade de lidar com o tédio, ser criativo, tomar iniciativas próprias, ser autônomo, etc. 

Ensinar que muitas vezes o planejado não acontece como previsto também ensina frustração, resiliência e flexibilidade diante de mudanças e contratempos. “Se tudo é muito planejado em casa, quando a criança tem tempo livre, ela não sabe o que fazer e fica perdida. Por isso é importante muito jogo de cintura dos cuidadores, estabelecer uma rotina mas sem tanta rigidez e deixar um tempo para ela fazer o que quiser. A criança precisa ter tempo para brincar, criar, fantasiar e sonhar. Isso é fundamental para o desenvolvimento infantil” afirma Patricia.

 

A hora de “não fazer nada”

Esse tempo de “inatividade”, tão mal visto mas igualmente valioso, deve ser praticado na escola – mas principalmente dentro de casa, onde não há a pressão da grade curricular. Aí é que entra o papel dos pais em manter a rotina dos filhos consistente e organizada mas, principalmente, de reservar tempo para “fazer nada”. 

Afinal, é justamente nessa aparente falta de atividade ou mesmo “tédio” que a criança vai aprender a tomar iniciativa, inventar o que fazer, exercer sua criatividade ou apenas pensar em sua vida, refletir e sonhar. Para Patrícia, “é importante ter rotina quando chega da escola também. Mas não precisa ser rígida ou atribulada. Chegar da escola, tomar um banho, descansar, conversar, tomar um lanche – isso já cria uma rotina. Ter espaço na agenda para brincar e criar é fundamental. A criança que tem uma rotina muito rígida com milhões de atividades – e quando ela não tem, ela não sabe o que fazer – é prejudicial. Perde-se a espontaneidade e a capacidade de criar. A criança adoece psiquicamente quando perde a capacidade de criar e sonhar”, pontua.

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