Já são quase três meses que muitas famílias estão em casa, cumprindo o isolamento social, na tentativa de conter o avanço do novo coronavírus pelo Brasil. Desde, então, as crianças estão sem aulas presenciais e inúmeros pais e mães seguem realizando home office. Apesar dos desafios impostos com a nova rotina devido à pandemia, há pais e mães que estão vivenciando a quarentena como uma oportunidade de exercer a parentalidade consciente. 

Com o atual cenário, os sentimentos de insegurança, ansiedade e medo são bastante comuns nos adultos, e com os pequenos não é diferente. Quem tem criança já sabe que as famosas “birras” são bem comuns, principalmente quando o ambiente familiar não está dos melhores.  

Entretanto, alguns pais e mães, que imaginavam que os dias poderiam ser bem difíceis com a oscilação de humor dos baixinhos, estão surpresos com o comportamento das crianças durante a quarentena. De repente, as crises de choro, as brigas e os desentendimentos passaram a ser menos corriqueiros. 

Mas, será mesmo que foi como em um passo de mágica que os comportamentos desafiadores ficaram menos frequentes? O fato é que os pais e mães que já eram adeptos da parentalidade positiva encontraram agora, durante o isolamento, uma possibilidade de praticar uma comunicação mais efetiva com os filhos, o que consequentemente leva uma maior harmonia no lar.

“Acho também que muitos pais não conheciam os filhos que tinham e agora estão tendo o momento de aprender com eles, de conhecer esses filhos”, afirma Aline Basso, que é certificada em disciplina positiva e consultora em encorajamento.

Antes da pandemia, Aline afirma que muitos pais e mães passavam pouco tempo com os filhos (as) devido aos compromissos profissionais. “Vamos imaginar um empreendedor, que vai para seu negócio das 6h às 7h30, depois volta para cuidar desse trabalho na hora em que o estabelecimento está fechado, das 18h às 22h, por exemplo. Como esperar que esse negócio prospere?”, reflete.

Com tantas demandas da correria do dia a dia, Aline ressalta que era pouco o tempo dedicado à educação das crianças, dentro de casa. “O pai e a mãe que precisam pagar conta, que tem outras responsabilidades, mas acaba convivendo com o filho durante duas horas de manhã e mais duas horas à noite, o que ele conhece desse filho?”, indaga. 

Agora, com pais e filhos convivendo em tempo integral, a profissional acredita que tem sido uma oportunidade de conhecer e aprender com o outro. “Muitas vezes é difícil, mas essa convivência deve ser respeitosa e harmoniosa. E isso é possível, com técnicas, com ferramentas”, pontua. E é exatamente nesse contexto que entra a parentalidade consciente. 


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“Foi uma transformação muito positiva na minha família”, afirma aromaterapeuta

A rotina na casa da aromaterapeuta Eugênia Alliz Serra de Queiroz, 42 anos, sempre foi agitada e com muitos compromissos, como na maioria das famílias. Todos os dias, Eugênia administrava a casa, o trabalho, a vida escolar das crianças e os compromissos com as atividades extras, como natação e capoeira. Antes, os filhos passavam mais tempo fora do que dentro da residência da família.

“Tivemos que incluir as crianças na vida da casa. Antes era tanta atividade fora, como escola, natação e capoeira, porém agora estão dentro de casa. No começo bem desafiador, principalmente com as tarefas da escola. Mas agora o comportamento deles ficou mais tranquilo”, conta Eugênia.

Segundo a aromaterapeuta, desde pequena a filha tem comportamentos desafiadores. Por isso, há cerca de três anos ela passou a estudar e praticar a parentalidade consciente. Porém, ela afirma que apenas agora, durante a quarentena, que ela e o marido estão conseguindo colocar em prática as ferramentas da disciplina positiva.

“Tenho tentado colocar tantas coisas em prática há tanto tempo, e agora na quarentena que eu consegui fazer funcionar de verdade, aliar rotina com reunião em família. Assim, as coisas foram acontecendo naturalmente”, conta.

As crianças passaram a fazer parte de atividades diárias para o bom funcionamento do lar, como arrumar a cama e limpar a casa. “Foi uma transformação muito positiva na minha família. Estamos usando muita comunicação não violenta, aromaterapia e disciplina positiva. Estamos conseguindo colocar em prática rotina com limites, como horário para tablet, café da manhã e almoço em família”, ressalta.

Situações desafiadoras ainda existem, mas passaram a ser superadas de maneira mais tranquila. “O comportamento deles ficou muito mais tranquilo, parece que eles tomaram essa consciência. Estamos com comportamento mais acolhedor, há mais escuta, mais conversa, a relação ficou mais íntima agora. Estamos aprendendo a respeitar o momento do outro”, exemplifica. 

 

Como colocar a parentalidade consciente em prática?

De acordo com Aline Basso, que é certificada em disciplina positiva e consultora em encorajamento, o primeiro passo é buscar o autoconhecimento. “Antes de mais nada, é preciso que a gente olhe para gente. Que momento a gente se encontra? Como a gente está de consciência?”, indaga.

A profissional afirma que os filhos são reflexos do comportamento dos pais. Por isso, presença é fundamental. “Em tempos de quarentena, existe uma grande oportunidade para olharmos para aquilo que não estamos gostando que as crianças estão fazendo e fazer uma pausa. Reflita de que forma você incentiva esse comportamento e como você pode influenciar de outra maneira. Busque transformar o desafio em algo que seja um aprendizado. Um primeiro passo sempre começa pela presença e pelo autoconhecimento”, orienta.

E, segundo a profissional, a mudança no comportamento é uma responsabilidade que o adulto precisa assumir. Sendo assim, Aline indica implantar o método 3 C’s: conectar e comunicar para encorajar, desenvolvida pela própria profissional.

“Primeiro você se conecta com o outro. Depois você ajusta sua comunicação, usa uma comunicação assertiva e afetiva. Vale muito a pena testar técnicas de comunicação não violenta, escuta empática, se colocar no lugar do outro, não julgar os comportamentos e as decisões. Então, identifique os próprios sentimentos e os sentimentos da criança. Após identificar os sentimentos, fazer a conexão e ajustar a comunicação, eu consigo criar um clima de mais cooperação”, explica.

Outra dica é buscar se conectar com a criança antes de corrigir o comportamento dela. “Tente entrar no mundo da criança, se conecte com ela, fale frases que encorajem essa criança, que demonstre o quanto você se importa com ela, o quanto ela é importante, o quanto ela é amada. Abrace, olhe no olho”, explica.

Também é recomendado dar tarefas para a criança e, depois, reconhecer o bom trabalho que ela fez. “A partir daí, ela tem a intenção natural de nos ajudar, de cooperar, de nos ouvir, de estabelecer uma relação saudável com a gente”, completa.

 


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